Plantas

As minhocas na horta e no compostor

As minhocas são animais muito úteis. Remontando ao Antigo Egito, eram consideradas muito valiosas, sendo um dos fatores responsáveis pela fertilidade do vale do Nilo e sucesso da agricultura. O melhor solo tem intervenção das minhocas − dizia Aristóteles que “elas eram os intestinos do solo”.

A compostagem dos resíduos orgânicos é essencial numa horta sustentável. Além de fungos, bactérias, actinomicetes, as minhocas também intervém num estado mais avançado da compostagem e são essenciais para se ter um bom composto e um bom solo.

Uma terra sem minhocas é geralmente pobre e artificial; já dizia Charles Darwin que “as minhocas são as melhores amigas do Homem” e denominava-as de “arado da Natureza”, por terem a capacidade de levar matéria orgânica para várias profundidades do solo ao mesmo tempo que estão a arejar a terra.

Está na moda comprar minhocas para a compostagem, mas na maioria dos casos não é preciso; basta deslocarmo-nos a uma zona de terrenos férteis e ricos em matéria orgânica (prados, florestas e campos baldios de plantas silvestres) para facilmente encontrarmos minhocas.

Existem mais de 3000-6000 espécies de minhocas, mas as mais conhecidas na compostagem e na terra de hortas biológicas são:

Minhoca-vermelha-da-califórnia (espécies autóctones) ou minhoca-vermelha-híbrida (Eisenia fetida Eisenia andrei, que tiveram origem na Europa)

Quando adulta, podem medir 7 cm e 13 cm de comprimento, com um diâmetro de 1-5 mm. A cor é vermelha, com listras amareladas entre os anéis. Vivem na manta morta na parte superficial do solo e são muito importantes no processo de humificação por digerirem com grande voracidade a matéria orgânica, quase fresca.

Minhoca-rosa ou saltadora (Dendrodrilus rubidus)

Minhoca de cor avermelhada que pode ter 2-10 cm de comprimento. Gosta de viver na camada superficial do solo (até 10 cm) e alimenta-se de matéria orgânica como estrumes, restos de folhas e madeira semidecomposta.

Suporta bem solos ricos em metais pesados e contaminados com acidez elevada. Foram introduzidas em vários países para melhorar a produtividade agrícola e minimizar a degradação dos solos.

Minhoca-da-terra ou comum (Lumbricus terrestris)

Originária da Europa, é uma minhoca de cor avermelhada ou arroxeada e pode atingir 11-25 cm de comprimento e 7-10 mm de diâmetro. Suporta bem as inundações e é muito eficaz na troca de substâncias entre a superfície e o solo mais profundo devido aos seus túneis no sentido vertical. Escavam galerias de 8-11 mm de diâmetro e até dois metros de profundidade. São muito importantes na humificação e na estrutura do solo.

Minhoca-cinzenta (Aporrectodea caliginosa)

Minhoca que se localiza na zona superficial do solo (até 60 cm) e caracteriza-se pelas três zonas distintas com a cor “rosa-pálido”, ao longo do seu corpo e mede 6,5-8,5 cm de comprimento. Tem a capacidade de viver em solos com pouca matéria orgânica (1,4%) e menos húmidos. Muito comum em Portugal, em solos agrícolas que não estejam muito contaminados.

By Smithsonian Environmental Research Center – Aporrectodea caliginosa_March 18, 2010, CC BY 2.0, https://commons.wikimedia.org/w/index.php?curid=76841431

As minhocas são anelídeos, corpo cilíndrico, formado por anéis justapostos, alongado, com boca (minitromba) e ânus em extremidades opostas. É entre os anéis 32-37 que se situa uma formação chamada “clitelo”, onde se dá a formação dos ovos. O corpo é coberto por uma fina cutícula de quitina e produz muco que as torna viscosas. Podem ter 3-25 cm de comprimento e 3-5 mm de diâmetro, pesando 0,6-1 g. Vivem entre 2-16 anos. Têm cores entre o vermelho e cinzento e gostam de solos húmidos. Não têm olhos, mas distinguem a noite do dia e respondem aos raios de luz, ar seco e frio. Não têm dentes, são surdas, e o sentido de cheiro é fraco.

As suas características principais são:

Reprodução –São seres hermafroditas (cada indivíduo possui testículos e ovários) que se unem, existindo troca de esperma (fecundação cruzada); se as condições forem ótimas, as minhocas-vermelhas podem acasalar de sete em sete dias. A época de fecundação é definida pelo ambiente quente e húmido. Ambas as minhocas produzem “casulos” (1-3/semana) que podem conter vários ovos (2-20 por casulo), nascendo apenas alguns passados 20-90 dias, dependendo da temperatura do solo. Ao fim de 45-90 dias após o nascimento, já são sexualmente ativas, podendo cada minhoca-vermelha deixar 1500 descendentes num ano de vida.

Locomoção – São noturnas e movem-se rastejando para a frente e para trás. Escavam galerias empurrando a terra para os lados e engolindo-a.

Alimentação – A minhoca alimenta-se de vegetais decompostos e resíduos orgânicos, ingere uma quantidade de comida equivalente ao seu peso, rejeitando 60% em forma de húmus e aproveitando 40% para as suas necessidades diárias. Quando chega ao estômago, umas glândulas especiais libertam carbonato de cálcio para neutralizar os ácidos dos alimentos ingeridos. Humedecem os alimentos antes de engolir e podem comer minhocas mortas, expelindo os dejetos para fora das galerias que junto com as secreções intestinais vão favorecer o crescimento das plantas.

Respiração – Pela pele húmida recolhem O2 e libertam CO2. Possuem cinco pares de corações laterais, bombeiam o sangue que por sua vez circula pelo corpo e faz as trocas gasosas.

Habitat – Gosta de terrenos húmidos (10-45%), ricos em matéria orgânica, porosos e ligeiramente argilosos e com pH entre os 4,0-8,0. A temperatura ambiente deve estar entre 10-25 ºC; a temperatura de 0 ºC, as minhocas ficam dormentes sem ação.

As minhocas são importantes na horta por:

Arejamento do solo (drenagem) e revolvimento – Para entrada de ar e de água. As minhocas podem escavar a profundidades de 180 cm, mas geralmente vivem entre os 15-75 cm de profundidade, dependendo do tipo de solo. Segundo investigações de Charles Darwin, a quantidade de terra que a minhoca ingere pode chegar a 15 toneladas por 4000m2/anualmente. Misturam 40-100 toneladas de terra/ha/ano; são como um arado na terra, arejando e misturando o solo. Existem espécies que, além de escavar, trazem materiais do subsolo para a superfície.

Dejetos de minhoca – Os materiais orgânicos são mineralizados, disponibilizando os nutrientes no formato químico compatível com a absorção pelas raízes das plantas (ex.: nitratos, fosfatos, sulfatos e catiões de potássio, ferro, etc.). O húmus produzido pelas minhocas é em média 70% mais rico em nutrientes do que os húmus convencionais; cada minhoca produz diariamente uma quantidade de húmus igual ou equivalente a metade do peso do seu corpo; 2000 minhocas conseguem produzir 24 kg num ano e estima-se que, num solo fértil, podem deixar 9-80 toneladas de excrementos/ha.

Riqueza do húmus de minhoca (dejeções):

  • Produzem dejeções 5-7 vezes mais ricas em N − contêm 1,5-3,0% na sua composição.
  • 7 vezes mais ricas em P − contêm 2,5 a 5,0% na sua composição.
  • 11 vezes mais ricas em K − contêm 0,6-1,5% na sua composição.
  • 2-6 vezes mais ricas em Mg e 2 em Ca permutáveis.
  • 50% de humidade.
  • Ricas em flora bacteriana (100%) − 2 bilhões de colónias de bactérias vivas/g de húmus e enzimas.
  • pH de 7, corrigem a acidez do solo.
  • Além de enriquecerem o solo, as minhocas também eliminam patógenos, que fazem mal as plantas, e não transmitem doenças.

A presença de minhocas no solo da horta e na terra leva a um aumento significativo no rendimento das culturas (20-25%). Na sua ausência, as consequências seriam catastróficas não só para agricultura mas também para o planeta.

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