Hoje em dia, o tema da flora autóctone e silvestre na jardinagem não é, felizmente, desconhecido.
Ao longo dos últimos anos, inúmeras espécies que até aqui estavam confinadas aos nossos espaços naturais ganharam visibilidade. Hoje, são conhecidas da maior parte de nós. Exemplos disso são plantas como o alecrim, o rosmaninho ou o tomilho, que hoje são reconhecidas como “essenciais” em qualquer jardim.
Portugal tem mais de 4000 espécies autóctones. As plantas aromáticas e medicinais são apenas uma parte da enorme diversidade de espécies que compõem a flora autóctone e silvestre do nosso País. Das suas cerca de 4000 espécies, são várias dezenas as que apresentam potencial para serem utilizadas não só no jardim, mas também na horta ou na varanda.
A utilização da nossa flora autóctone em jardinagem tem hoje a seu favor razões consideradas cada vez mais relevantes. Além de se tratar de espécies com inegável interesse ornamental, estão perfeitamente adaptadas aos nossos solos e suportam bem os longos períodos sem chuva que caracterizam os nossos verões. São a escolha certa para jardins onde é cada vez mais imperioso reduzir os custos com água e manutenção.
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Vantagens da utilização de espécies autóctones nos jardins
É importante salientar a tendência crescente nas regiões do mundo que, como nós, possuem climas de tipo mediterrânico, para a procura de alternativas aos omnipresentes jardins constituídos por relvados e espécies dependentes de complexos sistemas de rega e consumos elevados de fertilizantes, herbicidas e inseticidas. E não é só por questões de sustentabilidade económica ou ecológica. Como aponta Olivier Filippi, no livro Planting Design for Dry Gardens, conceber novos jardins, vibrantes de formas, cor e vida, recorrendo à enorme diversidade de plantas autóctones é possível e desejável.
Observar a vegetação durante a primavera, em qualquer uma das nossas áreas naturais, é um bom exercício e o primeiro passo para descobrir que o jardim ideal sempre esteve aqui ao nosso lado!
Fazer do jardim um ecossistema mais rico
Ao interesse ornamental e económico, junta-se uma terceira ordem de razões para que a flora autóctone ganhe cada vez mais espaço nos nossos jardins, o seu contributo para que um jardim seja um ecossistema mais diversificado e suporte de outras formas de vida.
Tendo evoluído no nosso território, são as nossas espécies autóctones que podem fornecer alimento a um sem-número de insetos polinizadores. Exemplos destes são abelhas, borboletas e tantos outros, que, por sua vez, atraem pequenos mamíferos, pássaros, répteis e anfíbios.
Uma perspectiva horticultural
Muitas espécies autóctones são versáteis e podem ser utilizadas na horta, no jardim ou num jardim comestível! Nesta perspectiva, é possível (e desejável!) levar um pouco de jardim para a horta e esta para o jardim.
Tirar partido das relações de consorciação e associação entre plantas é uma das ideias que é possível pôr em prática. Muitas espécies são comestíveis, outras afastam insetos indesejáveis e outras ainda atraem insetos benéficos. Algumas produzem folhas comestíveis, outras têm utilização medicinal…
Património etnobotânico
Muitas espécies autóctones foram apropriadas ao longo de gerações pela cultura popular nas vertentes: medicinal, alimentar, espiritual ou religiosa. Fazem parte do património etnobotânico e são, como tal, um dos traços da nossa identidade cultural.
A utilização de plantas no quotidiano dos nossos ancestrais é, como diz Catarina Oliveira na apresentação da obra Ervas, Usos e Saberes, de José Salgueiro, “o testemunho de uma relação antiga com o mundo natural” que faz parte do nosso imaginário coletivo.
A recuperação de usos e saberes tem vindo a ser operada ao longo dos últimos anos – através da edição de publicações locais e regionais. Estas procuram preservar o conhecimento que os mais velhos acumularam e ainda podem transmitir.
A utilização de muitas das nossas plantas em fitoterapia é talvez uma das aplicações que maior interesse tem suscitado. Num grande número de medicamentos disponíveis, a farmácia moderna mais não fez do que sintetizar compostos químicos e princípios ativos presentes nas plantas, que foram utilizadas durante gerações no tratamento das mesmas doenças!
Germinar sementes é…
… mais fácil do que parece! Com uma temperatura entre os 16 e os 21 ºC, a maioria das espécies germina no espaço de uma a duas semanas. Num vaso ou tabuleiro, cubra as sementes com um pouco de substrato e humedeça q.b. A profundidade de sementeira deve ser equivalente ao dobro do tamanho da semente. As jovens plântulas podem ser transplantadas para recipientes maiores assim que tiverem duas ou mais folhas.
Das pascoinhas à erva-de-são-joão
A erva-de-são-joão (Hypericum perforatum), associada às festas de celebração do solstício de verão, é considerada uma planta medicinal desde a antiguidade. Possui princípios ativos úteis no tratamento da depressão e da ansiedade. O óleo macerado das flores e folhas é utilizado para tratar feridas e queimaduras e para aliviar dores nevrálgicas.
No que toca a arbustos, a roselha-grande ou as pascoinhas são exemplos de espécies que oferecem uma prolongada floração na primavera. A estas podem juntar-se as giestas (Cytisus grandiflorus), o folhado (Viburnum tinus) ou o medronheiro (Arbustus unedo), de grande rusticidade e beleza.
Outras espécies autóctones são a borragem (Borago officinalis), o cardo-leiteiro (Cynara cardunculus), o cardo-de-santa-maria (Silybum marianum) e o verbasco (Verbascum thapsus).
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