Uma iniciativa que prevê plantar 50 mil árvores no Alentejo Central para minimizar os efeitos das ondas de calor em Portugal.
O Projeto Além Risco é financiado pelo EEA Grants Portugal e tem o cofinanciamento da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (CIMAC) e da Fundação Calouste Gulbenkian. Este projeto conta hoje com uma equipa multidisciplinar, muitos voluntários, apoios e milhares de árvores já plantadas.
Como surgiu esta ideia e quais os objetivos futuros?
A necessidade aguça o engenho, como diz o provérbio popular. Os modelos climáticos preveem o aumento de magnitude, frequência e duração de ondas de calor por todo o País, com particular incidência no Alentejo. Sem adoção de medidas de carácter preventivo para fazer face às ondas de calor, é inevitável o aumento da morbilidade e mortalidade humana, especialmente entre as populações mais vulneráveis. Uma das formas de mitigar os efeitos das alterações climáticas na qualidade térmica do ambiente urbano é plantar árvores. É com base nessa constatação e necessidade que nasce o projeto Além Risco. As alterações climáticas têm alterado a paisagem silvestre portuguesa, particularmente a do Alentejo.
De que forma tem sido arquitetada esta reconstrução do património natural aos níveis do modo de intervenção no terreno e espécies escolhidas, cujos resultados são visíveis nos vários Laboratórios Vivos já executados?
O nosso projeto incide em ambiente urbano e periurbano. Estamos conscientes de que um jardim não é uma extensão da ruralidade. Através dos tempos foi, antes, uma materialização da nossa imagem do Éden. Não obstante, pensamos que o “Éden” pode e deve ter elementos da nossa flora autóctone pelo que o nosso portefólio de espécies comporta cerca de 50 plantas, maioritariamente autóctones, uma vez que são as mais bem adaptadas ao clima e solo da região, logo menos exigentes em termos de manutenção, e as que mais benefícios trarão para a biodiversidade envolvente. Do Além Risco fazem parte outras iniciativas que educam para esta causa e estimulam o interesse dos portugueses na plantação de árvores e prevenção da desertificação.
O que são as campanhas Quero Árvores e o projeto Além Plantar?
Costumamos afirmar, de forma metafórica, que é urgente “plantar árvores na cabeça dos cidadãos”. Gostar das árvores apenas meia dúzia de dias por ano não é compatível com a criação e manutenção do arvoredo em espaço público. É preciso gostar das nossas árvores durante todo o ano. As campanhas Quero Árvores pretendem envolver a cidadania na transformação do espaço envolvente, convidando-os a serem partícipes dessa transformação. Como? Oferecendo 20 mil árvores a quem participe de forma ativa neste processo, comprometendo-se a plantar árvores nos espaços que estão ao seu cuidado. Durante a campanha aproveitamos para ainda comunicar os objetivos do Além Risco e a necessidade de preparar as nossas vilas e cidades para os efeitos das alterações climáticas. Inscrever esse assunto nas comunidades é também o nosso trabalho. Tentamos fazê-lo de forma pedagógica, na escolha criteriosa das árvores que as pessoas levam para plantar. Para o efeito, elaborámos uma Árvore da Decisão, um fluxograma em aperfeiçoamento que pretende ajudar as pessoas a selecionar as árvores: Quero uma árvore de fruta? É para um pequeno quintal? Tenho disponibilidade de água? Etc. Neste processo de vínculo e amor pelas árvores, o conhecimento ajuda muito. Cuida-se mais facilmente do que se gosta! O Além Plantar é o projeto Além Risco nas escolas. É uma iniciativa para as escolas do distrito de Évora. Pedimos à comunidade escolar para observar o espaço público à sua volta (na sua rua, bairro ou aldeia) e sugerir-nos novos locais passíveis de serem plantados com árvores. Esses locais são fotografados e georreferenciados pelos alunos com os seus telemóveis. Uma vez coligidos os pontos, é preciso analisá-los e discuti-los: Onde? Quantos? É espaço público? Quais os constrangimentos? Quais as árvores que devemos plantar e porquê? Não importa o número de plantas no final. O que importa é o caminho, o vínculo, o conhecimento e a discussão que houve até ao momento da plantação que ocorrerá apenas no próximo outono.
O vosso trabalho é inspirador para os que acompanham a intervenção e o crescimento dos novos espaços verdes criados. Quem vive noutros distritos e quer plantar a primeira árvore, o que pode fazer para colaborar convosco ou iniciar esta revolução na sua própria localidade?
O projeto Além Risco tem apenas um ano de existência e só mais um pela frente. Apesar disso, reconhecemos que temos tido impacto na região onde desenvolvemos o nosso trabalho. A resposta da sociedade civil, em particular, tem sido extraordinária. A nível nacional, destacamos o lançamento de um programa de apoio à transição climática, no Programa de Recuperação e Resiliência, inspirado no Além Risco, e que pretende alavancar financeiramente projetos de plantação de árvores em ambiente urbano liderados por autarquias. Sendo o Além Risco circunscrito ao distrito de Évora, temos sido abordados por inúmeras pessoas e organizações que pedem apoio para o alargar a outros territórios. Ainda que não o possamos fazer dada a natureza do projeto e seu financiamento é salutar ver o alcance que ideias simples podem ter. Estamos convictos de que os conceitos desenvolvidos no Além Risco perdurarão para lá da duração do projeto e propagar-se-ão muito para além das fronteiras geográficas do distrito de Évora.