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Tilândia

Til (Ocotea foetens)-Mata da lagoa do Congro

 

A Mata da lagoa do Congro

 

A lagoa do Congro localiza-se na área central da ilha de São Miguel, no concelho de Vila Franca do Campo. A sua designação está as sociada ao nome do seu proprietário, “André Gonçalves de Sampaio, o mais rico homem que houve nesta terra em seu tempo e por isso lhe chamavam o Congro, que dizem ser o maior peixe do mar, dos que se comem” (Frutuoso, Saudades da Terra, livro IV, pág. 25 – 1998).

“Em termos geológicos, a lagoa do Congro ocupa uma cratera de explosão do tipo mar com cerca de 500 m de diâmetro e paredes fortemente entalhadas em basaltos e traquitos” (Constância, Braga, Nunes, Machado e Silva, Lagoas e Lagoeiros da Ilha de São Miguel, pág. 79 – 2001).

No início do povoamento, em meados do século XV, esta área estava coberta de uma densa floresta, onde conviviam loureiros, cedros-do-mato, ginjas-do-mato, faias-da-terra, paus-brancos, azevinhos, folhados, sanguinhos e muitas outras espécies nativas.

Em 1846, quando José do Canto iniciou as plantações no maar com o objetivo de criar uma mata-ajardinada, já muito pouco restava da floresta primitiva. Aqui, como em quase toda a ilha de São Miguel, os cortes de árvores e arbustos para madeiras, lenha e carvão, a arroteia e o pastoreio tinham arrasado a Laurissilva.

 

Til (Ocotea foetens)-Mata da lagoa do Congro

Til (Ocotea foetens)

 

Ao contrário do que aconteceu com o seu jardim de Ponta Delgada e com a mata-jardim da lagoa das Furnas, José do Canto não encomendou o projeto desta mata a um especialista estrangeiro. Foi o autor do desenho dos caminhos, da seleção das espécies e da escolha dos locais de plantação, embora pudesse ter contado com o apoio, na fase inicial, do jardineiro inglês George Brown (1813-1881), com quem trabalhou em Ponta Delgada e nas Furnas.

 

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As plantações na propriedade com mais de 800 hectares demoraram cerca de três décadas. Os caminhos bordados com buxos, azáleas e camélias separavam núcleos de carvalhos, azinheiras, álamos, amieiros, faias-europeias, castanheiros, ulmeiros, gincos, acácias, ciprestes-de-oregão, eucaliptos, incenseiros, ulmeiros, abetos, sequoias, criptomérias, araucárias, pseudotsugas, vinháticos e tis.

Após a morte de José do Canto (1820-1898), a mata foi dividida em duas propriedades e nunca mais foi tratada com o saber e o carinho do seu criador. Mesmo assim, durante muitos anos foi utilizada pelos vila-franquenses e pelas populações do norte da ilha para festejarem o dia de São João, 24 de junho, que coincide com o feriado municipal em Vila Franca do Campo.

Cerca de 150 anos após o final das plantações, algumas espécies desapareceram, outras estão representadas apenas por exemplares isolados e duas espécies arbóreas encontraram condições excecionais para crescerem e multiplicarem-se. O incenseiro (Pittosporum undulatum), nativo da Austrália, e o til (Ocotea foetens), indígena da Laurissilva da Madeira e do qual não há notícia de ter integrado a Laurissilva de São Miguel.

Ao percorrer os cerca de 700 metros do trilho, desde a estrada até à margem da lagoa, temos oportunidade de admirar tis monumentais, com 20 a 30 metros de altura. Alguns dobram-se e os ramos acariciam a água. O sub-bosque é dominado por incontáveis plantas infantis e juvenis. Uma verdadeira Tilândia!

 

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