Passei doze dias a saltitar de jardim em jardim.
Comecei por Holland Park que já não visitava há bastante tempo. É bom ver como os ingleses desfrutam dos seus espaços verdes como se estivessem no paraíso; sem barreiras sociais; sem barreiras de idades; sem tabus; contemplando; lendo; fazendo piqueniques; escutando o zumbido das abelhas ou observando as corridinhas dos esquilos.
Deliciei-me ao constatar um facto que se foi repetindo ao longo de todos os outros jardins: as hortas em lugares de destaque. E surgiram-me várias perguntas: Será uma questão de moda, ou será que as pessoas se distanciaram de tal forma da Natureza que desconhecem completamente aquilo que comem? Como crescem as beringelas, quantas variedades de couves podemos cultivar num canteiro? Que forma têm as beterrabas? Qual a cor e a textura das acelgas, etc.?
No dia seguinte, domingo, em vez de ir visitar museus ou a exposição de Sebastião Salgado (como qualquer turista) e porque as plantas também são cultura, decidi ir visitar uns allotments. Lá para os lados de Chiswick, perto do Tamisa. Não tenho dúvidas de que os ingleses se sentem no paraíso, a julgar pela forma como tratam dos seus talhões em plena cidade. A ternura com que cuidam das suas ervilhas de cheiro, cujo perfume, tal como o das rosas que dividem os canteiros, torna ainda mais inebriantes os raros dias de sol desta ilha verdejante. Comi groselhas e framboesas suculentas; ervilhas doces e com casca; salsa frisada; rabanetes e alcachofras. Tudo biológico, longe dos fumos dos automóveis, em plena cidade de Londres, senti-me também eu, no paraíso.
Jardim botânico de Bristol
Na segunda-feira visitei o jardim botânico de Bristol que desconhecia e que recomendo. Um dos mais antigos do Reino Unido, em pleno campus universitário, com nenúfares gigantes da Amazónia; plantas carnívoras; uma enorme coleção de cactus; um recanto com plantas pré -históricas; muitas variedades de fetos, incluindo fetos arbóreos. Musgos, cicas, cavalinhas gigantes, num ambiente silencioso e húmido de onde a qualquer momento, poderia emergir um dinossauro. Conta ainda com uma boa coleção de plantas utilizadas na medicina tradicional chinesa no “Chinese Medicinal Herb Garden”.
E mais uma vez lá estavam as hortícolas em grandes canteiros, uma coleção de plantas andinas como a quinoa, o amaranto e umas quantas variedades de batatas.
Jardim Botânico de Oxford
No dia seguinte foi a vez do Jardim Botânico de Oxford, o primeiro de Inglaterra, e não Kew como muita gente crê. Aqui as plantas estão bem organizadas em famílias botânicas. O grande pinheiro onde se diz que Lewis Carol se terá inspirado para escrever os seus contos, é considerado o ex-libris do jardim e de facto impressiona pela sua magnitude.
Mais uma vez hortas em lugar de destaque e três belíssimas pradarias divididas por países: planícies americanas, África do sul e Mediterrâneo, numa exuberância de cor, perfume e textura que nos remetia mais uma vez ao paraíso.
Entretanto, visitei também o jardim da Anne McIntyre do qual falarei num próximo artigo.
Não podem de modo algum ficar de fora Kew Gardens nem o Chelsea “Physic Garden”, ambos com lugar de grande relevância para as hortícolas. Deleitei-me com uma grande exposição em Kew intitulada de Incredibles. Passei lá o dia, admirando, fotografando, anotando e escutando os comentários dos visitantes.
Por fim, o “Physic Garden” no coração de Chelsea. Aqui as plantas estão organizadas por patologias, já que este era o jardim-farmácia onde os estudantes de medicina vinham estudar.
Aqui de novo, hortas intercaladas com plantas medicinais a confirmar o velho ditado de que o alimento é o nosso melhor medicamento.
Gostou deste artigo?
Então leia a nossa Revista, subscreva o canal da Jardins no Youtube, e siga-nos no Facebook, Instagram e Pinterest.