O ananaseiro (Ananas comosus) pertence à família Bromeliaceae e é uma planta originária das florestas tropicais da América do Sul e das Caraíbas.
O ananás é uma infrutescência (estrutura complexa que resulta da concrescência dos frutos, eixo da inflorescência, pedicelos e brácteas) que já era consumida pelas populações ameríndias, muito antes da chegada dos europeus ao Novo Mundo (Cristóvão Colombo encontrou ananaseiros na ilha de Guadalupe, em 1493).
Produção de ananás nos Açores
O ananaseiro foi introduzido na Europa no final do século XVII, quando, tal como hoje, se cultivava em estufas aquecidas.
Em Portugal, a cultura do ananaseiro está circunscrita à ilha de São Miguel, na qual foi introduzido, em meados do século XIX, por José Bensaúde (1835-1922), na contínua procura de culturas alternativas à laranjeira.
A primeira exportação de ananases dos Açores, para o mercado inglês, foi realizada em novembro de 1864, quando José Bensaúde enviou alguns ananases ao seu correspondente comercial inglês, que terão sido destinados à mesa da Rainha Victória (1819-1901).
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Fibras têxteis do ananás
Para além do ananás, esta planta pode ser utilizada para dela se obterem fibras têxteis a partir das suas folhas.
Para a extração das fibras, colhem-se as folhas exteriores e, manualmente, através de um processo de descortiçamento simples (ripagem), retiram-se ainda as camadas externas (epiderme, parênquimas), usando um objeto com margens agudas, por exemplo, um coco partido ou fragmentos de louça.
Após esta etapa, as fibras são imersas em água para que os microrganismos decomponham os resíduos de estruturas vegetais ainda ligados às fibras (tal como ocorre durante a curtimenta do linho).
Este período de imersão durava tradicionalmente cerca de cinco dias, embora atualmente, seja muito mais rápido (algumas horas), porque se adicionam compostos químicos que aceleram o processo. Terminado este processo de maceração, as fibras são lavadas, secam-se ao sol, separam-se de algum material ainda presente e fiam-se para serem tecidas.
A partir de uma tonelada de folhas obtêm-se entre 22 e 27 quilos de fibras.
O cultivo de plantas destinadas à produção de fibras é feito em condições de ensombramento e os frutos retiram-se quando ainda estão imaturos, para que a planta possa investir mais nutrientes no crescimento das folhas, e estas possam atingir maior comprimento e, consequentemente, produzir fibras mais longas.
O cultivar “Perolera” é o mais valorizado porque as suas folhas são compridas e largas. As fibras são de cor creme, com brilho semelhante ao da seda e extraordinariamente resistentes à tração.
Produção de fibras de ananás nas Filipinas
Embora sejam utilizadas em diferentes regiões do mundo (Índia, Indonésia, etc.) para variadíssimos objetos (chapéus, sapatos, redes de pesca, etc.), nenhum outro país tem uma tradição tão forte no aproveitamento destas fibras como as Filipinas.
Os espanhóis levaram o ananaseiro para as Filipinas durante o século XVI (o primeiro registo de produção de tecidos de ananás data de 1571) e esta nova fibra foi rapidamente aceite pelos nativos, que dominavam apuradas técnicas de extração e de processamento de fibras vegetais, como, por exemplo, as obtidas a partir da espécie Musa textilis (cânhamo-de-manila).
Tecidos feitos de fibras de ananás
No século XIX, os estrangeiros que visitavam as Filipinas descreviam com frequência os magníficos tecidos bordados produzidos nos conventos de Manila e as autoridades coloniais enviaram exemplares para a Grande Exposição Universal de Londres (1851).
Na Europa, durante a década de 1860, os tecidos e bordados feitos com fibras de ananás começaram a ser conhecidos e valorizados.
A princesa Alexandra da Dinamarca (1844-1925) recebeu uma prenda feita com estas fibras, quando se casou com o herdeiro do trono inglês (o futuro rei Eduardo VII) e a rainha Isabel II de Espanha (1830-1904) usou um vestido de baile feito com fibras de ananás.
Nas Filipinas, embora o cultivo do ananaseiro para fibras se encontre presente em várias zonas, a província de Aklan é aquela que produz os tecidos mais valorizados e onde a tradição é mais ancestral.
Estes tecidos tradicionais têm a designação de piña, que corresponde ao nome vernacular espanhol para ananás, e são utilizados para produzir o traje nacional – barong tagalog, – que pode atingir um elevado preço (c. 1000 euros) e é comum ser oferecido a chefes de Estado e dignitários que visitam o país.
As fibras do ananaseiro podem ser tecidas com outras fibras naturais (seda, algodão) ou sintéticas para, assim, se obterem tecidos com texturas e propriedades mais diversas.
Fotos: Luís Mendonça de Carvalho
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