Entrevistas

No jardim com Teresa Chuva

Jardim projetado por teresa chuva

 

Nascida em Ílhavo e a residir atualmente na zona de Tavira, no Algarve, para onde se mudou em 2011, a entrevistada desta edição é formada pela Escola Superior Agrária de Coimbra e dedica-se a projetar e construir jardins resistentes à seca.

 

Onde se situa o seu jardim e que área tem?

Dedicando-me a esta profissão a tempo inteiro, não tenho agora tempo para ter o meu próprio jardim. Tenho alguns catos na janelada sala… No entanto, sinto que alguns dos jardins dos meus clientes são um bocadinho meus, principalmente aqueles que idealizei desde o início.

 

Quantas horas dedica à jardinagem?

Sendo a minha profissão, dedico muitas.

 

Quais são as suas maiores preocupações na manutenção dos jardins que idealiza?

A resistência das plantas à seca. Esse é o meu guia na seleção das plantas que uso. A problemática da água, ou melhor, da falta desta, é uma questão crucial. “De acordo com o índice PDSI (índice de medição de seca Palmer Drought Severy Index) no final de maio, verificou-se um aumento da área em seca meteorológica na região Sul, assim como da sua intensidade, com grande parte do distrito de Beja e o sotavento algarvio na classe de seca moderada”, pode ler-se no site do IPMA.

Teresa ChuvaAinda temos muito tempo sem chuva pela frente, pelo que a situação só poderá agravar-se. Infelizmente, como choveu em abril, este assunto deixou de ser notícia. Apesar de terem sido implementadas medidas de restrição, muito pouco passou para a opinião pública.

Sobre este assunto, há um longo caminho de informação a percorrer. Aquilo a que assisto normalmente é o tipo de rega formatado – um bocadinho todos os dias. Isto não é regar; é apenas desperdiçar água. Nos “meus” jardins, apenas rego as plantas que foram para o solo este ano, e as regas são abundantes e espaçadas no tempo. Normalmente, rego uma vez por mês.

Um verão com temperaturas acima dos 40 graus transforma o solo num “forno”. A proteção do solo permite manter as raízes das plantas protegidas do calor, bem como a biodiversidade. Não erradico completamente as infestantes, até porque o conceito de infestante é muito relativo. Trabalho em jardins onde surgem orquídeas selvagens misturadas com o que plantei, bem como alfazemas e outras autóctones que são sempre bem-vindas. Não uso herbicidas ou outros químicos, tentando que a Natureza alcance o equilíbrio. Com formação em Agricultura Biológica, transponho para os jardins os conceitos básicos dessa prática, sendo o solo a base de um jardim saudável. O mesmo se aplica às pragas. Adoramos as borboletas, mas esquecemos que para as vermos temos de ter lagartas primeiro. Adoramos joaninhas, mas para isso tem de haver alimento para elas – os afídios (vulgar “piolho”).

 

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Que ferramentas de jardinagem costuma usar no dia a dia?

A tesoura de poda é, sem dúvida, a mais usada… Mas também a motosserra e um destroçador para aproveitamento da biomassa.

 

Quais são os jardins em Portugal e no mundo que prefere?

Serralves, Mata do Bussaco, Quinta da Regaleira, Monserrate, Jardim Botânico do Mónaco, Jardim de Versalhes, entre muitos outros que tive oportunidade de visitar. Mas também há jardins que não são “famosos” e que são igualmente bonitos e inspiradores.

 

Jardim projetado por Teresa Chuva

 

Recomenda alguns livros sobre jardins? Costuma ler revistas ou jornais sobre o tema?

Na temática dos jardins resistentes à seca, sem dúvida os livros de Olivier Filippi. Depois tenho alguns que vão variando os temas, mas que servem sempre como inspiração. A revista Jardins também é minha companheira já há muitos anos.

 

Que sites tem por hábito visitar sobre o tema?

O site Jardin Sec, do Olivier Filippi e por vezes vou navegando à procura de informação mais detalhada sobre determinada planta. O site Flora-On é uma ótima ferramenta, uma vez que tento sempre conjugar as “nossas” plantas com outras adaptadas à seca de outras zonas do clima mediterrânico.

 

Qual foi o último objeto relacionado com jardinagem que comprou?

Uma tesoura de poda elétrica. Tornou-se a minha maior amiga…

 

Que conselhos dá aos jardineiros amadores que pretendam aprender mais?

Amar o seu jardim, desfrutar do jardim, conversar com outros amantes de jardins e também com profissionais. O jardim não pode ser da equipa de jardinagem que faz a manutenção. Esse é o meu lema. Com os meus clientes, parto sempre desse princípio.

Para quem está a começar, aconselho que visitem outros jardins, que conversem para perceberem as dificuldades que outros sentiram e para aprenderem com os erros que outros cometeram. E paciência; o tempo é o melhor amigo de um jardim…

 

 

Tem alguma planta ou flor favorita?

Sálvias e alfazemas – a diversidade é tão grande que é impossível ter só um tipo de alfazema ou um tipo de sálvia.

 

Tem algum horto em especial onde compra as plantas para os seus jardins?

O viveirista Jardim Seco. Não só pela diversidade de plantas, mas também por serem espécies resistentes à seca e pela forma como produzem as plantas.

 

Qual foi o momento/acontecimento que a fez interessar-se por jardins?

Está presente desde sempre na minha vida. Lembro-me da roseira em casa da minha avó paterna e por qualquer razão estão presentes as cores das dálias que a minha avó materna cultivava.

 

Que personalidades no mundo dos jardins, das plantas ou da jardinagem a fascinam mais?

Já no Algarve, tive o prazer de conhecer algumas pessoas que me fascinam quer pelos conhecimentos quer pelo coração. Privei com John Lavranos, que me vai deixar ótimas recordações para o resto da vida.

Há muitos anos, conheci o Joaquim Morgado, da Ervital, que agudizou o interesse que já tinha pelas aromáticas.

 

Há algum evento do mundo dos jardins e da jardinagem em Portugal ou no estrangeiro que não perca e que aconselhe os jardineiros amadores a visitar?

Aqui no Algarve, sem dúvida a Feira das Plantas, que se realiza em São Brás de Alportel.

 

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