Muitas são as plantas referidas na poesia de Camões, neste caso foram identificadas algumas em alguns trechos de redondilhas e sonetos.
O tema deste artigo refere-se a um trabalho que me foi solicitado em 1973/74 pelo chefe da Divisão de Arborização e Jardinagem da CML, o engenheiro agrónomo José Pulido Garcia. O referido trabalho teve como principal finalidade a implantação do Jardim dos Lusíadas em Belém. Foi estudada a flora poética e a flora da ilha dos Amores incluída n’Os Lusíadas. Também, no atual jardim da Torre de Belém ficou registada a flora da lírica de Camões.
A bibliografia consultada para conhecimento das plantas referidas n’Os Lusíadas foi a Flora dos Lusíadas, do conde de Ficalho de 1880. Para a implantação do segundo jardim, a bibliografia foi um livro publicado em dezembro 1972 – a Lírica de Luís de Camões com prefácio e notas de Hernâni Cidade. Este artigo inclui somente a flora da lírica. As espécies referidas na obra pelo poeta foram plantadas junto a pedras de basalto, nas quais foram incrustadas placas de calcário, onde ficaram gravados alguns trechos adaptados às redondilhas, aos sonetos e às éclogas.
Este jardim ao longo do tempo foi alvo de sucessivas alterações, no entanto merece referir que a cidade de Lisboa, nos anos 70 do século passado, junto à Torre de Belém, de onde partiram as caravelas rumo ao descobrimento de novos mundos, novas terras, novos povos, já teve os jardins d’Os Lusíadas e o da Flora da Lírica.
Leia também:
Seleção de trechos de quatro redondilhas
Verdes são os campos,
De côr de limão:
Assim são os olhos
Do meu coração
O nome vulgar refere-se ao híbrido Citrus x limon (L.) Osbek.
Assim, depois que assentei
Que tudo o tempo gastava,
Da tristeza que tomei,
Nos salgueiros pendurei
Os órgãos com que cantava
Não sendo possível identificar a espécie, o nome vulgar salgueiros refere-se a Salix sp.
Verdes são as hortas
Com rosas e flores;
Moças que as regam
Matam-se de amores
Não sendo possível identificar a espécie, o nome vulgar refere-se a Rosa sp.
Celestes jardins:
As flores, estrelas;
Horteloas delas
São uns serafins.
Rosas e jasmins
De diversas cores;
Anjos que as regam
Matam-me de amores
Não sendo possível identificar as espécies, os nomes vulgares rosas e jasmins referem-se respetivamente a Rosa sp. e a Jasminum sp.
Seleção de trechos de dois sonetos
A violeta mais bela que amanhece
No vale, por esmalte da verdura,
Com seu pálido lustre e fermosura,
Por mais bela, Violante, te obedece.
Não sendo possível identificar a espécie, o nome vulgar refere-se a Viola sp.
Tornai essa brancura à alva açucena,
E essa purpúrea côr às puras rosas;
Tornai ao Sol as chamas luminosas
Dessa vista que a roubos vos condena
O nome vulgar alva açucena corresponde à espécie Lilium candidum L. Não sendo possível identificar a espécie, o nome vulgar rosas refere-se a Rosa sp.
Seleção de trechos de quatro éclogas
O roxo lírio a par da branca rosa,
A cecém pura, a flor que dos amantes
A côr tem magoada e saudosa;
Não sendo possível identificar as espécies, os nomes vulgares roxo lírio e branca rosa referem-se respetivamente a Iris sp. e Rosa sp. O nome vulgar cecém pura corresponde à espécie Lilium candidum L.
Hortelã, manjerona, ali respiram
Onde nem frio Inverno ou quente Estio
As murcharam jamais, ou secas viram.
Não sendo possível identificar a espécie, o nome vulgar hortelã refere-se a Mentha sp. O nome vulgar manjerona corresponde à espécie Lilium Origanum majorana L
Que vejo este carvalho, que queimado
Tão gravemente foi do raio ardente,
Não seja ora prodígio que declare
Que o bárbaro cultor meus campos are.
Não sendo possível identificar a espécie, o nome vulgar carvalho refere-se a Quercus sp.
Ali se vêem os mirtos circunstantes
Que a cristalina Vénus encobriram
Escondendo-a dos Faunos petulantes;
O nome vulgar mirtos corresponde à espécie Myrtus communis.
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