Saiba qual o papel fundamental que a Associação Portuguesa de Produtores de Plantas e Flores Naturais tem na dinamização e apoio a este sector que tanto sofreu durante a pandemia de covid-19.
Conversámos com Victor Araújo, presidente da APPPFN, onde tem exercido funções de direção nos últimos 15 anos.
É também empresário na área da floricultura, sócio gerente na empresa Florineve Lda., que fundou, em 1997, juntamente com a mulher, Anabela Araújo. Entre 1990 e 1997, foi encarregado de uma empresa do ramo, onde adquiriu experiência e gosto pela produção de flores.
A APPPFN tem quantos associados? De que áreas de negócio e qual a representatividade nacional? Qual a área de produção que representam a nível nacional?
A APPPFN tem 200 associados, que representam cerca de 80 por cento da área de produção nacional.
Como se pode caracterizar o tipo de empresas/ produtores que representam em termos de dimensão e de produção?
Cerca de 30 por cento dos sócios são de flor e folhagem de corte e 70 por cento são dos subsectores das plantas (propagação, viveiristas, produtores de plantas ornamentais, fruteiras, florestais, aromáticas e relvas, etc.).
A produção de plantas e flores está uniformemente distribuída pelo País? Há regiões com maior implementação? Se sim, quais os tipos de produção mais emblemáticos de cada região?
As plantas ornamentais concentram-se mais a norte e sul do País, tendo a flor de corte mais expressão na zona do Montijo-Alcochete, onde existe a maior concentração de estufas do País – cerca de 200 hectares –, nas quais são produzidos diariamente mais de 500 mil pés de flores.
Qual o volume de negócios que representa este sector em Portugal? Uma vez que estamos a falar de produções e mercados diferentes, qual o volume de negócios das flores de corte e qual o da produção de plantas?
Em 2019, apresentou um volume de negócios de 602 milhões de euros. Devido à nomenclatura utilizada nas estatísticas, “Plantas vivas e produtos de floricultura”, não existem dados concretos sobre o peso de cada produção, contudo a associação estima que cerca de 60 por cento se refira ao mercado das plantas e 40 por cento ao das flores.
Neste sector, a exportação representa uma grande percentagem da faturação? Em qual dos tipos de produção é maior o valor de exportação?
O sector tem demonstrado dinamismo na conquista do mercado nacional e internacional, exemplo disso é o valor das exportações no último ano de 96 milhões, um aumento de 22 por cento face a 2018. A exportação apresenta maior impacto nas plantas ornamentais, cerca de 50 por cento, já na flor, estima-se que represente cerca de 20 por cento.
Qual o impacto económico e social provocado pela pandemia de covid-19 neste sector, uma vez que atingiu a época de maior produção e comercialização das flores de corte e das plantas?
O sector encontra-se muito fragilizado. Setenta por cento do volume de faturação concentra-se essencialmente no período de março a junho, dado que é neste espaço temporal que ocorrem as campanhas e comemorações com maior impacto económico como a Páscoa e o Dia da Mãe. Com a quebra abrupta do consumo, as empresas foram obrigadas a destruir grande parte da produção por falta de procura, tanto em Portugal como nos mercados de exportação. Estimamos que os prejuízos resultantes da crise covid-19, neste trimestre, devam rondar os 180 milhões de euros.
Face a esta situação, a associação encetou ao longo dos últimos três meses várias diligências no sentido de alertar a tutela para a situação drástica que vivem os produtores de plantas e flores.
Que medidas de apoio pediu a APPPFN à União Europeia para que o sector consiga sobrevier a esta crise?
A associação integra a ENA (European Nurserystock Association), que, em conjunto com nove associações europeias, emitiu um apelo à UE, com três pedidos específicos:
• Medidas de apoio extraordinárias urgentes e temporárias da UE especificamente para este sector;
• Reconhecimento pela UE de que as flores e plantas ornamentais são fundamentais para o bem-estar e qualidade de vida dos cidadãos, mitigação das alterações climáticas e proteção da biodiversidade;
• Investimento neste sector para o ajudar a sobreviver, para evitar efeitos irremediáveis e de longo prazo na atividade económica e no emprego.
Como é que vê o futuro deste sector tão importante para a sociedade portuguesa, quer em termos económicos quer em termos sociais, pela criação de emprego e pela ocupação de solos de forma produtiva em zonas muitas vezes deprimidas economicamente?
Num sector que lida com matéria viva perecível, esta crise irá ter repercussões económicas elevadíssimas nas empresas. Como vamos garantir os salários de milhares de colaboradores no sector agrícola, que mais mão de obra emprega (80 por cento corresponde a trabalho assalariado permanente) e como vamos manter as explorações sem recursos humanos e económicos? Acreditamos que o Ministério da Agricultura está atento e que serão tomadas rapidamente as medidas excecionais que o sector necessita, sob pena de ser tarde demais.
Quer deixar alguma mensagem ou apelo aos leitores da Jardins e relação a este sector, uma vez que são consumidores de plantas e de flores?
O apelo resume-se facilmente: não desistam de nós! Acreditem nesta força da Natureza. Acreditem nas nossas flores e plantas, que são muitas vezes a esperança que nos invade nos momentos mais difíceis, são o que proporciona sorrisos em momentos de conforto, são a calma de que precisamos quando tudo parece exaltado. As flores e as plantas são vida, são uma dádiva da Natureza, são uma beleza de voz silenciosa que nos preenche o coração de amor, o rosto com um sorriso e os olhos de emoção.
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