Entrevistas

Florestas urbanas

URBEM Florestas urbanas, de claupereira

 

A importância de renaturalizar as cidades.

 

As cidades são lugares construídos pelo Homem à sua medida. Um dos desafios do planeamento urbano que se torna mais premente à medida que as alterações climáticas se fazem sentir com mais impacto é a inclusão de espaços verdes e de corredores ecológicos nos meandros da malha urbana. Com o intuito de ajudar nesta luta contra a crise climática, a URBEM, uma ONG ambiental, e os seus voluntários andam a criar pequenas florestas em Lisboa. Falámos com Rita Barrela, que nos deu a conhecer este projeto.

 

Qual é a importância de ter florestas no espaço urbano?

Além de contribuírem para a mitigação dos efeitos da temperatura, de promoverem a qualidade do ar, de reterem águas pluviais, de diminuírem o ruído, de potenciarem a biodiversidade e a paisagem urbana, as florestas vem melhorar a qualidade de vida e a saúde das comunidades que vivem e/ou trabalham nas cidades. Todos estes serviços que prestam reduzem custos com a saúde, eficiência energética e recursos.

 

Jardins Abertos na floresta urbana da URBEM

 

O que são florestas Miyawaki?

As florestas Miyawaki são pequenas florestas urbanas, cujo método foi concebido pelo botânico e professor japonês Akira Miyawaki.

A metodologia visa recriar florestas nativas em espaços reduzidos no interior das cidades. Consiste na plantação densa e biodiversa de espécies autóctones representativas dos cinco estratos através do apoio e envolvimento da comunidade local, desde a fase de conceção à implantação e manutenção.

 

O objetivo é criar ou integrar um corredor verde urbano? Quais são os critérios na escolha do local onde irão implantar uma floresta?

O nosso objetivo é criar espaços verdes adaptados e resilientes a um clima em constante mudança que promovam a biodiversidade e que possam, no seu conjunto, gerar corredores verdes urbanos. No geral, estas pequenas florestas podem ser implantadas em qualquer local, tendo em conta a área, os pontos de água e a população envolvente, assim como a vegetação existente, orografia, o solo, a exposição solar, e os ventos dominantes.

 

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charco

Zonas azuis (charcos)

Qual é a área mínima necessária para a sua implantação?

Preferencialmente, uma área mínima de 300 m², para que cumpra o objetivo de tornar estes espaços aprazíveis, que estimulem o convívio entre a comunidade local.

 

Como selecionam as espécies a usar?

Da nossa equipa, fazem parte biólogos que selecionam cuidadosamente espécies autóctones da flora local. No mosaico de plantação são incluídas espécies diversas representativas dos cinco estratos (herbáceo, subarbustivo, arbustivo, emergente e escandente), plantadas de forma densa (duas a quatro plantas de espécies e estratos diferentes, por m²) e que se complementam em termos de luz, água e nutrientes.

 

 

 

Como tratam a questão da fauna em geral e dos polinizadores em específico?

Como referido, um dos objetivos das florestas Miyawaki é promover a biodiversidade, pelo que consideramos a fauna parte integrante das nossas florestas e um parceiro essencial, nomeadamente para a polinização, dispersão de sementes e prevenção de pragas e doenças.

Deste modo, quer através da flora selecionada onde incluímos prado, quer pela utilização de NBS, integrando abrigos e zonas azuis (charcos), proporcionamos zonas de refúgio, alimentação, bem como de reprodução.

No caso dos polinizadores em particular, também realizamos ações de sensibilização e educação ambiental com a comunidade, nas quais incluímos a construção de hotéis para insetos.

 

De que tipo de manutenção carecem estes espaços?

Através desta metodologia, só será necessária manutenção durante os 3-4 primeiros anos, findo os quais cada floresta se tornará autossustentável. Até lá, procedemos à remoção de infestantes, à aplicação de cobertura de solo (mulch) para incremento da matéria orgânica e proteção do solo e à rega semanal nos meses mais secos (verão).

 

Hotel para insetos, URBEM

Hotel para insetos

 

Com três projetos já implantados em Lisboa, consideram que os municípios portugueses estão recetivos a este tipo de intervenção?

Ainda há um caminho a percorrer, mas temos tido bastante recetividade por parte das autarquias. O principal obstáculo do poder local é, na maioria das vezes, a dificuldade em obter financiamento ou alocar verbas para este tipo de projetos.

 

Têm algum projeto, cidade ou país de referência?

Não obstante da origem desta metodologia (Japão), hoje em dia há inúmeras florestas desta natureza em diversos países, nomeadamente mediterrâneos. A nossa referência continua a ser a FCULRESTA, a primeira floresta Miyawaki a ser implementada em Portugal, na Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.

 

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