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Água nos jardins: a frescura e a beleza

Tanque e Fonte, Paço de Calheiros

O primeiro jardim de que há registo, figura nos desenhos do túmulo de um alto funcionário da corte de Amenhotep III, perto de Tebas, no antigo Egito (1420-1375 a.C.), e nele podemos ver um tanque retangular com peixes, patos e nenúfares, com árvores em volta. Água e sombra eram fundamentais nestes primeiros jardins devido às características do clima, muito quente e seco.

Na Antiguidade Clássica, a água era um elemento frequentemente utilizado e disso temos testemunho no Canopus e no Teatro Marítimo da Villa Adriana (118-138 d.C.), em Tivoli. Durante a Idade Média, a água assumiu um papel mais modesto e marcava uma presença discreta nos jardins de Claustro, sob forma de tanque ou fonte.

Foi durante o Renascimento, em Itália, que a água passou a desempenhar um papel de uma tal importância. Ia largamente para além da sua função prática ou decorativa, já que passou a ser o sujeito da espetacularidade dos jardins e da importância dos seus proprietários, sendo a Villa d’Este um verdadeiro compêndio da sua utilização.

Após o Renascimento, já no Barroco, pela Europa fora sucederam-se os exemplos de utilização da água em complexos jogos e enormes canais, que ainda hoje nos encantam e espantam quando visitamos Versailles, Reggia di Caserta, a Granja de San Ildefonso, Chatsworth ou Peterhof.

Com o advento do jardim naturalista Inglês, no séc. XVIII, a água passou a assumir um papel mais tranquilo e natural, nos enormes lagos artificiais, de que foi mestre Capability Brown.

Tanque da Casa da Ínsua

Cá em Portugal, a utilização da água sempre foi frequente nos jardins, embora com menos exuberância, porque dela temos menos reservas. Quer para fins de utilização prática, como armazenamento para rega, quer por meros motivos decorativos, alguns dos nossos jardins encontram lugar entre os mais famosos da Europa pela beleza e originalidade dos seus lagos ou tanques de água.

O espelho de água da Quinta da Bacalhoa junto à Casa de Fresco, o canal de Azulejos de Queluz, e o Lago dos Cavaleiros de Fronteira são belíssimos exemplos lusitanos de utilização da água no jardim. Numa escala mais pequena, se formos a ver, todas as nossas Quintas de Recreio dispõem de um dispositivo de água.

Tanque da Casa de Fresco, Quinta da Bacalhoa

O elemento água nos jardins

No séc. XVIII, Antoine Dézallier d’Argenville, preconizava na sua obra La théorie et la pratique du jardinage, que “as fontes, depois das plantas, são o principal ornamento dos jardins”, isto porque a água é um riquíssimo e singular elemento decorativo. Pode sugerir-nos a frescura e a tranquilidade, se a utilizarmos numa versão de água parada, em tanque, lago ou piscina, e aproveitar o reflexo que nos oferece do que lhe está próximo. Mas, se for água em movimento, também podemos usufruir do seu som, seja ele de cascata, jato, ou o discreto murmúrio de uma fonte.

O espetáculo da água, parada ou em movimento, tem ainda a vantagem de variar ao longo do dia, consoante a luz que lhe incide, e ao longo do ano, ao sabor do humor das estações.

A água dá vida a um jardim, anima-o e complementa a paisagem da cobertura vegetal sendo que, atualmente, graças a pequenas bombas elétricas, podemos utilizá-la em circuito fechado, sem desperdício, e sem ter que recorrer a nascentes naturais ou aumentar a nossa fatura mensal.

Heian Jingu, em Kyoto

Finalmente, a água atrai múltiplos pássaros aos jardins oferecendo-nos um espetáculo de vida e movimento, quer quando vão matar a sede, quer quando se vão refrescar.

Olho para fora da janela e vejo o meu jardim esplendoroso, a acordar para a primavera neste quarto mês de inverno sem chuva. Deve ser por isso que me ocorreu este tema.

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