Frutícolas

A diversidade da dieta alimentar

 

O contributo da Península Ibérica para a troca de plantas entre vários continentes.

 

Os primeiros habitantes da Terra recorriam a produtos silvestres e à caça para a sua alimentação. Na Península Ibérica, admite-se que a dieta alimentar tinha como base os frutos da azinheira e do sobreiro. Há algumas referências que indicam que o castanheiro integrava também essa base alimentar, visto que a região da serra da Estrela aparece como origem desta planta. Admite-se que terá havido uma primeira existência do castanheiro, que terá sido mais tarde reintroduzido pelos romanos (Mendes Ferrão, 2020).

Conforme refere Mendes Ferrão, há relatos de que as plantas utilizadas e conhecidas migraram para oeste desde a Ásia Central e do Norte, trazidas pelos movimentos das populações, diversificando a alimentação em toda a Europa. A Península Ibérica, beneficiou da sua proximidade com a outra margem do Mediterrâneo, área de influência dos árabes, que já cultivavam trigo-rijo e sorgo.

 

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A difusão de utilização de plantas na alimentação pela Europa teve distintas origens. Acredita-se que os iberos introduziram o milho, o grão-de-bico e o feijão-frade. Os celtas trouxeram produtos hortícolas e frutícolas e os fenícios difundiram o cultivo da videira e da oliveira. Deve-se aos gregos a introdução de plantas como a amendoeira, o marmeleiro e o loureiro. Os cartagineses contribuíram com a tamareira, a romãzeira, o alho, a cebola e o aipo. Atribui-se aos romanos o cultivo do castanheiro e dinamização da agricultura.

Foram também responsáveis por terem trazido outras plantas vindas de diversas partes do mundo como o meloeiro, do Irão; o pepino, da Índia; a alface, a chicória e a cenoura, da Ásia. Promoveram também o hábito de utilização de plantas aromáticas com origem local, nomeadamente a salsa, os coentros, a segurelha e os cominhos (Mendes Ferrão, 2020).

A Península Ibérica desempenhou um papel importante na globalização de produtos alimentares. O pioneirismo na expansão marítima promoveu a ponte entre a diversidade alimentar da Europa com a troca, entre vários continentes, de espécies com diversas origens. Esta permuta de plantas entre continentes constituiu um relevante legado e enriqueceu a dieta alimentar mundial.

Com as novas rotas marítimas, a partir do século XIV, fortificou-se um novo capítulo da diversidade de troca de plantas entre a Europa e o Novo Mundo. Nesta missão, cujas condições de aclimatação e adaptação pouco se conhecia, e em que muitas sementes perdiam o seu poder germinativo durante os meses de navegação, as ilhas atlânticas, em especial as de Cabo Verde e de São Tomé, desempenharam um papel de destaque como estações intermediárias (Mendes Ferrão, 2020).

 

Quercus rotundifolia LAM (azinheira)

 

 

Árvore perenifólia de copa arredondada e com ritidoma cinzento, rijo e fendido em pequenas placas retangulares. As suas folhas são simples, arredondadas, de margens recortadas, cor verde-escura e glabras na página superior e esbranquiçadas e pubescentes na página inferior. Enquanto jovens, as folhas das azinheiras assemelham-se às do azevinho; nas árvores adultas, tornam-se mais arredondadas (dimorfismo foliar). O seu fruto (aquénio), de maturação anual, é vulgarmente designado por bolota. A dimensão dos aquénios fruto varia entre 1,5 e 3,5 cm de comprimento.

Família: Fagaceae.
Altura: Cerca de 20 metros.
Propagação: Semente, estaca.
Época de plantação: Outubro-novembro (antes das geadas).
Condições de cultivo: Condições de sol pleno. Solos húmidos, desde que bem drenados.
Manutenção e curiosidades: A sua madeira muito resistente é utilizada para construção e marcenaria. Os bugalhos, por vezes confundidos com os frutos do carvalho, são provocados pela picada de um inseto do género Cynips. Podem viver cerca de 300 anos.

 

Quercus suber L. (sobreiro, chaparro)

 

 

Árvore perenifólia de copa larga e arredondada com ritidoma suberoso (produção intensa de súber, a cortiça). As suas folhas são simples, de margens serradas, cor verde-escura na página superior e acinzentada na página inferior, com dimensão entre os 2,5 e 10 cm. O seu fruto (aquénio), de maturação anual, é vulgarmente designado por bolota, assume uma tonalidade castanho-avermelhada quando madura. A dimensão dos aquénios varia entre 2 e 4,5 cm de comprimento.

Família: Fagaceae.
Altura: Até 20 metros.
Propagação: Semente, estaca.
Época de plantação: Outubro-novembro (antes das geadas).
Condições de cultivo: Condições de sol pleno. Solos húmidos, desde que bem drenados.
Manutenção e curiosidades: A sua madeira muito resistente é utilizada para construção e marcenaria. Os bugalhos, por vezes confundidos com os frutos do carvalho, são provocados pela picada de um inseto do género Cynips. Portugal é o maior produtor de cortiça do mundo, sendo a maior parte utilizada para produção de rolhas. Pode viver cerca de 1000 anos.

 

Olea europaea var. europaea L. (oliveira)

 

 

Árvore ou arbusto perenifólio de copa ampla e arredondada, originária da região mediterrânica (sul da Europa, norte de África e Médio Oriente). Tronco grosso, geralmente nodoso, ritidoma cinzento ou prateado. Folhas decussadas, simples e inteiras, na página superior de cor verde-acinzentada e glabras, na página inferior de cor cinzenta-esbranquiçada e muito escamosas. Pequeníssimas flores, de cor branca, reunidas em panículas que florescem no verão. Fruto uma drupa suculenta – a azeitona – verde, em jovem, e verde-acastanhada ou negra, quando madura (set.-out.).

Família: Oleaceae.
Altura: Até 15 metros.
Propagação: Semente ou por estaca.
Época de plantação: Primavera e outono.
Condições de cultivo: Suporta todo o tipo de solo, desde que bem drenados, bem adaptada a climas quentes e secos.
Manutenção e curiosidades: Planta de fácil manutenção, deve ser podada para manter a forma e o porte. É cultivada sobretudo para extração do azeite dos seus frutos, produto de grande importância na alimentação mediterrânica. As suas folhas possuem propriedades medicinais que ajudam a diminuir a pressão sanguínea e o nível de açúcar no sangue. A Olea europaea var. sylvestris – o zambujeiro – é uma subespécie da oliveira, com um porte menor.

 

Castanea sativa MILL. (castanheiro)

 

 

Árvore caducifólia de tronco cinzento-claro e brilhante, fendido em placas verticais. As suas folhas apresentam-se em forma de ferro de lança com 10-25 cm. O seu fruto é a castanha, que se encontra em grupos de 2-4 no interior de uma cúpula espinhosa “tipo ouriço”; a castanha apresenta-se madura em novembro. Árvore originária da Anatólia e da Turquia.

Família: Fagaceae.
Altura: Até 30 metros.
Propagação: Semente ou por estaca.
Época de plantação: Qualquer altura do ano.
Condições de cultivo: Sol pleno, solos arenosos e profundos.
Manutenção e Curiosidades: Não requer grandes cuidados de manutenção, apenas remoção dos ramos, folhas e flores secas. A sua madeira é de alta qualidade, e o seu fruto, a castanha, é comestível.

 

Com a colaboração de Ana Raquel Cunha e Teresa Vasconcelos.

 

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Referência bibliográfica

Braga, I. D. O Arroz em Santarém e a Globalização dos Produtos Alimentícios. (2020). In: Fiolhais, C., Franco, J., Paiva, J. P. (Coord.). História Global de Portugal. Lisboa, Bertrand Editora. Pp. 347 – 352.

Mendes Ferrão, J. E. 2020. As Plantas e a Alimentação Mundial: Contributos sobre Plantas e Novos Alimentos. Lisboa, Fundação Francisco Manuel dos Santos

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