Jardins & Viagens

Menton, jardins do Paraíso

Situada no mais delicioso canto de França, Menton parece apreciar esse isolamento entre a montanha e o mar, aproveitando a generosidade de uma natureza que a esconde e a decora.

Menton é, decididamente, a mais bela italiana de França, uma cidade que concentra a beleza do Mediterrâneo sob todas as suas formas.

Há quem diga que o clima da Côte d’Azur se aproxima do que seria no Paraíso, mas Menton é o próprio jardim do Paraíso. Limoeiros e oliveiras centenárias convivem harmoniosamente com palmeiras e ciprestes, rodeados de flores em todas as estações.

Há variedades de rosas para todas as épocas do ano, há jardins expostos e jardins secretos, uns mais exuberantes, outros mais românticos.

Protegida pelas montanhas do frio e agreste Mistral, Menton beneficia de um excepcional microclima, permanecendo discreta e alheada do ambiente cosmopolita e mundano da Côte d’Azur.

A arte do jardim faz parte da cultura local. Dosear sombra e Sol; plantar sebes para proteger do vento Norte, já de si enfraquecido pelo muro de montanhas no “arrière pays”; procurar a água e encaminhá-la judiciosamente para onde é necessária, são tudo práticas ancestrais que não se aprenderam em escolas, mas que se herdaram de muitas gerações.

Menton é uma cidade à parte. Dizem-nos que é na Primavera que a visita se impõe.

Mas visitámo-la no Outono, em dias solarengos e temperados em que a luz outonal iluminava suavemente a natureza, conferindo-lhe um encanto muito próprio.

Na zona de Garavan percorremos as ruas tranquilas onde se erguem magníficas “villas” que evocam um opulento passado e a presença de ilustres visitantes, como a Rainha Victoria, a Imperatriz Eugénia ou o Czar Alexandre da Rússia.

Todos eles procuraram a hospitalidade do clima e contribuíram para a criação de jardins, onde plantas raras e exóticas se aclimataram sem dificuldade, florindo ao longo do ano.

La Serre de la Madone: um refúgio bucólico

É um lugar mágico, onde se desejaria viver. Concebido entre 1919 e 1939 por Lawrence Johnston, criador do famoso jardim Hidcote Manor, a Serre de La Madone é um mundo à parte.

Das suas viagens por todos os continentes, Johnston trouxe com ele uma riquíssima colecção botânica, transformando um simples talude num jardim extraordinário, onde conseguiu realizar audaciosas aclimatações graças à doçura do clima.

Numa pequena propriedade rural, Miss Campbell ergueu um jardim exótico.

Discretas escadarias unem terraços e conduzem-nos à surpresa de novos cenários. A exuberante verdura do parque reflecte-se delicadamente no espelhado de águas tranquilas de pequenos lagos, apenas perturbados pelo arrepio de uma brisa outonal.

Os nenúfares e os lótus decoram estes quadros espelhados e compõem um cenário perfeito. Nesta efervescência vegetal, as cores, as sombras, os perfumes, os sons da natureza viva remetem-nos para uma ilha longínqua ou imaginária.

Tudo se conjuga para que o passeio seja uma descoberta permanente para uso próprio. Não há caminhos óbvios, nem lugares previsíveis.

Do ponto de vista botânico, a Serre de la Madone é um lugar fascinante. Um inventário botânico permitiu recensear essências raras testemunhando o impressionante desenvolvimento de algumas dezenas de espécies que não tinham qualquer equivalente conhecido.

Além do seu interesse botânico, este jardim em permanente restauro constitui um notável exemplo de arquitectura paisagista.

Um jardim extraordinário que surpreende pelos cenários.

Jardim Botânico Exótico Val Rameh

Criado no final do Séc. XIX por Lord Radcliffe numa pequena propriedade rural, de que resta ainda um pequeno olival, o Jardim Exótico de Val Rameh fica já no perímetro urbano, perto do mar.

O jardim passou por várias mãos, sendo progressivamente enriquecido e aumentado, até ser vendido ao estado por Miss Campbell, uma inglesa excêntrica e rica, apaixonada por botânica.

Anichado na concavidade de um anfiteatro de montanhas e abrigado dos ventos do norte, Val Rameh beneficia de um ambiente quente e húmido, abrigado das geadas, o que o torna ideal para a aclimatação de plantas tropicais.

Um grande fontanário, da autoria do paisagista inglês Humphrey Waterfield, acolhe o famoso Lótus das Índias, que floresce no princípio do Verão.

Especializado em solanáceas, Val Rameh acolhe inúmeras espécies de vegetais subtropicais, assim como um exemplar raro de Sophora Toromino, uma árvore da Ilha da Páscoa, que aqui cresce ao ar livre.

A residência do jardim, que nos deixa adivinhar uma época de sonho, é uma casa ocre, revestida de flores, que se ergue frente ao terraço projectado sobre a magnífica baía de Garavan.

Val Rameh é um pequeno tesouro, uma ilha de frescura e de harmonia. O percurso desenhado para os visitantes é um excelente trajecto botânico, para algumas horas bem passadas.

Do ponto de vista botânico, La Madone é um local fascinante.

Fontana-Rosa

Menton reserva-nos ainda um leque de jardins para visitar e para nos encantar.

Maria Serena é o nome do parque criado pelo exuberante arquitecto de Napoleão III, Charles Garnier, para o seu amigo Ferdinand de Lesseps.

Um jardim de estilos variados, mas predominantemente barroco, que abriga uma magnífica colecção de palmeiras, de plantas tropicais, mas também de oliveiras e árvores de citrinos.

Há quem o considere o lugar mais temperado de França.

Vista geral do terraço.

Outro parque a visitar é o de Fontana-Rosa, adquirido em 1921 pelo romancista espanhol exilado Vicente Blasco Ibañez que quis aqui criar um espaço dedicado à leitura.

Um espaço evocador de jardins à espanhola, com alamedas, bancos, os fontanários e escadarias com cerâmicas vistosas. Bustos de escritores espanhóis e uma rotunda dedicada a Cervantes confirmam este jardim como um espaço literário.

No final do jardim, um pequeno portão abre-se à linha férrea, com a inscrição Fontana Rosa, para que os hóspedes do escritor pudessem saber exactamente o apeadeiro onde deveriam descer.

Menton é um santuário de jardins e parques. Para quem gosta verdadeiramente de jardins, Menton é dos lugares mais interessantes e variados.

O importante é não ter pressa, nem levar relógio. A natureza dá-nos as horas e acolhe-nos generosamente em qualquer estação do ano.

A riqueza da diversidade botânica está patente a cada passo.
Nenúfares gigantes num lago repleto de magia.
Em ambiente quente e húmido, as plantas reúnem condições únicas para se desenvolverem.

Fotos: Francisco Sá Bandeira

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