Cada vez mais pessoas estão a abraçar as coberturas verdes uma vez que são excelentes para a biodiversidade e também para melhorar a estética dos ambientes urbanos.
Este título de ampla abrangência poderá ser confundido com telhados ecossustentáveis e aqui também se incluem os painéis solares, captação das águas pluviais ou outras estruturas ecológicas implementadas.
A qualidade de vida nas áreas urbanas tem vindo a decrescer; muito se deve à redução da biodiversidade e aumento da poluição atmosférica, bem como ao aumento da temperatura no verão.
Plantar em telhados, terraços e paredes é uma das inovações que se está a desenvolver rapidamente no mundo da agronomia, arquitetura e engenharia. Inovar na construção, renovação, manutenção e na gestão leva-nos a um caminho de maior eficiência e dinâmica na biodiversidade urbana.
A impermeabilização acentuada dos solos e espaços verdes deficitários conduz à falta de corredores verdes e redução de seres vivos. As coberturas verdes vêm trazer imensas vantagens em meio urbano.
Existem vários edifícios em todo o mundo, como a Academia das Ciências da Califórnia; em Nova Iorque o telhado verde do Rockefeller Center’s Roof Top Gardens (instalado há 80 anos), Fundação Calouste Gulbenkian em Lisboa, ETAR em Alcântara, etc.
ETAR de Alcântara
Prémio Valmor 2013
Obra de ampliação e nova cobertura.
Projecto de Arquitetura: Frederico Valsassina, Manuel Aires Mateus e João Ferreira Nunes (Proap).
Promotor: SimTejo.
Área: Cerca de 2 ha
Quem nunca ouviu falar dos jardins da Babilónia dos séculos VII e VIII a.C.? A ideia é antiga, mas o assunto está em voga e é muito atual, a grande diferença é o modo de construção e os materiais empregues. Nos anos 20, também houve um crescente interesse nesta temática, havendo um desenvolvimento e aparecimento de edifícios com coberturas verdes.
É sem dúvida na Alemanha que o desenvolvimento desta temática é impulsionado. O telhado verde, as placas fotovoltaicas, o reaproveitamento de águas pluviais são detalhes que devem ser abordados no plano de projeto. Estes aspetos vão permitir melhorar a sustentabilidade dos edifícios, aumentar a sua longevidade e recompensar o ambiente.
O custo e condições
O custo de implantação inicial é elevado, sendo maior (geralmente o dobro) do que telhados convencionais ou lajes impermeabilizadas.
Pensando de uma forma desatenta, não parece benéfico – a vantagem surge se considerarmos o ciclo de vida completo da estrutura, a sua duração é em média o dobro do tempo das coberturas convencionais.
Apesar de as coberturas tradicionais não necessitarem de manutenção específica e periódica como os telhados verdes, dificilmente passarão os 20 anos sem uma intervenção de manutenção, restauro ou substituição.
Os telhados verdes têm a vantagem de proteger a laje, que não fica exposta à insolação direta e oscilações de temperatura.
Outra questão frequentemente posta é a do suporte do peso do jardim no topo do edifício e as infiltrações, pois não passam de mitos urbanos uma vez que a infiltração passa pela construção e impermeabilização adequadas que, com ou sem jardim, devem existir. Quanto ao peso, é uma falsa questão, pois os edifícios têm como base o suporte das suas estruturas superiores; sejam elas parques de estacionamento, zonas residenciais e comerciais, bares-terraços ou piscinas.
Telhado verde
Vantagens
- Diminui a poluição e melhora a qualidade do ar das cidades. As plantas absorvem substâncias tóxicas e dióxido de carbono e liberam oxigénio na atmosfera;
- Atrai pássaros, abelhas, borboletas, etc., ou seja, cria e preserva habitats aumentando a biodiversidade;
- Produção de hortas e implementação de árvores de fruto, fonte de alimento;
- Melhoria estética dos edifícios e da cidade;
- Ajuda a combater o efeito de ilhas de calor nas grandes cidades, baixando a temperatura;
- Melhora o isolamento térmico dos edifícios, protege o interior contra as temperaturas elevadas do verão e ajuda a manter a temperatura no inverno, levando a uma diminuição de consumo energético em equipamentos de ar condicionado;
- Melhora o isolamento acústico da edificação. A vegetação absorve e isola ruídos;
- Maior retenção da água das chuvas, controlando e evitando cheias devido à impermeabilização dos solos.
Desvantagens
- O investimento financeiro inicial pode ser elevado;
- Restrições da estrutura do edifício podem limitar ou inviabilizar o projecto;
- Necessita de manutenção (mais ou menos dependendo do tipo de construção e vegetação) para manter sua estrutura saudável e com aspeto visual agradável;
- Necessita de mão-de-obra especializada para instalação, bem como fácil acesso ao topo do edifício;
- Cuidados necessários com o vento e fogo.
Embora existam desvantagens, as vantagens para o meio ambiente envolvente, para a biodiversidade e bem-estar compensam largamente as desvantagens, sendo este o prato da balança que mais pesa.
Tipos de telhados verdes
Intensivo
Mais espesso e suporta uma maior variedade de plantas, podendo ter plantas com alturas consideráveis. É mais pesado e normalmente exige maior manutenção. A espessura mínima de instalação é de 20 cm. Os cálculos estruturais devem ser feitos com elevado rigor.
Extensivo
Mais fino e leve, com o máximo de 8 cm de espessura e coberto tipicamente com de forrageiras, gramíneas de sequeiro ou regadio
ou suculentas como os Sedum. Os prados floridos e plantas de cobertura de solo também poderão ser eleitos. A sua construção é mais económica.
Alguns exemplos de cidades com politicas de incentivo à construção de coberturas verdes:
França
2015 – Lei nacional – todos os edifícios novos localizados em zonas comerciais, devem incluir uma cobertura verde ou um painel solar.
Frankfurt; Eindhoven; Nijmegen
Política de incentivo baseada na atribuição de subsídios financeiros para a construção de coberturas verdes.
República Checa
Em 2017, as coberturas verdes foram incluídas num programa nacional de subsídios financeiros. A medida foi acompanhada do lançamento do primeiro Guia Técnico para Projeto, Instalação e Manutenção de coberturas verdes da República Checa.
Washington D.C.
A cidade de Washington D.C. possui desde 2007 uma política de incentivos financeiros para a implementação de coberturas verdes.
Sydney
No ano de 2014 a cidade de Sydney aprovou uma política de incentivo a coberturas verdes. O principal objetivo foi aumentar a consciência da importância dos espaços verdes nas áreas urbanas e promover a construção de coberturas verdes.
Avaliar e projetar é fundamental para que haja sucesso. Todos estes incentivos, inovações e aumento de espaços verdes trazem outras questões como a segurança e o controlo de incêndios que devem ser pensados e trabalhados para minimizar riscos e evitar problemas.
Também as zonas de ventos dominantes ou intensos deverão ser bem pensados de forma que sejam seguros; existem zonas ou edifícios que não são elegíveis para este tipo de construção.
O caso de Chicago
A cidade de Chicago possui uma área grande de telhados verdes, hoje a maior dos EUA. Em 1995 houve uma onda de calor que atingiu os 52 ºC vitimando 750 pessoas em cinco dias.
A implementação de telhados verdes favorece o arrefecimento da cidade e contribui, além da estética e todos os benefícios citados anteriormente, para o bem-estar da população em geral, bem como de todos os seres vivos que habitam o local.
Um telhado verde tradicional poderá ser construído utilizando um sistema pré-fabricado, com instalação especializada e garantia recorrendo sempre a um consultor.
Cuidados a ter aquando da construção de uma cobertura verde
As espécies a usar variam, consoante o local e o tipo de infraestruturas existente ou planeado. Procuram-se sempre usar plantas autóctones ou que se adaptem facilmente, de baixa manutenção e que tenham necessidades hídricas reduzidas.
A construção pode ser modular:
Bandejas ou sacos, que podem ser pré-plantados fora do local de construção, de rápida instalação e de fácil coordenação, tornam a reparação mais fácil pois podem ser substituídas por partes. Existem restrições na rega e os módulos são pesados.
Para construir um telhado verde sobre a base (lage), deverá existir uma membrana impermeabilizante, uma membrana anti-raiz, proteção mecânica, drenagem, filtro, substrato e, depois, a vegetação.
O material verde a eleger pode ser mantas vegetais, módulos pré-plantados, sementeira, plantação de estolhos, plantação por estacas ou plantas em vaso (pequenas).
Na instalação é sempre necessária rega, até que esteja estabelecido. Em manutenção, se se optar por um jardim não regado, o espectável é que se comporte conforme as estações do ano, no verão estará seco.
A rega gota a gota e a rega subterrânea são as mais usadas neste tipo de construção.
Na manutenção, contemplar a eliminação de infestantes, fertilização (deve ser de libertação controlada principalmente durante os primeiros dois a três anos), verificação sistema de rega e drenagem, remoção de material orgânico morto, limpeza de caleiras e filtros.
Na construção muitos fatores terão de ser tomados em linha de conta; desde as infraestruturas, acessibilidades, segurança, bem como pesos e cargas, a melhor inclinação, manutenção, clima local e ventos predominantes, tipo de plantas, saúde e segurança.
Leia mais sobre este tema em Associação Portuguesa de Coberturas Verdes
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