Passo a Passo

Hóteis de insectos

Uma forma de atrair insetos para os jardins, varandas e terraços para que estes tenham abrigo durante o período mais frio.

A constante destruição de espaços verdes, a poluição e o uso constante de pesticidas e herbicidas sintéticos têm levado ao desaparecimento de muitas plantas, insetos e outros animais dos meios urbanos. Para tentar minimizar estes “estragos” na Natureza, muitas entidades e particulares resolveram contruir “hotéis de insetos”, que são pequenas construções com materiais diversos que servem de refúgio para os insetos que precisam de espaços mais quentes e abrigados para se acomodarem e hibernarem durante o inverno, prosseguindo o seu ciclo de vida. Muitas vezes aquilo que a nós parece abandonado, como ramos, folhas, pedras e outros materiais espalhados no terreno, é um autêntico paraíso para a “fauna selvagem” dos nossos jardins, hortas e pomares.

Nunca esquecer que os insetos são atraídos pelo néctar e pólen das flores e por esse motivo também podemos proporcionar alguns locais com plantas espontâneas e flores silvestres… A maioria destes invertebrados desempenha importantes missões de polinização e de controlo de pragas (auxiliares) nas hortas e noutros espaços verdes, contribuindo também para o equilíbrio ecológico. Alguns insetos polinizadores, como as abelhas solitárias e alguns sirfídeos, abrigam-se em buracos de madeira, canas e cartões. As joaninhas e bichas-cadelas, que são auxiliares do agricultor, controlando muitas pragas, gostam de ramos, galhos, canas de bambu ocas e cartão canelado enrolado. As crisópas e borboletas abrigam-se em fendas de ramos ou troncos e hotéis feitos de caixas de madeira com aberturas do tipo “marco de correio”.

Existem vários tipos de hotéis ou outros espaços na Natureza que atraem os insetos (e outros animais) mais uteis e desejados pelo agricultor ou jardineiro:

Troncos ou madeiras com furos de vários diâmetros (2-10 mm) e caules ocos de bambu, rolos de cartão canelado e canas de plantas mortas (adequado para abelhas, sirfídeos e vespas solitárias, como a abelha-pedreira Osmia sp, abelha-cortadora-de-folhas Megachile sp e abelha sininho Chelostoma spp.).

Zona de solo bem drenado e arenoso, não cultivado com boa exposição solar (abelhas solitárias e insetos que vivem no solo).

Monte de troncos empilhados, cascas de árvores, ramos de madeira em decomposição, pinhas secas (adequados para escaravelhos, estafilinídeos milípedes, aranhas e centopeias).

Caixas de madeira com aberturas horizontais compartimentadas e protegidas do exterior (adequada para borboletas e crisopas).

Um simples monte com ramos, paus, troncos, folhas secas, plantas em decomposição, relva seca, pedras, tijolos e outros materiais, colocados em pontos estratégicos e abrigados da chuva (adequado para joaninhas, opiliões e bichas-cadelas).

Vasos, preenchidas com palha, cartão, folhas. Estes podem ser pendurados nos ramos de arbustos e árvores (bichas-cadelas).

Paletes de madeira, preenchidas com pedras e tijolos e outros materiais orgânicos. (adequado para escaravelhos, bichos-de-conta e por vezes sapos e ouriços).

Vasos partidos e tijolos devem estar no fundo do hotel (no caso de não ser um hotel suspenso), junto ao solo refúgio mais adequado para moluscos gastrópodes e lagartixas (lesmas e caracóis), sendo assim mais fácil a sua captura. Os hotéis são fáceis de fazer e podemos, no outono, encontrar materiais como folhas e flores secas, ramos, sementes, etc., mas também existem materiais de construção que não são bem aceites pelos insetos.

Aspetos a ter em conta:

Os hotéis devem ficar em zonas secas com sol e bem fixos ao solo ou noutra estrutura, para suportarem os ventos moderados e fortes a 30-200 cm do solo.

Uma fonte de água, como um pequeno lago ou um recipiente do tipo alguidar, rodeada de pedras e plantas nas margens – é importante para os insetos beberem.

Os locais para a instalação destes hotéis devem ficar junto a plantas que os insetos gostam (um metro de distância). Muitos insetos, como borboletas e traças (borboletas noturnas), pupam no solo junto a arbustos perenes e espaços com pouca intervenção humana.

Por vezes, muitos insetos que estão alojados (especialmente em hotéis grandes) são predados ou parasitados por outros. Como a vespa parasita Melittobia acasta e Coelopencyrtus sp e a mosca parasita Cacoxenus indigator, que atacam as larvas das abelhas “red mason” (Osmia bicornis). Muitas vezes, estes hotéis podem alojar espécies exóticas em vez de espécies nativas. Em Marselha, foram instalados vários hotéis e apareceu uma espécie de abelha exótica, a Megachile sculpturalis, que representava 40 por cento do total de insetos. Hotéis muito grandes (apelidados de condomínios de insetos) com paletes, pedras, telhas e tijolos, podem atrair outros animais que não são insetos e que se alimentam deles.

O aparecimento de vários tipos de bolores pode dever-se ao excesso de humidade e a uma cobertura pouco eficiente, contribuindo para o agravar da situação em caso de chuva. O uso de pesticidas e herbicidas nas proximidades deve ser completamente banido, devendo apenas ser utilizado em casos extremos e devem ser sempre “amigos” dos auxiliares e do ambiente. Inspecionar os hotéis no fim do verão, limpando e removendo algum material danificado. A maioria dos materiais usados degrada-se naturalmente ao fim de dois anos e devem ser substituídos, evitando o aparecimento de bolores, ácaros e outro tipo de parasitas.

Para atrair os insetos, é aconselhável ter nas redondezas uma grande diversidade de plantas com flor, incluindo culturas da nossa horta, pomar, plantas nativas que possam fornecer pólen e néctar ao longo de todo o ano. Plantas como o crocus, Pulmonária officinalis, violetas, espinheiro-branco (Crataegus) e algumas fruteiras fornecem alimento assim que a maioria dos insetos sai da hibernação. Mas existem muitas outras plantas que favorecem e atraem espécies de insetos auxiliares para a nossa horta (ver lista 2). Se tiver um relvado, pode cortá-lo menos vezes, deixando crescer trevos, margaridas e dentes-de-leão, que são muito apreciados pelas abelhas e sirfídeos. Não devemos ter plantas de “dupla flor”, pois esta tem menos néctar e são mais difíceis de acesso por parte dos polinizadores. As plantas híbridas produzem menos pólen, devendo-se optar-se por sementes de plantas de agricultura biológica.

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