A nossa segunda viagem do ano, do programa Jardins do Mundo foi fantástica. Durante dez dias fizemos um percurso que começou em Roma e terminou em Florença.
Na primeira parte deste artigo, que pode ler aqui, falámos sobre a Galeria Borghese, Villa Médici, os Jardins do Vaticano, Viterbo, Cortona, Eremo de Celle e as produtoras de plantas Giromagi e Floramiata. Agora, acompanhe-nos nos restantes lugares que tornaram esta viagem inesquecível.
Siena
Seguimos viagem para Siena, uma das cidades mais bonitas da Toscânia com a sua monumental catedral, uma verdadeira peça de arte do Românico – Gótico italiano e a Praça do Campo, onde ocorrem as famosas corridas cavalos.
A catedral de Siena é das mais bonitas que alguma vez vi, construída em dois períodos diferentes, 1284 e 1376, o mármore branco e preto as cores da cidade são a sua imagem mais marcante tanto no exterior como no interior e poderíamos ficar um dia inteiro a visitá-la como dizia a nossa guia.
Só estátua de Papas no interior tem 172 e de imperadores 36. Todo o trabalho em mármore é fabuloso e os vitrais de 1288 são algo único.
Na Praça do Campo todos os anos se realizam as famosas corridas de cavalos il Palio – são o grande ex-líbris da cidade – nos dias 2 de julho e 16 de agosto; todos os bairros da cidade concorrem com um cavalo e um cavaleiro e é um evento muito concorrido.
Este ano ganharam o bairro do ganso e o bairro da floresta e as bandeiras de ambos estão hasteadas em sinal de festa e vitória. Fizemos uma visita guiada pelo centro histórico para percebermos toda esta dinâmica da cidade.
Viareggio
Seguimos para a região de Lucca. Ficámos durante três dias alojados na bonita e elegante praia de Viareggio, o que nos permitia mergulhar no mediterrâneo antes do pôr do sol e passear à beira-mar a seguir ao jantar. A costa da Toscânia foi uma ótima escolha, pois é de uma beleza muito especial; enquadrada pelas montanhas, estamos no mar a olhar para a beleza da paisagem toscana que é única.
Fica apenas a 30 minutos de Lucca e da maior parte dos locais que íamos visitar nos dias seguintes e foram dias muito agradáveis.
Mr Pic– Carmazzi
Em 2020, eu tinha visitado o Mr Pic a convite da Flora Toscana e quis muito incluir esta experiência nesta viagem, pois há mais de 30 anos é líder de mercado na produção de piripíris. Fomos recebidos por Jacomo Carmazzi, que nos mostrou toda a exploração e algumas das suas plantas mais interessantes, e por Luca Quilici, da Flora Toscana, que nos acompanhou a todos os produtores. Esta produção existe desde 1860. Marco Carmazzi sucedeu ao pai nos anos 1970, tendo desenvolvido a produção e flores e plantas de época bem como plantas aromáticas e piripíri, tendo-se posteriormente especializado neste ultimo.
Criou a marca Mr Pic, que, além da produção dos piripíris e da venda das plantas, tem também toda uma gama de produtos transformados à volta deste produto, molhos, temperos, compotas, conservas, picles, massas, etc.
Esta é uma produção familiar em que a paixão por aquilo que fazem se nota em tudo, têm o recorde do mundo do maior número de variedades (1133), mas neste momento já aumentaram esse número e têm uma coleção de 1155 variedades. Além dos piripíris, também produzem flores comestíveis, microgreens e pitaia, etc.
Variedades de piripíri e investigação
A produção tem mais de 20.000 m2 de estufas onde são cultivadas 40 a 60 diferentes variedades de piripíri para comercialização; há uma série de variedades registadas e exclusivas como Arlecchino Versilia, Rustico Versilia, Habanero Clover, Dente diCoyote, Rustico Variegato, etc.
No final, toda a gente pôde comprar uma vasta gama de produtos picantes que fizeram um sucesso.
Lucca
Seguimos para Lucca, cidade de Pucini, onde almoçámos num dos melhores restaurantes da cidade Bucadi Santantonio. Fizemos de seguida uma visita guiada pela cidade e pelas suas maravilhosas praças, nomeadamente a Praça Pucini, a Praça do anfiteatro, entre outras, passeámos ao longo da muralha, visitamos a Igreja de São Michele, a catedral e Orto Botanico.
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Villa Torrigiani
Esta é considerada uma das villas e jardins privados mais bonitos de Itália, tendo ganho, em 2018, o prémio do jardim privado mais bonito de Itália. Pertence à família Torrigiani, que ainda hoje habita o primeiro andar, abrindo o andar de baixo ao público. Foi a princesa Simonetta Colonna di Stigliano (nascida marquesa de Torrigiani) quem abriu a casa e o jardim ao público há cerca de 60 anos, e ainda hoje são os seus descendentes que a habitam.
A primeira menção à villa remonta a 1593, como pertencente à família Buonvisi. Foi depois adquirida por Nicolao Santini, que, no final do século XVII, reconstruiu a fachada sul em estilo Barroco, provavelmente atraído pela arquitetura do Palácio de Versalhes, onde era embaixador pela República de Lucca. Depois desta transformação, a villa assumiu um aspeto maneirista. Santini também interveio nos jardins, introduzindo novos parterres em volta de dois tanques. Nas traseiras, foi construída uma fonte como ponto fulcral do jardim e, para leste, foi organizado o atual jardim de Flora.
Em 1816, Vittoria Santini casou-se com Pietro Guadagni, que tomou o apelido da mãe, Torrigiani. Apenas sobreviveu ate hoje o jardim de Flora.
Visitamos a villa por dentro, mas, como não se podem tirar fotografias, não tenho como mostrar. A casa é muito bonita tem muito bom gosto e muito encanto.
O eixo principal da villa é sublinhado por uma fila de ciprestes, de cerca de 700 metros, que exaltam em perspetiva a fachada do edifício. A abertura foi recuada em relação à berma da estrada, dando espaço a uma faixa relvada para enfatizar e evidenciar este percurso.
O jardim atual é o resultado de transformações ocorridas no século XIX. Em frente das fachadas, foram criados grandes prados, circundados por árvores de copa alta.
Na parte esquerda do parque, existe um tanque, que na realidade é aquilo a que se chamava uma pesqueira de forma octogonal, rodeada por uma série de citrinos em vasos de terracota.
No nível inferior, acessível por uma balaustrada e escada em pedra, temos um jardim secreto com estátuas e fontes, com ninfeu; podemos também aceder por caminho lateral e muro.
Todo este jardim era rico em recantos, jogos e surpresas, alguns deles perdidos ao longo do tempo. Mas não deixa de ser um jardim monumental e muito bonito.
Villa Garzoni
Visitámos Collodi, que é conhecida por ser a terra do Pinóquio, os pais do autor de Pinóquio, Carlos Lorenzini, trabalharam na Villa Garzoni, uma maravilhosa villa que domina a encosta que neste momento se encontra fechada, era privada e foi comprada pela Fundação Collodi, proprietária do Parque do Pinóquio e do Jardim histórico da Villa Garzoni e do Borboletário.
O jardim é conhecido pelo seu desenho que acompanha a encosta, bem como pela sua estatuária e jogos de água, embora neste momento muitos não estejam a funcionar.
O Jardim Garzoni é considerado um dos mais belos da Itália, representa uma feliz síntese entre o desenho renascentista e o carácter espetacular do Barroco. O jardim pode ser considerado um raro exemplo de equilíbrio na arte paisagista, onde o verde, os terraços e as fontes têm o equilíbrio perfeito. Infelizmente, o estado de manutenção, quer dos elementos de água, quer dos canteiros, não deixam o jardim brilhar como merecia. Mesmo assim, não deixa de ser uma peça notável na arte de jardins.
Projetado no século XVIII pelo arquiteto de Lucca, Ottaviano Diodati, o jardim abre-se sobre a paisagem como um anfiteatro natural e espetacular. Ainda se podem ver numerosas grutas, teatros escavados em sebes, estátuas de criaturas mitológicas, sátiros, figuras femininas, florestas de bambu, etc. A escadaria é ladeada por duas estátuas femininas que representam dois eternos rivais, Lucca e Florença.
O borboletário também merece uma visita, pois tem uma ótima coleção de borboletas e de plantas tropicais.
Citrinos – Oscar Tintori
Conheci estes produtores na Feira de Milão, a My Plant & Garden, e tinha muita vontade de conhecer a produção; quando percebi que estavam próximos de Lucca, resolvi incluí-los neste nosso circuito pela Toscânia e foi uma surpresa extraordinária.
A produção de citrinos de Oscar Tintori é das mais antigas da Toscânia. Tem neste momento uma coleção com mais de 400 variedades das mais variadas plantas cítricas, limões, laranjas, toranjas, tangerinas, pomelos, quinotos, que é um citrino a partir do qual se faz uma bebida natural que sabe a Coca-Cola (eu provei e não queria acreditar), limão-kaffir, limão-caviar, limão-vanilla, que é um limão completamente doce, limas, kumquats, etc. Organizados numa coleção botânica que tivemos ocasião de visitar, numa visita guiada muito interessante. Tem uma produção para venda de plantas em vaso e ainda uma série de produtos como o limoncino e vários tipos de compotas e outros produtos com citrinos.
A história da propriedade é também a história da família. Durante anos, os antepassados da família Tintori dedicaram-se à agricultura tradicional. A partir da década de 1950, a produção de flores cortadas tornou-se o principal negócio da região de Pescia e, como muitos outros, também se especializaram no cultivo de flores. Um lindo limoeiro toscano cobria toda a parede da casa; ainda lá está. O avô Oscar Tintori gostava de cultivar novos limoeiros em vasos a partir de estacas retiradas desta maravilhosa espaldeira e oferecia-os aos amigos e familiares; as plantas começaram a ter muito sucesso. Começaram a procurar variedades tradicionais de
limões, laranjas e bergamotas com valor ornamental e alimentar. Numa das primeiras edições da Biennale del Fiore em Pescia, adicionaram alguns limoeiros de Oscar ao stand de flores cortadas – fizeram tanto sucesso que decidiram cultivar e vender plantas cítricas ornamentais. Na década de 1970, abandonaram a floricultura para se dedicarem integralmente à produção de plantas cítricas ornamentais.
Montecatini
Esta é uma cidade termal dividida por uma encosta a que se acede por um funicular. A parte de baixo, Montecatini Terme, é património da Unesco pois o edifício das termas é uma peça de arquitetura única, arte nova, aqui chamada Liberti. Foi durante muitos anos um destino muito procurado pela alta sociedade da Europa e pelos atores de Hollywood, Grace Kelly e Rainier do Mónaco passavam aqui férias habitualmente e este era um destino de luxo. Entrou em decadência, como grande parte das estâncias termais, quando este tipo de turismo caiu em desuso, e muitos hotéis fecharam. Há pouco tempo, foi considerado património da Unesco e muitos hotéis estão a converter-se em spas; o edifício das termas reabriu e muitos outros estão em obras de renovação. A parte alta, Montecatini Alti, tem uma vista espantosa sobre a paisagem e um traçado medieval. Tivemos um almoço degustação maravilhoso num restaurante design no centro histórico.
Florença
Terminámos estes dez dias com a joia da coroa da Toscânia, a belíssima cidade de Florença. Ficámos instalados num fantástico boutique hotel no centro da cidade, o Palazzo Castri.
Visitámos a Galeria da Academia das Belas-Artes onde vimos várias obras de pintura e escultura de grandes artistas, entre eles Miguel Ângelo e o célebre David, entre tantas outras. Vimos o Palácio Médici, o Palácio Pitti, o Jardim de Boboli, o Jardim Botânico de Florença, a Ponte Vechio, e a catedral, terminando com um magnífico jantar no restaurante Loggia, na Piazzale Michelangelo, com Florença aos nossos pés. Não poderia ter terminado de melhor forma.
Jardim de Boboli
O Jardim de Boboli (em italiano, Giardino di Boboli) é um jardim renascentista projetado pelo arquiteto Niccolò Pericoli, a pedido da duquesa Leonor de Toledo, e sua construção iniciou-se no século XVI. Ocupa uma área de 45.000 m2 e está localizado na parte de trás do Palácio Pitti.
Numa próxima edição, faremos um artigo só sobre este jardim, pois é mais do que merecido, uma vez que é uma verdadeira celebração do Renascimento, e um dos jardins mais importantes da história de arte dos jardins em Itália e na Europa.
Deste jardim, têm-se vistas maravilhosas sobre Florença e sobre o Palácio Pitti, os seus elementos arquitetónicos e hidráulicos, e todo o elenco arbóreo e florístico, de uma riqueza extraordinária. Tem várias grutas em rocaille com várias obras de grandes escultores da época.
Jardim Botânico de Florença
Este jardim, um dos primeiros jardins botânicos italianos, foi mandado construir, em 1545, por Cosimo de Médici, dedicado ao estudo das plantas medicinais; chamava-se Giardino dei Semplici. Destinava-se à observação do comportamento das plantas pelos estudantes.
Tem cerca de 2,3 hectares, duas estufas grandes e seis pequenas, 4200 plantas, 150 árvores incluindo cinco árvores monumentais, a Zelkova crenata, a Cupressus dupreziana, a Quercus frainetto. Tem ainda uma coleção de plantas comestíveis da Toscânia com mais de 120 espécies disponíveis. Visitei este jardim num dia de
muito calor, estavam mais de 33 graus e estava-se mesmo muito bem a passear à sombra das árvores centenárias. O jardim é mesmo no centro, a dez minutos a pé do hotel e da catedral; aconselho a quem esteja em Florença, pois é bastante desconhecido mas é muito bonito.
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