Nesse tempo, a alimentação circunscrevia-se ao que por cá se produzia; por outras palavras, um pequeno conjunto vegetal oriundo e domesticado no País, de reduzida variedade mas boa qualidade e frescura: favas, castanhas, bolotas, algumas couves, alguns cereais, cherivias, grão, azeite, vinho, mel e não muito mais.
Factos históricos
Nessa altura, cerca de 90 por cento da população trabalhava a terra, mas não era dela senhora! A baixa produção de peixe e carne ia direitinha à mesa dos mais altos.
Era a cherivia ou pastinaca (Pastinaca sativa L.), da família das Apiaceae (Umbelliferae), das mais eleitas na alimentação quotidiana. Paulatinamente, ela foi substituída por radicação da batata (Solanum tuberosum L.), trazida para a Europa pelos descobridores espanhóis, a partir da América do Sul – o seu local de origem.
Condições de cultivo
Esta planta esquecida é nativa do hemisfério norte. O frio intensifica e realça o seu sabor. Prefere solos soltos e arenosos; é muito rústica, pois não carece de especiais cuidados no seu cultivo – mais fácil do que o da cenoura.
Como a terra não só dá, como também guarda e é celeiro; a pastinaca pode ficar ali durante o inverno, depois de a folhagem do topo ter caído. Assim, será colhida à medida das necessidades lá de casa.
Características e propriedades
Está bem patente que um dos pressupostos da nossa saúde é a preciosa ingestão de variedade equilibrada e racional de bens alimentares. Em jeito de reabilitação, aduzo-lhes algumas características da pastinaca: familiar próxima da cenoura (Daucus carota L.), tem raiz branca ou creme; é bem mais sápida do que aquela, mais nutritiva e de aroma típico e adocicado mais intenso.
Como consumir a pastinaca
Presta-se a ser cozida, assada, frita, guisada e para enriquecimento e aromatização de sopas e doçaria. Persistem dela pequenas manchas de produção na zona da serra de Estrela. Raro é encontrá-la à venda nas pequenas ou grandes superfícies comerciais.
Embora nestes andamentos do ”homem globalizado”, quando falamos de ecossistemas, esquecemos ou ignoramos que pertencemos ou completamos um único dele. É por este motivo que, a cada momento estarmos (devermos estar) em equilíbrio dinâmico com a Natureza.
Neste cotejo, toda a biodiversidade, em particular, as plantas alimentares sazonais e de proximidade, neste nosso ecossistema, também estabelecem e completam entre si esse regular equilíbrio e harmonia. De quando em vez, ponho à prova culinária as variedades que produzo. Cá vai o último exemplo: sopa de soja em conjunto com pastinaca e rama de cenoura, acrescentada de uma beirada de azeite, próximo do fim da confeção.
É crescente o estrépito dos tabuleiros das crises empurrados para a frente pelas palavras, pelas barrigas, pelos distraídos e muitos outros entretidos. Estará próxima a nossa independência alimentar do exterior, neste nosso úbere cantinho da biosfera?
Além de produtora, banco alimentar natural contra a fome e farmácia natural, a omnipotente Natureza também é fornecedora de despoluídas energias para a alma.
A propósito e para terminar, recordo e trago à colação um provérbio amiúde, batido lá em casa pelos meus ascendentes. Poderia até ser colocado por cima de alguma publicidade consumista ou até à frente da porta de saída de muitos de nós: “guarda que comer, não guardes que fazer”.
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