Jardins & Viagens

Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal

Conheça esta associação que faz voluntariado em prol da Natureza.

Parque Ecológico do Funchal

 

Em 1994, a Câmara Municipal do Funchal criou o Parque Ecológico na zona montanhosa sobranceira à cidade. A vasta propriedade concelhia, com uma área de cerca de 1000 hectares, tinha estado durante muito tempo sujeita a um intenso pastoreio na parte mais alta e à expansão descontrolada de eucaliptos e acácias nas terras mais baixas.

Em 1995, foram retiradas 1300 ovelhas e cabras e, em 1996, começou um programa de reflorestação com os seguintes objetivos: recuperar as formações vegetais primitivas; minimizar as condições de propagação de fogos; reduzir a erosão e diminuir os efeitos catastróficos das cheias; aumentar a infiltração das águas e reforçar as nascentes.

 

Origens da associação

A 11 de julho de 1996, um grupo de 11 pessoas deu corpo à Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal (AAPEF), com o objetivo de mobilizar voluntários para os trabalhos de recuperação da biodiversidade primitiva. O pequeno núcleo inicial foi crescendo e hoje a associação conta com mais de 400 sócios.

 

Pico do Areeiro, oásis num deserto de montanha

Em outubro de 2001, já com uma equipa bem preparada, a AAPEF concentrou a sua atividade na área mais alta do parque, no Pico do Areeiro, entre os 1700 e os 1800 metros de altitude. O risco de insucesso era grande, mas maior era o desafio de criar um oásis num deserto de montanha.

Ali a autorregeneração era praticamente impossível porque todo o coberto vegetal tinha desaparecido e nalguns espaços já nem solo havia. Onde a rocha madre aflorava, só com a criação dum novo solo em cada caldeira seria possível instalar as plantas pioneiras para uma nova sucessão biológica.

Desde então os voluntários da AAPEF trabalham na plantação e manutenção de espécies adequadas às características daquele ecossistema. De outubro a março, decorre o período de plantação. Entre abril e setembro, são executados trabalhos de manutenção e regas. Para que as plantas aproveitem da melhor maneira a água e sejam menos afetadas pelas variações de temperatura, as caldeiras são cobertas com uma camada de estilha. Só assim é possível garantir o sucesso da plantação num ambiente particularmente difícil.

Uma área que estava completamente desertificada começou a ostentar as cores da biodiversidade. A floração de três arbustos endémicos da Madeira – piorno (Teline maderensis), massaroco (Echium candicans) e estreleira (Argyranthemum pinnatifidum subsp. pinnatifidum) – constituiu a primeira vitória na longa batalha pela redução do deserto pedregoso.

Loureiros (Laurus novocanariensis), cedros-da-madeira (Juniperus cedrus subsp. maderensis), urzes-molares (Erica arborea), urzes-da-madeira (Erica maderensis) e uveiras-da-serra (Vaccinium padifolium) cresceram saudavelmente, o que confirmava a justeza da sua seleção como espécies adequadas ao ambiente climático da alta montanha, caracterizado por expressivas amplitudes térmicas diurnas e anuais, períodos de ventos fortes, formação de geadas, precipitação de neve e granizo, grande variação da humidade na atmosfera e no solo entre o inverno e o verão.

Também começaram a surgir, sem intervenção humana, flores de herbáceas endémicas – armérias-da-madeira (Armeria maderensis), violetas-da-madeira (Viola paradoxa), leitugas (Tolpis macrorhiza) – e indígenas, com destaque para a enorme população de andríalas (Andryala varia). Mas nem só as plantas estavam regressando. Durante a primavera e o verão, tornou-se belíssimo o espetáculo das borboletas – maravilha (Colias crocea), acobreada-da-madeira (Lycaena phlaeas phlaeoides), azulinha (Lampides boeticus), sátiro-da-madeira (Hipparchia maderensis).

Aproveitando os esconderijos criados pela nova vegetação, os casais de corre-caminhos (Anthus berthelotti madeirensisis) e de melros pretos (Turdus merula cabrerae) começaram a nidificar.

 

Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha

Em outubro de 2005, a AAPEF comprou a Rui Silva o Montado do Cabeço da Lenha, um terreno com 5,3 hectares, localizado entre os 1500 e os 1550 metros de altitude, com o objetivo de criar um Campo de Educação Ambiental. A casa foi recuperada e transformada em centro de informação. Foram erradicadas espécies infestantes (Eucalyptus globulus, Ulex europeus, Cytisus scoparius, Cistus monspeliensis) e introduzidas plantas de cerca de 30 espécies endémicas e indígenas.

 

 

O incêndio florestal …

Quando estas áreas já estavam a funcionar como bancos genéticos e focos difusores das plantas endémicas e indígenas, o fogo, ateado por mãos criminosas, a 12 de agosto de 2010, numa mata de eucaliptos e acácias localizada a cerca de 1000 metros de altitude, e impelido por rajadas de vento superiores a 100 km/hora, destruiu, nos dias 13 e 14, aproximadamente 90% da vegetação plantada pelos voluntários da AAPEF. Nem a casa escapou.

Apesar do fortíssimo revés, a AAPEF estava determinada em colaborar com a Natureza, ajudando-a a recuperar a biodiversidade na área próxima do topo do Pico do Areeiro (3 ha), no Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha (5,3 ha) e na Achada Grande (3 ha).

“Renascer das Cinzas” foi a denominação atribuída ao projeto de reflorestação dos três núcleos.

 

Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha (agosto 2010)

Campo de Educação Ambiental do Cabeço da Lenha (agosto 2010)

 

… e o renascer das cinzas

Em agosto de 2010, o fumo ainda maculava a atmosfera silenciosa das serras do Areeiro quando dezenas de voluntários da AAPEF iniciaram o duríssimo trabalho de corte dos esqueletos calcinados de milhares e milhares de árvores e arbustos. Foram horas, dias, semanas, meses de profunda tristeza. Quando o cansaço se misturava com as cinzas, o desalento crescia e a ameaça da desistência pairava. A esperança de voltar a ver flores foi mais forte!

Após o incêndio de agosto de 2010 e até à atualidade, exclusivamente com trabalho voluntário e propositadamente sem recurso a subsídios governamentais ou a verbas comunitárias, a AAPEF tem vindo a recuperar a biodiversidade primitiva nas três áreas localizadas no maciço montanhoso do Pico do Areeiro, entre os 1500 e os 1800 metros de altitude.

O reaparecimento da formação vegetal de altitude é fundamental para aprisionar os blocos de basalto, reduzir os riscos das cheias, aumentar significativamente a precipitação de contacto e alimentar as nascentes.

 

 

Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra – Eva e Américo Durão

O Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra – Eva e Américo Durão possui uma área de 8,7 ha e localiza-se no sítio das Casas Próximas, freguesia de Santo António da Serra, concelho de Santa Cruz, entre os 600 e os 700 metros de altitude.

O prédio rústico foi doado à Associação dos Amigos do Parque Ecológico do Funchal por Eva de Freitas Durão, a 9 de abril de 2019, com o objetivo de ser criada uma unidade de paisagem vocacionada para a conservação da Natureza e promoção de ações de educação ambiental.

Esta mata ajardinada, predominantemente povoada por árvores da Laurissilva da Madeira, possui plantas dos quatro cantos do mundo, guarda uma interessante variedade de cogumelos, tem grande diversidade de insetos, oferece refúgio a aves nativas e visitantes.

Cuidar e enriquecer este espaço, proporcionando prazer no contacto com a Natureza e incutindo saber a netos e avós, é a melhor forma de honrar a memória da doadora e do seu marido, o médico Américo Durão.

 

Descubra a Laurissilva, a floresta da Madeira.

 

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