Numa jornada de visita a alguns pontos icónicos do mundo dos jardins, e admitindo que, na Holanda e no final de abril, as rainhas são, efetivamente, as tulipas, não deixei de observar o que de novo e interessante havia no que toca às orquídeas. E nem tudo são boas notícias!
No Jardim Botânico de Leiden
Neste caso, fica o melhor para o início e o que mais gostei, no que diz respeito a orquídeas, foi num jardim botânico cheio de tradição e história, o Hortus Botanicus Leiden. Criado, em 1590, para servir de apoio aos estudantes de medicina da Universidade de Leiden, tornar-se-ia um dos melhores e mais importantes jardins botânicos da Europa, sendo pioneiro em muitos aspetos no estudo das plantas. O complexo de estufas que ainda hoje existe foi construído em 1937 e é constituído por várias salas independentes onde se recriam zonas climáticas diversas, podendo assim alojar espécies com diferentes exigências. Foi aqui que encontrei uma boa coleção de orquídeas, muito bem tratadas e com bonitas florações e bem-apresentadas aos visitantes, com informação interessante e atrativa para que um jardim botânico seja, como deve ser, um local de aprendizagem e não só de admiração pela flora apresentada. Neste jardim botânico, estive com Rogier van Vugt, responsável pela coleção botânica, que já conhecia há algum tempo e que me mostrou algumas preciosidades, entre elas as Corybas, que eu nunca tinha visto em flor e que ele cultiva no seu escritório, em pequenos vasinhos fechados em sacos de plástico herméticos para que a humidade se mantenha alta e constante. São pequenas joias raras do mundo das orquídeas.
Nos Jardins de Keukenhof
Além do todo o mar de cor, perfume e estrutura magistralmente apresentados no belíssimo parque de Keukenhof, onde podemos encontrar um vasto número de plantas bolbosas, entre tulipas, narcisos, jacintos, fritilárias, muscari, entre outros, encontramos também uma exposição de orquídeas num dos pavilhões do jardim, o Beatrix Pavillion. Tal como todo o parque é um mostruário de algumas empresas de produção de bolbos, também a exposição de orquídeas reflete o que os produtores comercializam neste momento a partir da Holanda para toda a Europa, como plantas de interior e também flores de corte. Logo, não encontramos nada como a exposição botânica de Leiden, mas sim uma apresentação dos melhores híbridos de Phalaenopsis, Vanda e alguns híbridos conhecidos como “Cambrias” (híbridos de Oncidium,
Odontoglossum, Brassia, etc.). É interessante ver as tendências do mercado e admirar os bonitos híbridos, cada vez maiores, mais resistentes e com maior duração de floração, que são desenvolvidos para agradar aos consumidores que querem embelezar e dar um ar exótico aos seus espaços.
Aberrações e tendências do mercado florista
O que eu não entendo é que, sendo a família das orquídeas tão vasta, com tantas espécies e híbridos diferentes, formas peculiares e diversas, e um leque de cores mais vasto que o arco-íris, como é que uma das tendências do mercado são as orquídeas pintadas, em que lhes são injetadas tintas que se espalham pela planta, para assim se obterem flores de cores falsas e artificiais? Azul, verde, roxo e rosa fluorescente, que piada é que tem? É como ter uma flor de plástico sem qualquer beleza, mas da qual ainda temos que cuidar neste caso, pois é uma planta viva e temos de tratar dela se a queremos manter saudável, mas que, devido à tinta injetada, é vendida pelo triplo do preço. Porque as Phalaenopsis (também podem ser Dendrobium nobile) pintadas são originalmente brancas e, com o passar do tempo perdem a cor artificial e acabam por dar flores brancas. Assim, em vez de se comprar uma Phalaenopsis branca, que é uma planta acessível, esta triplica o seu preço ao ser injetada de tinta e mostrar uma cor falsa durante umas semanas, para voltar a dar flores brancas?! Não consigo perceber. Há mesmo quem goste de ser enganado.
Na FLORIADE 2022
Outro dos pontos altos da nossa viagem foi a visita à exposição Floriade, que se realiza na Holanda de dez em dez anos, dura entre março e outubro e mostra muito do que se faz internacionalmente no mundo das plantas. É como uma EXPO dedicada à importância das plantas, em todos os seus aspetos, desde decorativos a culturais e alimentares, recursos energéticos, etc. Este ano, o tema é Fazer Crescer Cidades Verdes e são apresentados pavilhões de países, de empresas e corporações em que se mostra o que de mais inovador é feito para que os espaços urbanos possam ser mais ecológicos, sustentáveis e agradáveis para uma vida mais saudável. Alguns países mostraram que as orquídeas são uma grande aposta comercial no mercado mundial, caso da Tailândia, que juntamente com a Holanda são os grandes produtores de orquídeas como planta decorativa de interior e flor de corte. Na grande estufa estavam também empresas que mostravam o que de mais interessante se produz e vende para que os nossos espaços se tornem mais floridos, aconchegantes e atrativos, contribuindo para que a nossa saúde física e mental melhore e nos liberte de todo o stresse que a vida agitada provoca, especialmente nas grandes cidades. As orquídeas sempre foram plantas que transmitem segurança, calma e relaxamento, conceitos muito importantes nesta Floriade dedicada a melhorar os espaços urbanos.
Foi uma viagem muito interessante e aguardo as próximas com grande expectativa.
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