Na impossibilidade de fazer renascer a unidade de elevado valor paisagístico e botânico que foi a Quinta Deão, destruída e substituída por um conjunto de edifícios de habitação e comércio no início da década de 60 do século XX, mas ciente da importância de um grande jardim público no processo de requalificação urbanística do centro-leste da cidade, a Câmara do Funchal decidiu, em 1999, escolher para a implantação do Jardim de Santa Luzia a antiga Fábrica do Torreão, conhecida popularmente por Engenho do Hinton, numa clara alusão ao súbdito inglês que foi seu fundador e proprietário.
Esta unidade fabril tinha deixado de triturar cana-de-açúcar no início da década de 1980 e desde então vinha a degradar-se, transmitindo uma imagem muito negativa à área a sul da urbanização da Quinta Deão.
Leia também:
Abertura do jardim em 2004
Depois de um litigioso processo de expropriação, o Governo Regional iniciou as obras em 2003. O Jardim de Santa Luzia abriu ao público em setembro de 2004, restituindo àquele núcleo urbano o espaço verde de que estava carente há quatro décadas.
O Jardim de Santa Luzia tem uma área de 13.700 m2 e é constituído por dois patamares. O patamar superior está estruturado em torno dum relvado central, que envolve o parque infantil e um núcleo de flora madeirense. Um estreito canal, que pretende recriar uma levada, percorre o limite norte e ocidental do relvado. Um passeio pedonal separa o relvado dos canteiros paralelos ao Ribeiro da Carne Azeda, à Rua 31 de Janeiro e à Rua do Til. A sul do relvado mantém-se a chaminé de tijolo ocre da velha fábrica de açúcar. Junto à sua base, um espelho de água abastece, em cascata, um pequeno lago.
O patamar inferior possui um anfiteatro ao ar livre e mantém a única máquina sobrevivente da Fábrica do Torreão, produzida em Glasgow em 1907. A ligação entre os dois patamares é feita em socalcos, que pretendem simbolizar as escadarias de poios da paisagem agrária madeirense.
O Jardim do Torreão é ladeado por um muro encimado por um gradeamento de ferro, revivificação de uma característica dos jardins públicos do século XIX que se perdera durante o século XX. Os passeios calcetados com pequenos calhaus de basalto seguem a tradição dos jardins madeirenses dos séculos XVIII e XIX. Neste jardim vivem cerca de 120 espécies de plantas. As variações da imagem ao longo do ano resultam mais dos períodos de floração do que do impacto das caducifólias no outono e inverno.
Além disso, nem todas as árvores de folha caduca ficam despidas nas estações mais frias. Cerca de 30% das espécies florescem o ano inteiro, embora nem sempre com a mesma intensidade.