Entrevistas

Bordallo Pinheiro

Coleção Cloudy Burteflies da Bordallo pinheiro

 

Há mais de 100 anos a unir arte e Natureza

 

A Bordallo Pinheiro celebra este mês o seu 140.º aniversário. Falámos com a diretora da fábrica, Nádia Rodrigues, para desvendar a inspiração por trás das peças irreverentes e refletir sobre o percurso desta marca tão acarinhada pelos portugueses. Não deixamos de prestar homenagem ao seu fundador, Raphael Bordallo Pinheiro, um artista versátil de criatividade e humor singulares que se tornou uma figura marcante da cultura portuguesa.

 

A marca Bordallo Pinheiro tem uma identidade muito própria. Que características fundamentais diria que não podem faltar a nenhuma peça com assinatura Bordallo?

Naturalismo, o relevo e cores fortes e vibrantes. Além disso, a manualidade e a tradição! São peças únicas, não existem duas iguais.

 

 

Tendo uma obra muito ligada à crítica social da época, Bordallo Pinheiro criou, ao mesmo tempo, inúmeras peças inspiradas na Natureza. Como se relacionam estes dois polos, sociedade e Natureza?

Estão sempre ligados, mesmo que de forma indireta. Raphael Bordallo Pinheiro pretendia que as suas peças fossem o espelho da realidade, conseguindo através das mesmas a materialização da sua visão do mundo. E isto enquadra-se na esfera da crítica social – uma vez que era um defensor da liberdade de expressão, utilizando o humor como uma estratégia na busca de uma sociedade mais justa – e na Natureza, com a forma incrível como ele apreciava e valorizava a mesma através da aproximação dos produtos com a realidade e com elevada qualidade técnica.

 

Leia também:

Inovar com a cortiça Sofalca

 

Levar a Natureza para dentro de casa, mesmo que num material não vivo, aproxima-nos dela?

Na minha opinião, sim, e permite-nos valorizá-la e apreciá-la ainda mais, principalmente pelos detalhes que tentamos transpor nas peças que produzimos. São pormenores que no dia a dia podem passar despercebidos, mas que ficam perpetuados nas nossas peças. O maior elogio que nos podem fazer é ‘confundi-las’ com a realidade.

 

 

Quais são as peças mais acarinhadas pelas pessoas?

A Couve continua a ser de forma genérica a nossa coleção mais vendida e, por essa razão, acredito que seja a mais acarinhada e a mais icónica da marca. No entanto, existem outras coleções que percebemos que têm ocupado um lugar especial, algumas mais antigas, outras mais recentes, nomeadamente: Tomate; Primavera; Banana da Madeira, Maria Flor, Cloudy Butterflies e Frutos Tropicais.

 

O que é mais importante no design de produto, a função, a forma ou a mensagem?

Tudo. A conjugação destes pontos é essencial para que um produto tenha sucesso. Não vale a pena focarmo-nos no design e na forma de um produto se depois falharmos na sua função, e o mesmo funciona ao contrário. A mensagem e a história por detrás desse produto podem fazer toda a diferença na perceção do cliente.

 

 

O fabrico continua a ser maioritariamente manual? Porquê?

Sim, e acreditamos que não há outra forma de o fazer. O fabrico manual traz tudo aquilo que achamos importante nas nossas peças: a unicidade, a arte, o pormenor e a paixão de quem as faz. E isto, ainda não há nenhuma máquina que consiga fazê-lo.

 

Em 2009, a fábrica esteve em risco de encerrar portas. Desde então, reinventaram-se e cresceram. O que mudou?

A reformulação da estratégia e aposta na marca. A Bordallo Pinheiro passou uma fase em que produzia para outras marcas e clientes de forma pouco controlada, criando alguma confusão no mercado. Quando o Grupo Visabeira adquiriu a marca, sabia do grande potencial que existia – espólio de produtos, know-how técnico e pessoas – e potenciou isso da melhor forma possível, redefinindo a gama de produtos, apostando em novos canais de comunicação e desenvolvendo parcerias estratégicas.

 

 

Como se consegue trazer para a atualidade uma marca tão singular, sem pôr em causa a sua identidade?

O respeito pelo legado de Raphael Bordallo Pinheiro é um dos nossos pilares. É um trabalho contínuo e criativo na busca de coleções novas e contemporâneas mantendo o nosso cunho naturalista. A questão presente no desenvolvimento de novas peças e coleções é ‘Se Raphael Bordallo Pinheiro fosse vivo, o que é que ele faria?’. E honestamente acho que temos conseguido fazê-lo.

 

A obra tem raízes profundas na cultura portuguesa e, ainda assim, ganha cada vez mais fãs no estrangeiro. Qual pensa ser o fator transversal que permite que outras comunidades se revejam?

As nossas peças são irreverentes, divertidas e ao mesmo tempo tradicionais. Na minha opinião, a originalidade das nossas peças faz com que haja cada vez mais procura em diversos mercados, mesmo naqueles em que à partida seria mais difícil. Já vimos as nossas peças aplicadas pelos nossos clientes nos mais diversos contextos e é essa versatilidade que é vencedora.

 

A celebrar 140 anos, mas de olhos postos no futuro, quais são os objetivos?

Tornar-nos uma Love Brand, continuar a surpreender os nossos clientes e fazer com que criem conexão emocional com a marca. Foco no desenvolvimento contínuo de coleções diferentes e inovadoras coerentes com o nosso ADN. Crescer em mais mercados e reforçar a ligação à arte contemporânea. No fundo, queremos que as pessoas se apaixonem pelo que fazemos, tal como o sentimos ao materializá-lo!

 

Leia também:

Chelsea Fuss: O potencial das flores silvestres

 

Gostou deste artigo? Veja este e outros artigos na nossa Revista, no canal da Jardins no Youtube ou nas redes sociais FacebookInstagram e Pinterest.

Poderá Também Gostar