Revista Jardins

Tremoço

 

 

Um dos aperitivos mais típicos de Portugal, muito saudável e fácil de cultivar na sua horta.

 

FICHA TÉCNICA DA CULTURA DO TREMOCEIRO-BRANCO

MÉTODO BIOLÓGICO

 

Nomes comuns: Tremoceiro, tremoço, tremoço-doce, altramuz, tremoceiro-branco.

Nome científico: Lupinus albus L subsp albus, (sin: L sativus Gater., Ltermis Forssk.).

Origem: Zona mediterrânica, provavelmente na Grécia.

Família: Fabáceas (leguminosa).

Características: Planta herbácea, com 30-150 cm de altura, que se ramifica muito; folhas alternas, digitadas com 5-7 folíolos e obovadas, raízes profundas e bem desenvolvidas muito fortes. A inflorescência podem ter a cor branca ou branco-azulada e surgem cachos terminais com cerca de 25 flores. A vagem mede 70-110 mm de comprimento, tem 18-24 mm de espessura e “pelugem” branca.

Factos históricos: As primeiras plantações de tremoço estão associadas à antiga civilização egípcia e foram feitas há 2000 anos (Zhukovsky, 1929). Os antigos egípcios, gregos e romanos já utilizavam a farinha do tremoço, que era previamente fervido para retirar os alcaloides. A cultura é mencionada pelo poeta Virgílio (70 a.C.) e pelos escritores gregos e prussianos (1500 d.C.). O tremoço-branco foi-se dispersando aos poucos da Grécia para o Egito e Antiga Roma. As variedades L. albus e L termis espalharam-se mais para o sul (Egito, Líbia e Palestina). Em 1920, produziram-se (melhoraram-se) na Alemanha as primeiras espécies livres de alcaloides ou os chamados “tremoços-doces”, que podiam ser diretamente consumidos por seres humanos e gado, sem criar efeitos tóxicos.

Ciclo biológico: Anual ou perene, 120-360 dias.

Variedades mais cultivadas: Em Portugal, cultiva-se mais o tremoço-branco e tremoço-amarelo ou tremocilha. Existem várias variedades de tremoço-amarelo-doce livre de alcaloides.

Fecundação: Pode ser autogâmica ou alogâmica (cruzada); esta última realiza-se pelos insetos. A flor possui um mecanismo para expulsar o pólen (piston), facilitando a vida aos polinizadores. As flores aparecem de março-maio.

Parte Comestível: Na vagem existem 2-6 sementes grandes com 9-20 mm de diâmetro de forma orbicular-quadrangular de cor branco-amarelada ou rosadas.

 

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Condições ambientais

Solo: Prefere solos profundos, bem drenados, francos, ligeiramente limosos ou arenosos com alguma argila, férteis e com pH entre os 5,0-1,0. Não suporta solos com cálcio ativo (até 2% Ca), mas adapta-se a solos pesados.

Zona climática: Temperada mediterrânica.

Temperaturas: Ótimas: 10-14 oC. Min: 3 oC. Max: 25 oC.

Paragem do desenvolvimento: -6 oC

Exposição Solar: Plena luz.

Humidade relativa: Média.

Altitude: 0-1000 metros.

Precipitação: 350-800 mm/ano, sensível a inundações e resistente a seca.

 

 

Fertilização

Adubação: Com estrume de peru, porco e composto bem elaborado. Pode acrescentar dolomite. Trata-se de uma cultura pouco exigente que melhora a qualidade dos solos.

Adubo verde: Apenas cereais podem ser semeados antes desta cultura.

Exigências nutritivas: 0:4:2 (azoto: fósforo: potássio) e algum enxofre, precisa de Fe e Mg.

 

Técnicas de cultivo

Preparação do solo: Lavrar o solo a 30-50 cm de profundidade e depois passar uma grade, dois meses antes da sementeira.

Data de plantação/sementeira: Outubro – dezembro

Tipo de plantação/sementeira: Direta, pode colocar as sementes em água, 24 horas antes da sementeira.

Faculdade germinativa (anos): 3-4 anos.

Profundidade: 3-5 cm

Compasso: 40 x 55 cm entre as linhas e 10 x 15 cm entre as plantas na linha.

Transplantação: Não se costuma fazer.

Rotações: Não plantar leguminosas durante pelo menos quatro anos. As beterrabas, batatas, trigo, colza e milho são ótimas culturas precedentes.

Consociações: Com cereais de grão e gramíneas forrageiras, para depois servirem para adubo verde e combaterem melhor as ervas espontâneas.

Amanhos: Sachas para monda de ervas.

Regas: 30-50 litros/m2, 15 dias na altura da floração por gota a gota.

 

 

Entomologia e patologia vegetal

Pragas: Gorgulho, pírale, pulgões, mosca das leguminosas e nemátodos.

Doenças: Viroses (mosaico), bactérias e fungos (oídio, podridão do pé negro, sarna).

Acidentes: Não toleram valores superiores a 2% de cal.

 

Colheita e Utilização

Quando colher: Em maio-junho, para as culturas de outono e, no fim do verão, para as culturas de primavera.

Produção: 800-2000 kg de grão/ha (variedade branca). Existem cerca de 2500/9000 sementes por kg.

Condições de armazenamento: Tem de ser seco antes de armazenado e o local não pode ter mais de 12% de humidade.

Valor nutricional: Tem três vezes mais proteínas e duas vezes mais fósforo do que o leite de vaca. Tem cálcio, vitamina E e B, potássio, magnésio e ácidos gordos insaturados, ferro e fibras. O valor nutricional é de 30-40% de proteínas, 7-20% de gordura e 30-40%de fibra. O conteúdo de alcaloides situa-se entre 2-2,5%, tornando o tremoço amargo e tóxico, sendo preciso cozer e passar várias vezes por água.

Usos: Como alimento, para elaborar farinha e também utilizado como aperitivo salgado (demolhado em água salgada). Quando torrados, substituíam os grãos de café. As variedades com alcaloides superiores a 0,05% têm de passar por vários processos até passar o amargo. Em Portugal, a espécie L. Luteus (tremocilha) é utilizada na alimentação de cabras, galinhas e perus.

Medicinal: Recentemente, num projeto europeu (Healthy-pro-food) descobriram que o tremoço ou a sua farinha reduzem o nível de colesterol e previne a hipertensão e a diabetes.

Conselho de especialista: Em Portugal, esta cultura deve ser feita sempre no outono, pois o calor do verão tem um efeito negativo na floração e na produção do grão. Também se pode utilizar esta cultura para adubo verde para melhoria dos terrenos em azoto (fixa 50-200 unidades). Esta variedade tem menos de 100 mgkg-1 de alcaloides sendo por isso menos tóxica que a maioria das variedades (excluindo as doces).

 

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