Os arranjos de flores podem ser belos, mesmo usando as plantas simples do campo.
Enquanto floral designer, uma das suas singularidades é gostar de trabalhar com flores do campo. Porquê?
Eu prefiro flores delicadas, suaves e etéreas. Em termos de design, gosto de apresentações simples e descontraídas que não pareçam excessivamente projetadas. As flores silvestres funcionam perfeitamente.
O que a levou a abraçar esta Natureza “selvagem”?
Viver em Sintra há alguns anos e percorrer diariamente os seus trilhos relembrou-me a forma como abordava as flores quando era criança. Viver o momento e seguir as atrações táteis e visuais é fundamental. As paisagens selvagens, a História e as ruínas de Portugal inspiraram-me muito.
Tem alguma rotina associada à colheita?
É importante sair para os prados, florestas e trilhos sempre que possível. Visitar áreas selvagens e prestar atenção às mudanças sazonais serve de inspiração para o meu trabalho.
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Dá algum tratamento às plantas após serem colhidas?
Coloco as flores na água imediatamente e deixo repousar algumas horas. Depois removo as folhas extra, corto cada caule na diagonal e deixo descansar mais algumas horas antes de arrumar. Frequentemente, também mergulho os caules em água fervida por alguns segundos.
Todas as plantas que crescem à nossa volta têm potencial para integrar um arranjo?
Não. Devemos deixar intocados a maior parte dos prados selvagens e flores raras e protegidas, como as orquídeas selvagens. Plantas tóxicas como o loendro ou cicuta também não devem ser colhidas. Escolha plantas que consegue identificar e que cultiva ou que crescem abundantemente na natureza. Nunca retire mais doque alguns caules de uma planta e deixe sempre três quartos da planta intacta.
Com raízes em Inglaterra, as plantas portuguesas não são certamente aquelas a que está habituada. Como é que o seu trabalho mistura as duas culturas?
Sou americana (com avós britânicos) e fiz muitos dos meus estudos florais no Reino Unido. Sempre fui atraída pelos jardins ingleses e pelos seus métodos de organização, o que continua a influenciar a minha abordagem, mas o design floral deve ser muito localizado.
Morando em Portugal, fiquei entusiasmada em aprender sobre as flores e jardins portugueses. Os prados, os olivais, os campos de camomilas, as manchas de papoilas e as tradições florais (como o Dia da Espiga) cativaram-me de imediato.
Estou sempre a procurar vasos de terracota feitos localmente. Abraço todas as trepadeiras e flores que crescem aqui. Inspiro-me particularmente nas selvagem e delicadas escabiosas e bocas-de-lobo de Sintra. Nunca tinha visto uma boca-de-lobo a crescer na Natureza antes de vir para cá. Adoro o estilo rústico do campo: cestos feitos à mão com flores secas, gramíneas a crescer sobre paredes de pedra, estética casual e descomplicada formada a partir da praticidade, do artesanato e da tradição.
Inclusive, até muito recentemente, os floristas de Lisboa vendiam buquês de violetas silvestres como era moda em 1930. Adoro tradições como esta que ainda perdura por aqui e considero-as uma grande mais-valia. Eu identifico-me com a geração mais velha, portugueses que também gostam de sair e procurar alimentos.
Quais são as suas plantas preferidas?
A minha flor favorita é a Viola odorata. Muitas pessoas consideram-na uma erva daninha, mas eu sou atraída pela sua fragrância doce, comestibilidade, história e charme.
Adoro sempre-noivas (spirae), glicínias, gaura, jasmim, madressilva, rosas tradicionais, ervilhas, orégão selvagem, escabiosa selvagem e qualquer erva selvagem.
Que combinação de plantas sugere para fazer um arranjo primaveril?
Azeitona e sempre-noiva (spirea) como base. Em seguida, adicione acácia ou forsitia, jasmim ou glicínia e ervas altas no final, deixando as trepadeiras estenderem-se para fora do recipiente.
Mais recentemente começou a semear as suas próprias flores. Que espécies escolheu? O que acha deste novo processo que implica jardinar?
Na verdade, faço jardinagem desde os 12 anos. Algumas das plantas que estou a cultivar incluem cosmos, ervilhas tradicionais, escabiosa selvagem, orégãos, verbena e consolda-maior. Algumas ervas daninhas como a urtiga aparecem e eu deixo. Cultivar flores de corte é importante porque não podemos contar apenas com flores silvestres (elas precisam de ser preservadas e estar disponíveis para as abelhas). Adoro cultivar as minhas próprias flores e espero ter mais espaço para as expandir em breve.
Além de trabalhar com flores, a Chelsea também explica como fazê-lo através do blog, dos vídeos no YouTube ou do livro Field, Flower, Vase. O que a levou a querer disseminar conhecimento?
Partilhar a beleza das flores, seja um pequeno buquê para um amigo ou ser mentor de um aspirante a florista, é a parte mais gratificante do que faço. Trocar ideias e inspirar outros a interagir mais com a Natureza é motivador, dá-nos esperança, é cada vez mais importante devido às alterações climáticas que enfrentamos e devemos refletir sobre a nossa ligação ao mundo natural. Criei aulas e conteúdos online, então criar um livro tátil foi especialmente gratificante. E ver como o livro motiva pessoas a olhar a Natureza mais de perto e valorizar plantas aparentemente mundanas é realmente adorável. Os leitores também me ensinam quando enviam fotos de como aplicaram os conceitos nas suas paisagens e flores locais.
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