Conheci o Professor Raimundo Quintal assim que cheguei à direção da Jardins, em 2015. Desde então tem colaborado sempre com a revista escrevendo sobre as maravilhosas plantas e jardins da Madeira e dos Açores.
Nasceu no Funchal em 1954. Licenciou-se em Geografia e doutorou-se em Geografia Física na Universidade de Lisboa. Os seus trabalhos de investigação inserem-se no domínio da fitogeografia, com especial incidência na flora da Macaronésia e na flora ornamental na Madeira, Açores e Portugal Continental.
Onde se situa o seu jardim e qual a sua área?
O Jardim do Tojal localiza-se num sítio sobranceiro à baía do Faial (200 metros de altitude) no nordeste da ilha da Madeira. Tem uma área de cerca de 1000 m2.
A que tarefas se dedica principalmente no seu jardim?
Tem alguma ajuda? O nosso jardim foi criado pela Céu em 2000, quando construiu a casa. Fui atraído pelo jardim e pela head gardener em 2012. Desde então, repartimos todas as tarefas necessárias ao seu enriquecimento florístico e manutenção. Mais recentemente, temos a ajuda de um jardineiro, um ou dois dias por mês.
Quantas horas dedica à jardinagem?
Dez a 12 horas por semana.
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Quais são as suas maiores preocupações na manutenção do seu jardim?
Cultivamos cerca de 450 espécies dos quatro cantos do mundo, com predomínio das nativas das regiões subtropicais. Também experimentamos várias espécies endémicas da Madeira. O terreno é bastante declivoso (20 a 30%) e não construímos muros para suportar o solo, pelo que a escolha das plantas tem de ser muito criteriosa de forma a evitar escorregamentos, viverem saudáveis e garantirem um bom desempenho ornamental. No coroamento da arriba, as faias-das-ilhas (Morella faya) funcionam como excelentes sebes vivas, protetoras do vento que chega cá acima carregado de sal.
No Jardim do Tojal, o solo (pH 6) é enriquecido com o composto orgânico criado com a reciclagem das folhas, aparas de jardim, restos verdes da cozinha e borra de café. Não utilizamos fertilizantes inorgânicos nem pesticidas químicos. Praticamos uma jardinagem ecologicamente sustentável.
Que ferramentas de jardinagem costuma usar no dia a dia?
Tesoura de poda, sacho, enxada, pá, serrote, máquina de cortar relva, soprador.
Quais são os seus jardins preferidos em Portugal e no mundo?
Em Portugal Continental, tenho uma predileção especial pelo jardim da Fundação Calouste Gulbenkian, mas, também, gosto muito do Parque Botânico do Monteiro-Mor, do Jardim Botânico Tropical e do Parque de Monserrate.
Nos Açores, adoro o Parque Terra Nostra, tenho uma relação afetiva com o Jardim Botânico José do Canto e com a Mata-Jardim José do Canto. Na Madeira, a Quinta do Palheiro Ferreiro ocupa o topo das minhas preferências. Também gosto muito do Jardim Botânico Eng.º Rui Vieira, da Quinta Jardins do Lago, da Quinta da Casa Branca, da Quinta Monte Palace e do Campo de Educação Ambiental do Santo da Serra, onde, desde abril de 2019, tenho coordenado um projeto de restauração da Laurissilva.
Fora de Portugal, nutro uma especial predileção pelos Royal Botanical Gardens –Kew e RHS Garden Wisley (Inglaterra), pelo Jardin des Plantes e pelo Parc André-Citroën (Paris), pelo Balboa Park (San Diego) e pelos Royal Botanical Gardens, em Burlington, Ontário.
Recomenda alguns livros ou revistas sobre jardins?
Viver ao ritmo da Natureza – o poder curador dos jardins e das plantas, de Sue Stuart-Smith, é um livro excecional com uma estrutura inovadora, que aconselho vivamente. A autora – psiquiatra, psicanalista e jardineira amadora –, entre muitas reflexões inspiradoras, diz-nos que “plantar uma árvore em memória de alguém que morreu proporciona uma poderosa fonte de sobrevivência simbólica. Sabemos que o tempo desvanecerá as nossas memórias, mas a árvore trará um novo crescimento. Lança raízes bem profundas, como um garante contra o esquecimento”. De propósito, apenas recomendo este livro.
Leio habitualmente a Jardins, a Mon Jardin & Ma Maison, a L’ Ami des Jardins & de la maison, The Garden – Journal of the Royal Horticultural Society e a The Plant Review.
Que sites visita sobre o tema?
The World Flora Online, Flora.on (Açores, Continente, Madeira), site do Jardim Botânico da UTAD, RHS Plant Finder, Missouri Botanical Garden – Plant Finder, Kew – Plants of the World Online, Flora of Australia Online, PlantZAfirica.com, Jardim Cor.
Scilla madeirensis (cila-da-madeira)
Tem alguma planta ou flor favorita?
Após muita hesitação, votei na cila-da-madeira (Scilla madeirensis), uma bulbosa endémica da Madeira que exibe as suas belíssimas inflorescências no outono e início do inverno.
Qual foi o último objeto relacionado com jardinagem que comprou?
Uma tesoura de poda.
Que conselhos dá aos jardineiros amadores que querem aprender mais?
Que nunca se esqueçam que as plantas são seres sencientes.
Tem algum horto em especial onde compra as suas plantas?
Não temos um local especial para comprar plantas. A maioria das plantas são produzidas por sementeira ou estacaria na nossa estufa. Esse trabalho é da responsabilidade da Céu, que tem green fingers e raramente falha nas experiências que realiza.
Que móveis de jardim tem?
Apenas temos duas cadeiras para descansarmos e desfrutarmos das cores, das formas e dos aromas das plantas que povoam todos os cantinhos do nosso refúgio.
Qual foi o acontecimento que o fez interessar-se por jardins?
Desde muito novo comecei a gostar de plantas, graças à influência da minha mãe e do meu pai. Na nossa casa localizada no Lido, na zona oeste do Funchal, que hoje está plantada com hotéis, a minha mãe cultivava uma grande variedade de plantas e tínhamos flores todo o ano. Lembro-me de ouvi-la dizer que gostava mais de cuidar das plantas do que de cozinhar. Mais tarde, quando andava no liceu, nos fins de semana e nas férias ajudava o meu pai na manutenção de jardins. A eles devo a sensibilidade pelas plantas e pelos jardins.
Que personalidades no mundo dos jardins, das plantas ou da jardinagem mais o fascinam?
Tenho uma enorme admiração por José do Canto, Gonçalo Ribeiro Telles, Roberto Burle Marx, Jorge Paiva e Maria Eugénia Soares de Albergaria Moreira.
Há algum evento do mundo dos jardins e da jardinagem em Portugal ou no estrangeiro que não perca e que aconselhe os jardineiros amadores a visitar?
O Chelsea Flower Show, a Festa da Flor da Madeira, a exposição de camélias nas Furnas – São Miguel.
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