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Nos píncaros da ilha

A arméria-da-madeira (Armeria maderensis) é um endemismo madeirense, que apenas vive nas terras altas do Maciço Montanhoso Central.

 

Em 1995, realizei o documentário Nos Píncaros da Ilha, sobre o Maciço Montanhoso Central da Ilha da Madeira, exibido na RTP Madeira em janeiro de 1996 e na RTP 2 em abril de 1996, com o objetivo de contribuir para o melhor conhecimento das características geomorfológicas e fitogeográficas deste ecossistema.

O Maciço Montanhoso Central está classificado no Parque Natural da Madeira (criado em novembro de 1982) como Reserva Geológica e de Vegetação de Altitude. Integra a Rede Ecológica Europeia Natura 2000, que tem por objetivo garantir a conservação dos habitats e das espécies de interesse comunitário. Todo o Maciço Montanhoso Central tem o estatuto de ZEC (Zona Especial de Conservação) ao abrigo da Diretiva Habitats. O sector oriental está, também, classificado como ZPE (Zona de Proteção Especial) ao abrigo da Diretiva Aves.

Além do seu elevado valor paisagístico e da importantíssima função no balanço hidrológico da ilha, ali nidifica a freira-da-madeira (Pterodroma madeira), uma das aves marinhas mais ameaçadas da Europa, e vivem 40 espécies de plantas exclusivas do quarto andar fitoclimático (25% das cerca de 160 espécies endémicas da Madeira).

O Maciço Montanhoso Central foi gravemente ferido pelo fogo em agosto deste ano, quando ainda recuperava das graves queimaduras provocadas pelo incêndio de agosto de 2010.

Os dois grandes incêndios, como muitos nos séculos XIX e XX, tiveram origem em áreas rurais, onde as espécies exóticas pirófilas partilham o espaço com as habitações. O fogo, impelido pelo vento, subiu as escarpas íngremes e atingiu com ferocidade os Píncaros da Ilha.

 

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Alterar o coberto vegetal

O objetivo prioritário, nos próximos anos, nas próximas décadas, terá de ser a restauração dos ecossistemas, o que só será possível coma erradicação das espécies invasoras e a plantação e manutenção persistente de espécies nativas e endémicas.

Voltaremos a vivenciar incêndios catastróficos se não houver coragem política de alterar o coberto vegetal, especialmente entre os 300 e 800 metros de altitude, onde espécies pirófilas (acácias, eucaliptos, tabaqueiras, canas, silvados, tojos, giestas, feiteiras) ocuparam antigos terrenos agrícolas e convivem com as habitações. A população tem obrigação de limpar os terrenos à volta das casas.

Na Madeira, o pastoreio, devidamente ordenado, poderá ser implementado, não na alta montanha ou na Laurissilva, onde as espécies endémicas e nativas deverão recuperar o seu espaço, mas nas altitudes intermédias, nos terrenos cobertos de plantas invasoras após a limpeza destas.

O corpo da ilha da Madeira está doente. Todos os cidadãos que acreditam que é com o conhecimento científico e não com perniciosas tradições que a cura será possível têm o dever de corajosamente se associarem com objetivo de impedir novos erros que poderão revelar-se fatais.

Aos políticos, do governo e da oposição, recomendo o estudo da história e da geografia da ilha da Madeira, bem como dos excelentes documentos científicos sobre as alterações climáticas.

 

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