Aprender com quem sabe sobre propagação de plantas.
Considerado por muitos a quintessência natural de Lisboa, o Jardim da Gulbenkian é misterioso, subtil e profundo. Um mundo onde nos sentimos pertença e, ao mesmo tempo, apenas e somente de passagem. Este encantamento está em parte nas mãos de António Graça, mestre jardineiro do Jardim da Gulbenkian que o mantém fiel ao projeto original, com quem se casou há mais de 36 anos. Nas suas mãos, a responsabilidade de manter o património genético do jardim recorrendo a múltiplas técnicas de propagação.
Foi ele próprio que assegurou a condução da oficina de propagação de plantas no Jardim Gulbenkian, dando aos muitos aprendizes que se inscreveram a distinção de aprender com o mestre. O programa, que foi cuidadosamente pensado e executado por Mariana Machado e António Graça, desenrolou-se em quatro dias. Tendo a oficina abrangido as técnicas usadas no jardim, como a sementeira, a divisão de touceira, a estaquia, a enxertia, a mergulhia, a alporquia e a propagação de plantas de interior.
Inscrevi-me na oficina da estaquia e enxertia, e posso dizer que as três horas voaram entre o ver fazer e o fazer. À nossa disposição, vasos, terra, pás e as plantas do jardim: a margacinha, o tomilho e a bacopa, a lantana, o alecrim e o Teucrium marum para nomear algumas. Partilho aqui alguns dos segredos do mestre António Graça para o sucesso da propagação, com especial destaque para a estaquia.
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Tesouras e navalhas sempre desinfetadas
Não queremos transportar problemas de uma planta para outra. As lâminas podem ser limpas com uma solução de água eu mas gotas de lixívia e depois bem secas com um pano.
Manter a planta hidratada
Desde que separa o ramo da planta-mãe, deve ter-se o cuidado de não a deixar desidratar. Se estiver de visita a um amigo e lhe pedir “um raminho”, coloque-o de imediato num saco com umas gotas de água para aportar humidade à planta.
A Natureza faz o seu trabalho sozinha
Se não tem estufa, como é o caso do Jardim da Gulbenkian, aproveite o ciclo de crescimento da planta e faça a propagação na altura certa. Por norma, propagamos à saída do inverno e à saída do verão.
Na hora de escolher e colher
Escolha um ramo são e com vigor na planta-mãe. Privilegie a extremidade do ramo, pois é lá que a planta põe as hormonas de crescimento para se desenvolver na época seguinte.
Plantas aconselhadas
Há uma lista de plantas de carácter invasor, não nativas e que não devem ser usadas em espaços públicos. Saiba que se já tiver um exemplar destes no seu jardim pode e deve controlar a planta antes de ela dar semente.
Comprimento das estacas
Varia consoante o tipo de planta e aqui deixamos-lhe algumas indicações universais. Para as herbáceas como a margacinha, o tomilho e a bacopa, o comprimento da estaca pode ir até aos 10 cm, para as lenhosas como a lantana, o alecrim ou o Teucrium marum, falamos de 10-15 cm e, para arbustos como o Rhamnus alaternus, o Sanguinho-das-sebes, o intervalo pode variar entre os 20 e os 25 cm.
Preparar as estacas
Retire todas as flores e deixe apenas uma ou duas folhas para que a planta não tenha de gastar energia noutra função que não o enraizamento.
Hormonas de crescimento
Não sendo mandatário, as hormonas de crescimento à venda podem ser um aliado na altura da propagação, ajudando a planta a desenvolver-se.
Substrato
Há várias marcas disponíveis no mercado e, se tiver dúvidas, garanta que o substrato é solto, com capacidade para reter a humidade tão necessária à planta.
Luz e calor
Calor só no substrato. Evite o sol pleno já que a planta tem de se recompor. Dê à sua estaca algumas horas de luz para que o substrato possa aquecer um pouco.
Polaridade
Não inverta a polaridade da planta, ou seja, não a ponha de cabeça para baixo. A base da estaca é junto ao nó, porque é aí que a planta é mais consistente, onde tem a gema, o ponto a partir do qual se faz o crescimento.
Enxertia
É a união forte dos tecidos que se roçam na tempestade e depois se unem na acalmia. Tanto o cavalo, a parte de baixo, quanto o cavaleiro, a parte de cima, devem ter a mesma capacidade de absorver os alimentos.
Diferentes enxertias
Enxertamos para melhorar a planta, e as técnicas mais comuns são por borbulha, no caso das fruteiras, por funda simples, no caso das vinhas, por encosto para melhorar uma planta que esteja débil ou por coroa, no caso de a planta estar a perder o vigor ou não gostarmos muito do fruto.
Ráfia e mástique
São dois materiais com que se vai finalizar a enxertia. A ráfia mantém as duas plantas unidas e degrada-se com o tempo, não há por isso necessidade de a remover. A mástique é a pasta selante, de cor preta, com que deve isolar toda a área, nomeadamente cobrindo a ráfia. Encontra-se à venda em lojas da especialidade.
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