Jardins & Viagens

Caminhos das pedras e da água: Pelo Vale da Cabrela até à aldeia de Broas e cascata de Armés

Iniciamos nesta edição uma série de propostas de caminhadas pela região saloia, por montes e vales entre os concelhos de Sintra e Mafra, zona de relevo acidentado onde os cursos de água escavam a pedra calcária, formando vales que, por vezes, se precipitam em surpreendentes cascatas. A menos de 30 km de Lisboa, esta região de elevado interesse paisagístico encerra segredos inimagináveis por descobrir.

A caminhada que propomos começa e termina na pitoresca fonte do Marquês em Montelavar, descendo ao vale pela calçada de pedra em direção à ponte romana que atravessa a ribeira.

A ribeira, que neste local se junta ao rio Lizandro, nasce em Algueirão e vai tendo diferentes nomes à medida que atravessa a região. Aqui, no fim do seu percurso, assume o nome de Cabrela, aldeia próxima. O curso de água cristalina é acompanhado por uma densa galeria ripícola onde um velho freixo tombado serve de ponte viva para passar a ribeira.

Entre os meses de janeiro e março, é fácil encontrar, nestes terrenos de origem calcária, narcisos (Narcissus papyraceus) e inúmeras espécies de orquídeas, sendo a Barlia robertiana a primeira a florir em simultâneo com os narcisos.

O trilho acompanha a ribeira durante 2,5 km, altura em que se inicia à esquerda a subida para a aldeia abandonada de Broas.

A aldeia situa-se no topo de um monte com declive acentuado, precisamente na fronteira entre os concelhos de Sintra e Mafra. Existem vestígios de ocupação desde tempos muito antigos, a que não será alheia a existência de campos férteis, disponibilidade de água para rega e a posição estratégica em termos defensivos.

A população vivia da atividade agrícola e da criação de gado. Os alimentos produzidos nos campos da aldeia, além das hortícolas, incluíam o trigo, o mel, o vinho e o azeite, que permitiam que os habitantes fossem autossuficientes em termos alimentares.

Encontra-se desabitada desde os anos 80 do século XX, mantendo a sua forma original com os edifícios de pedra, agora em ruína, de várias tipologias, habitações, armazéns, currais, lagares, eiras e um pombal. No centro, ainda se mantém um enorme freixo (Fraxinus angustifolea) rodeado de bancos de pedra onde a população se reunia para conviver e debater assuntos importantes para a vida da comunidade.

Nos campos de cultivo abandonados ainda persistem os pomares de pereiras, macieiras e nogueiras, de par com a vegetação autóctone que vai novamente invadindo os campos e as ruínas das casas de pedra. No reino do carvalho-cerquinho (Quercus faginea), outros a ele se juntam, caso do carvalho-negral (Quercus pyrenaica) e do carrasco (Quercus coccifera). Ao longo dos cursos de água, os freixos (Fraxinus angustifolea) dominam, acompanhados por ulmeiros (Ulmus spp.) e salgueiros (Salix spp.).

Na aldeia, tomar o trilho à esquerda do freixo, sempre em frente, descendo a meia encosta. A topografia do terreno com várias elevações cónicas permite vistas amplas sobre os montes e aldeias que pontuam a região. Retomar o caminho da ribeira e, para lá da ponte romana, seguir pelo estradão em busca da cascata de Armés.

Ao chegar à estrada de alcatrão (Estrada dos Casais), virar à esquerda e tomar de novo o caminho à direita. Mais à frente, depois de uma pequena ponte, é o local onde a ribeira do Adrião se junta à Cabrela, aumentado o seu caudal. Por aqui começa o bosque dos Caçadores; mais à frente, a ruína de uma azenha meia coberta de mato marca o local onde se começa a descer para a cascata.

A azenha e a levada que encaminhava a água de modo a mover o engenho onde os cereais eram moídos, cuja farinha era a base do famoso pão saloio, são como que o aperitivo para o que vem a seguir. Uma surpresa inesperada, uma monumental cascata que, de inverno, cria um véu de água contínuo com vários metros de largura que esconde a parede de pedra.

Na impossibilidade de conseguir fazer uma descrição que transmita a sensação deste local único propomos que desfrute do momento em total comunhã•o com a Natureza. Deslumbre-se.

PONTOS DE INTERESSE:

Fonte do Marquês; calçada e ponte romana; ribeira da Cabrela, aldeia de Broas e cascata de Armés.

RECOMENDAÇÕES: Caminhada de cerca de 12 km. Evitar fazer o percurso na época das chuvas, pois parte dos trilhos fica muito enlameada e as calçadas escorregadias. No verão, não se esquecer do fato de banho.

GUIA E FOTOGRAFIAS de David Coelho – INSTAGRAM: @coelho40

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