Revista Jardins

Combata a traça-do-buxo

Cancro do buxo

Saiba tudo sobre esta praga que está a atacar o buxo por todo o País.

A entomofauna (insetos) das plantas de buxo é composta por diversas espécies, assumindo algumas caracter nocivo, isto é, pelas suas características bioecológicas, podem ser entendidas enquanto pragas.

Uma destas espécies, a traça-do-buxo (Cydalima perspectalis), recente- mente descoberta em Portugal, é atualmente uma destas pragas.

A distribuição geográfica

Trata-se de uma lagarta, num estado imaturo da espécie, que é originária da Ásia, tendo sido introduzida acidentalmente na Alemanha, em 2006, vinda da China.

Esta praga, não tendo à época inimigos naturais, conseguiu concretizar uma rápida expansão invadindo a Europa Central, a Holanda, a França, a Itália, a Croácia, a Turquia e foi detetada em Espanha decorria o ano de 2014.

Em Portugal, esta espécie foi detetada inicialmente em Caminha, Vila Nova de Cerveira e Viana do Castelo, no distrito de Viana do Castelo, em 2016. Já no início de 2017, foi identificada em Santo Tirso e Ponte de Lima, tendo, em finais de 2018, sido detetada na zona de Sintra.

O ciclo de vida

O ciclo biológico desta espécie dura em média 45 dias. A emergência da 1ª geração ocorre em maio.

Após a cópula, cada fêmea poderá colocar cerca de 800 ovos (± 300) em posturas de até 20 ovos, de cor amarela-clara, agrupados na página inferior das folhas.

As pequenas larvas, com aproximadamente 1,5 mm e de coloração amarela-esverdeada e com a cabeça preta, eclodem passados dois a três dias, iniciando um processo de alimentação na página inferior das folhas dos buxos.

O desenvolvimento larvar dá-se em cinco a seis instares larvares (L5 ou L6), aumentando os danos provocados pela alimentação com a voracidade das larvas dos últimos instares.

Nesta fase, as larvas adquirem uma coloração mais intensa com corpo verde-amarelo e listas laterais negras, podendo medir até cerca de 40 mm.

Findo o desenvolvimento das larvas, estas entram num estado de pupação para efetuarem a respetiva metamorfose. As crisálidas, com aproximadamente 20 mm de comprimento, são primeiro verdes-claras e depois castanhas.

A emergência da 2ª geração dá-se em julho, ao passo que a emergência da 3ª geração se verifica em setembro, podendo potencialmente ocorrer uma 4ª geração em outubro.

O inverno é suportado pelas larvas, que passam por uma forma de hibernação, designada por diapausa, para, em seguida, retomarem a atividade em março/abril, dando origem à 1ª geração em maio.

Os sintomas

A identificação desta praga passa por uma cuidada interpretação de um quadro sintomatológico relativamente complexo.

Além da observação dos imagos (insetos adultos – traças), dos seus ovos e larvas, que são relativamente difíceis de ver numa fase inicial em virtude da dimensão das mesmas, é fundamental estar atento a outros sintomas e sinais.

A mudança de tonalidade das folhas dos buxos do típico tom de verde para castanho é geralmente o sintoma mais expressivo, evidenciando um forte contraste nas sebes.

Estes ataques verificam-se inicialmente no interior das sebes, mais concretamente na parte inferior junto ao solo e, com o avançar dos ataques, toda a sebe poderá adquirir esta tonalidade acastanhada.

Fruto da atividade e deslocação das larvas, são visíveis leves fios de seda esbranquiçados unindo algumas folhas que utilizam para realizar o processo de pupação, assim como inúmeras folhas com roeduras da alimentação das larvas, sendo também a presença de pequenos excrementos de coloração castanha-clara uma constante de tal ordem que muitas vezes ape- nas resta a nervura central das folhas, ficando os finos raminhos ou caules das plantas completamente expostos.

Os danos

Esta praga desfolhadora dizimou florestas naturais de buxo na Europa Central e simultaneamente destruiu estruturas de buxo de notáveis jardins centro-europeus, sendo os seus ataques tão severos que conduzem à morte das plantas.

Regra geral verifica-se uma enorme perda do valor ornamental desta espécie ornamental de crescimento lento e com elevado valor histórico, quer seja em plantas isoladas ou quer em sebe, através da ocorrência de desfolhas precoces.

Em termos fisiológicos há uma diminuição significativa da taxa fotossintética e consequente enfraquecimento generalizado das plantas, induzindo assim uma elevada taxa de mortalidade nestas estruturas vegetais.

O controlo

Tendo em conta a particularidade da utilização dos locais em que ocorre este hospedeiro, o buxo em contexto ornamental, a estratégia de controlo deverá assumir uma forte componente biológica, devendo-se ter o cuidado de incidir sobre as diversas fases de desenvolvimento da praga.

Dever-se-á ter especial atenção na monitorização do reinício da atividade larvar no período pós-hibernação, que ocorrerá durante o mês de março/abril.

Para o controlo dos insetos adultos, entre abril e novembro, poder-se-á recorrer à instalação de armadilhas com feromonas específicas.

O controlo das posturas, isto é, dos ovos, pode ser conseguido através da libertação de um pequeno inseto parasitoide oófago, uma vespa do género Trichogramma spp, cujas fêmeas parasitam os ovos da traça-do-buxo.

Para o controlo das lagartas, o recurso a pulverizações com o nemátodo entomopatógeno Steinernema spp. é uma opção, uma vez que ainda não se encontram inseticidas homologados para esta praga.

É importante referir que os programas de controlo deverão compreender uma metodologia ajustável ao longo do tempo e que prevejam a monitorização das populações de insetos.

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