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Biodiversidade do jardim português

Citrus

Os jardins portugueses tradicionais têm forte presença de árvores, arbustos e plantas vivazes, provavelmente devido à menor exigência de água por parte destas plantas e também porque as árvores proporcionam sombra e abrigo nos meses de maior calor, quando estes espaços são mais procurados.

Nos jardins que se encontram próximo das habitações, encontramos elementos clássicos da tradição mediterrânea, como as latadas (pérgulas) e bardos, os alegretes, os canteiros com plantas comestíveis ou os canteiros formais com elementos que têm um propósito essencialmente estético, como as sebes ou de murta (Myrtus communis).

Uma característica também frequente nos jardins portugueses é o facto de, com frequência, se encontrarem murados, seja por razões de segurança, de abrigo das plantas, ou simples limite divisório para definir espaços.

Embora os nossos jardins tenham incorporado plantas arbustivas e herbáceas autóctones, como o loendro (Nerium oleander) e a murta (Myrtus communis), são em maior número as plantas exóticas que aí encontramos, entre as quais as glicínias (Wisteria floribunda), provenientes do Extremo Oriente; a lúcia-lima (Aloysia citrodora), nativa da América do Sul; os martírios-do-Senhor (Passiflora spp.), os brincos-de-princesa (Fuchsia spp.) e as dálias (Dahlia spp.), todas da América Central e do Sul.

Frutos exóticos

Algumas das mais populares plantas aromáticas ou medicinais, como a alfazema-de-folhas-estreitas (Lavandula angustifolia) ou o híbrido hortelã-pimenta (Mentha x piperita), também não são autóctones do nosso país, embora sejam muito comuns nos jardins de menores dimensões.

A introdução de espécies exóticas enriqueceu a biodiversidade dos jardins portugueses e, exceto no caso das plantas invasoras, como a erva-pata (Oxalis pes-caprae) ou o jacinto-de-água (Eichhornia crassipes), não apresentam consequências nefastas para os ecossistemas circundantes, sendo mais-valias económicas e, quando se trate de plantas comestíveis.

Leia também: Poda de árvores de fruto

Também nutritivas como os:

  • os pimentos (Capsicum spp.);
  • as beringelas (Solanum melongena);
  • as abóboras (Cucurbita spp.);
  • os pepinos (Cucumis sativus);
  • os melões (Cucumis melo);
  • os feijões (Phaseolus vulgaris).

Quase todas as árvores de fruto que se encontram nos jardins portugueses são exóticas como:

  • a romãzeira (Punica granatum) do Afeganistão;
  • os citrinos (Citrus spp.) da China e Sudeste Asiático;
  • a figueira (Ficus carica); a alfarrobeira (Ceratonia siliqua)
  • a oliveira (Olea europaea) do Próximo Oriente;
  • o alperceiro (Prunus armeniaca);
  • o pessegueiro (Prunus persica);
  • a cerejeira (Prunus avium);
  • o diospireiro (Diospyros kaki);
  • a nespereira (Eriobotrya japonica)
  • a amendoeira (Prunus dulcis) da Ásia Central, China e Japão.

Estes exemplos elucidam como as espécies exóticas são importantes nos nossos jardins, reunindo, num único local, representantes botânicos de regiões tão díspares e de floras tão diversas.

Folhagem.

Cosmopolitismo português

Os jardins são exemplos do cosmopolitismo português e da sua capacidade para integrar elementos provenientes do exterior.

Embora possamos encontrar, ocasionalmente, árvores autóctones em parques e jardins, entre elas, o mais importante género arbóreo português (Quercus), ao qual pertencem todos os carvalhos caducifólios e de folhas perenes (sobreiro, azinheira).

É muito mais comum encontramos árvores exóticas, como a magnólia (Magnolia spp.), o cedro-do-Bussaco (Cupressus lusitanica), o plátano (Platanus spp.), o salgueiro-chorão (Salix babylonica), a araucária (Araucaria spp.), o jacarandá (Jacaranda mimosifolia) ou o lilás-da-Pérsia (Melia azedarach).

No grupo das árvores introduzidas, encontramos também algumas das plantas invasoras mais agressivas, como as mimosas (Acacia dealbata) e de superior importância económica,  como o eucalipto (Eucalyptus globulus) e algumas espécies de pinheiro (Pinus spp.).

A introdução de novas espécies é processo contínuo, por exemplo, a introdução, em 2005, de um exemplar de Wollemia nobilis, adquirido pelo Museu Botânico do Instituto Politécnico de Beja e, posteriormente, doado ao Jardim Municipal da mesma cidade.

Este exemplar, um fóssil-vivo equivalente a um dinossauro botânico, foi comprado num leilão da Sotheby’s, em Sydney – a primeira vez que esta casa leiloeira vendeu seres vivos. Este foi o primeiro espécime introduzido na Península Ibérica e, atualmente, encontra-se classificado com árvore de interesse público.

Pinheiro wollemi

Aromáticas e medicinais

Alguns arbustos autóctones de pequeno porte, como os tomilhos (Thymus spp.), o alecrim (Rosmarinus officinalis) ou o rosmaninho (Lavandula stoechas) estão a gerar crescente interesse como plantas de jardim, devido à menor exigência de água, cuidados fitossanitários e mão de obra. Estas plantas já se encontram adaptadas às condições edafoclimáticas portuguesas e possuem defesas químicas que afastam muitos predadores.

São plantas produtoras de óleos essenciais, muito apreciadas na preparação de matérias aromáticas (águas perfumadas, óleos, combustíveis, etc.) e também exemplos de plantas com interesse para a etnofarmacologia e a etnogastronomia, subáreas da etnobotânica, ciência que estuda a interação cultural das plantas com as sociedades humanas.

Leia também: 4 aromáticas para semear ou plantar agora 

O cultivo de plantas aromáticas e medicinais em pequenos jardins, próximos das habitações, ainda se encontra muito presente nas regiões rurais do interior do país, como nas Beiras, em Trás-os-Montes ou no Alentejo.

Esta prática enriquece o nosso património cultural, não apenas no domínio da gastronomia, mas também de outras tradições seculares, como a simbologia das plantas e os seus usos em cerimónias profanas e religiosas.

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