Estas plantas fantásticas que hoje em dia são muito utilizadas em jardins e como plantas de interior, foram na época vitoriana uma verdadeira moda, chegando a ser uma obsessão.
O que são fetos
São plantas vasculares muito ancestrais – os registos mais antigos remontam ao Devónico (360 milhões anos) – que se reproduzem por intermédio de esporos.
Distinguem-se das plantas superiores devido à ausência de flores (frutos e sementes) e de outros grupos de plantas inferiores, como os musgos, porque possuem feixes vasculares (que conduzem água, nutrientes e matéria orgânica).
Muitos fetos têm folhas (frondes) que apresentam um desenvolvimento típico, em forma de báculo – cajado utilizado pelos pastores e, simbolicamente, também pelos bispos, para aludir ao seu papel de pastores do Rebanho de Deus.
Variedades de fetos
Atualmente, existem cerca de 11.000 espécies com uma distribuição muito vasta, contudo, como necessitam de elevada humidade ambiental (para a reprodução) a maior parte das espécies localiza-se em regiões tropicais.
Algumas conseguem sobreviver em condições de secura extrema, como os desertos, mas, neste caso, a reprodução apenas é possível quando existe humidade ambiental.
São várias as espécies de fetos com uso económico, como a avenca-das-fontes (Adiantum capillus-veneris) que se utiliza na preparação do capilé, um xarope português cuja origem remonta ao século XVIII, o feto-do-cabelinho (Culcita macrocarpa) que, nos Açores, se utilizava para encher colchões e as espécies Osmunda cinnamomea (feto-canela) e Diplazium esculentum, que são comestíveis.
Factos históricos
Durante centenas de anos, os fetos foram interpretados como plantas enigmáticas e circularam histórias sobre uma espécie lendária que produzia sementes e cuja posse tornava invisível quem as possuísse.
Esta tradição é referida na obra Henrique IV (1597) escrita por William Shakespeare (1564-1616) quando uma das personagens diz: “possuímos o segredo da receita das sementes de feto, que nos permitem andar sem sermos vistos”.
Na iconografia cristã, os fetos eram símbolos de humildade, aludindo ao ambiente discreto e sombrio onde se desenvolvem e ao pequeno porte que os caracteriza. Segundo escreveu Plínio, o Velho, na História Natural (livro 27, capítulo 55), os fetos afastam as cobras; esta crença contribuiu para que, mais tarde, os fetos se tornassem símbolos da Salvação e um atributo de Jesus Cristo (as cobras simbolizam o mal).
Época vitoriana
Entre a ascensão ao trono da Rainha Victória (1837) e o início da Primeira Guerra Mundial (1914), o coleccionismo de fetos foi muito popular no continente europeu, em especial no Reino Unido.
Este interesse pelos fetos, também conhecido como pteridomania (obsessão por fetos) integrava-se no crescente interesse pela botânica, nas suas distintas vertentes: científica, económica, ornamental e simbólica. Durante este período foram editadas centenas de obras sobre a identificação de fetos e manuais que aconselhavam os amadores sobre quais as condições ideais para manter e propagar estas plantas.
Pteridomania, a obsessão por fetos
O interesse pelos fetos era transversal a todas as classes sociais e o coleccionismo de fetos é um exemplo da nova ordem social e económica que se começou a estabelecer na Europa, ao longo do século XIX.
Os coleccionadores podiam ser grandes proprietários rurais ou simples mineiros, homens de negócios estabelecidos nas cidades ou senhoras casadas que tinham no coleccionismo de fetos uma oportunidade para ultrapassar algumas das rígidas normais sociais vitorianas.
A recolha de exemplares silvestres era vista como uma forma saudável de exercício e algumas sociedades culturais e filantrópicas vitorianas organizavam excursões e saídas de campo que proporcionavam oportunidades de convívio entre amadores e académicos e, também, troca de informação e de espécimes.
Os fetos eram prensados em álbuns, emoldurados para exposição no interior das habitações ou mantinham-se vivos em pequenas estufas, que eram colocadas junto às janelas e em varandas.
A estufa móvel mais popular foi inventada por Nathaniel Bashaw Ward (1791-1868), no final da década de 1820, para proteger os seus fetos da poluição que grassava em Londres, devido à queima de elevadas quantidades de carvão. Nas décadas seguintes produziram-se centenas de modelos que seguiam os princípios da Wardian Case.
Os grandes proprietários rurais construíram estufas de grandes dimensões para albergar espécies de elevado porte e espécies exóticas importadas dos trópicos e de regiões temperadas e que necessitavam de condições edafoclimáticas específicas.
Os fetos nas artes decorativas
A popularidade dos fetos durante o período vitoriano fez com que os mesmos fossem utilizados como modelos em artes decorativas e, por esta razão, encontramo-los em porcelanas, vitrais, papel de parede e ornamentos de edifícios.
Outras formas de arte, como a pintura, utilizaram os fetos para reforçar o carácter romântico das paisagens e outros locais, nos quais a sua presença reforçava o seu carácter nostálgico e evocativo.
No século XIX, o coleccionismo de fetos era visto como um sinal de elevação e integração moral. Esta interpretação continuou, ainda que de forma menos generalizada, durante o século XX, quando ainda se encontravam habitações nas quais a presença de avencas, e de outras espécies de fetos, era interpretada como um sinal de respeitabilidade e de virtude dos seus proprietários.
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