Frutícolas

Cacau: porque comemos chocolate?

A espécie Theobroma cacao é nativa das florestas tropicais das Américas central e do Sul incluindo a Amazónia brasileira onde cresce nos estratos intermédios da floresta na parte superior da bacia dos rios Orinoco e Amazonas onde existem registos dos seus usos há milhares de anos. Gosta de solos férteis, sombra e muita água. Estas árvores podem viver até cerca de 80 anos.

Em São Tomé era comum vê-las crescer na berma de estradas à sombra de grandes Eritrinas que atapetavam o solo com a matéria orgânica das suas bonitas flores vermelhas ou cor-de-laranja.

História

Segundo o professor Ferrão refere no seu livro “A aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses”, …o primeiro contacto dos europeus com o cacau só terá acontecido em 1502, quando Cristóvão Colombo na sua quarta viagem à América, encontrou, próximo das terras americanas, um grande barco nativo, possivelmente de negociantes, que transportava, entre outras mercadorias, uma espécies de amêndoas que os locais usavam como moeda e com as quais também preparavam uma bebida deliciosa. Estes comerciantes viriam da terra dos Maias, onde a cultura do cacaueiro já seria florescente e levá-las-iam ao longo das costas das Honduras. Os Espanhóis que estavam mais interessados no ouro e na prata, sensibilizaram-se de inicio com o facto do cacau ser usado como moeda”.

O cacau foi levado da Baía para a ilha do Príncipe como planta ornamental pela beleza que se devia ao facto das flores e dos frutos surgirem ao mesmo tempo nos ramos mais grossos. Só mais tarde quando se percebeu o valor económico de tão belo arbusto se começou a plantar em grande escala. Cometeram-se então erros graves e irreversíveis ao abaterem-se sem critério grandes árvores de sombra.

Esta ação atingiu a sua máxima expressão nos finais do Século XIX e manteve-se até cerca de 1930, foi a época das “derrubadas”. A ganância e a ignorância sobrepondo-se aos valores ambientais, como, aliás é hábito ainda hoje, infelizmente pouco aprendemos com os erros do passado. Em 1905, São Tomé e Príncipe era o primeiro produtor mundial de cacau a custo de uma desflorestação massiva.

Quando o cacau foi dado a conhecer aos europeus era para consumo das elites aristocráticas na corte espanhola. Por volta de 1660 foi levado para França pela rainha Maria Teresa de Espanha que casou com Luís XIV e que terá levado este tesouro para a casa real francesa que segundo as más línguas lhe viria a servir de consolação em muitos momentos.

Constituintes e propriedades

O cacau é rico em polifenóis que são micronutrientes com propriedades antioxidantes. Os flavonoides que fazem parte do grupo de polifenóis têm sido muito estudados pelas suas propriedades medicinais. Muitos destes estudos têm-se realizado recorrendo a compostos isolados mas alguns especialistas afirmam que para tirar maior proveito de todas as propriedades medicinais do cacau o melhor é consumi-lo na integra em vez de ingerir os compostos isolados.

O cacau é cardioprotetor, melhora as funções cardíacas, evita a formação de placas e coágulos no interior das artérias, melhora a circulação, reduz a tensão arterial e protege o coração e baixa os níveis de colesterol. É neuroprotetor, anti-inflamatório e estimulante do sistema nervoso ajudando no tratamento de pessoas que sofrem de fadiga crónica.

A teobromina e a cafeina conferem-lhe propriedades estimulantes pelo que se recomenda alguma precaução em pessoas com sensibilidade à cafeina. Beber cacau ou comer chocolate (com baixo teor de açúcar, obviamente) melhora o nosso estado de espírito e as funções cognitivas, aumenta o sentido de alerta, a memória e a atenção.

Alguns estudos realizados em jovens demonstram que o cacau, para além de melhorar a função cognitiva, combate a depressão e a ansiedade, aumentando os níveis de serotonina, a hormona responsável pela boa disposição.

Usos tradicionais

Na América dos Astecas e dos Maias, antes da chegada dos espanhóis o cacau era consumido misturado com outras plantas como a baunilha e a malagueta num elixir servido em cerimónias especiais e em rituais xamânicos. Os índios consumiam a sua polpa fresca na alimentação, só mais tarde se começou a tostar as sementes.

Esta pode ser utilizada na confeção de sorvetes, sumos ou outros pratos. O produto comercializado para o fabrico do chocolate é produzido a partir das sementes fermentadas, depois de retirada a polpa branca, uma vez fermentadas as sementes são colocadas a secar e em seguida são torradas, conferindo-lhe assim o seu aroma, cor e sabor, amargo característico.

O chocolate é confecionado a partir de uma mistura de gordura com açúcar, aromatizantes, leite e outros constituintes, sendo usado como alimento energético em sobremesas e como bebida quente para maior resistência ao frio. Pena que contenha tantos produtos para além dos que são realmente benéficos para a nossa saúde.

Muito mais se poderia dizer sobre as primeiras prensas de chocolate e os irmãos Cadbury que apesar de terem fama de tratar muito bem os seus trabalhadores fizeram fortuna com o grande negócio do chocolate.

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