Delisa Xarepe e a paixão pelas plantas suculentas

No mês do sol e do calor, entrevistámos a autora do livro Sucus Mei — Uma viagem pelo universo das suculentas, uma obra inspiradora com muitas dicas e conhecimentos técnicos acerca dos benefícios e possibilidades que as suculentas trazem para os jardins.

Licenciada em Agronomia pela Universidade do Algarve, Delisa Xarepe tem experiência nas áreas da produção agrícola e dos espaços verdes, trabalhando na sua empresa, especializada na construção e manutenção de jardins e, paralelamente, no design com catos e outras suculentas.

A admiração pelas suculentas é contagiante entre os amantes de jardinagem. Como é que uma estudante de Agronomia entrou no lado mais ornamental do mundo vegetal?

Desde pequena que tive uma ligação muito forte com a Natureza. As minhas brincadeiras de miúda eram passadas no campo ou nas hortas dos meus avós e bisavós. Iniciei a minha carreira profissional na produção agrícola, mas rapidamente me apercebi de que não era realmente o que eu pretendia, pois o único propósito da planta era a sua mera exploração para a obtenção de um produto final. Entrei na área dos espaços verdes por ser bastante dinâmica, já que o objetivo é proporcionar ao cliente um espaço que o aproxima da Natureza e o deixa com um sorriso rasgado no rosto. Para mim esta é uma sensação extremamente gratificante.

O livro tem um título especial. Qual o seu significado e o que a motivou a escrever esta obra?

O título desta obra é uma alusão à origem etimológica da palavra suculentas, que deriva do termo latino sucus, que significa “seiva” ou “suco”. Mei significa “de mim”. No fundo, este título pretende ilustrar esta relação muito pessoal e o carinho que tenho por este grupo de plantas. Essencialmente, o que despertou a minha atenção para estas plantas foi a sua beleza bizarra, mas também a sua simplicidade e resiliência. Uma vez envolvida neste mundo, a minha curiosidade crescia. No entanto, notei que toda a informação que encontrava estava bastante dispersa e, sobretudo, em língua inglesa. Decidi então escrever esta obra, um guia completo e simplificado, que introduz as suculentas ao grande público numa linguagem simples e acessível a todos. Além disso, verifiquei que não existia nenhuma obra do género escrita por autores portugueses, o que me motivou ainda mais.

As espécies de suculentas são das mais resistentes à oscilação meteorológica. Com a incerteza climática que vivemos, conte-nos mais sobre o porquê de estas espécies serem a aposta certa nos jardins para o futuro.

Decidi conectar as suculentas ao tema das alterações climáticas de modo a consciencializar os leitores para a tão necessária mudança nas nossas práticas paisagistas e para que o cidadão comum entenda que também está nas suas mãos a possibilidade de mitigar os efeitos da mudança climática, através de uma alteração da sua perceção dos espaços verdes. Tomemos o exemplo do Algarve, uma região caracterizada por algum grau de aridez e de secura. Neste caso em particular, a aposta na construção de jardins com baixo consumo de água, como os jardins de suculentas, extraordinariamente elegantes e estéticos, deve ser tida em conta.

Quando desenha um jardim usando apenas suculentas, há regras ou pormenores que tem em conta para que a composição resulte de forma bonita e saudável ao longo dos anos?

Ao desenhar um jardim exclusivamente de catos e outras suculentas, o meu desenho tem por base o jogo de formas, cores e tamanhos. Detalhes como pequenas mobilizações do terreno, para formar zonas elevadas e de depressão, reproduzem algumas paisagens, o que torna o jardim mais natural e realista. Também gosto de incluir rochas, pois proporcionam cor e textura ao jardim, tornando-o mais sofisti-cado. Outro pormenor interessante é criar a ilusão da presença de água, mediante a utilização de seixos, dispostos de forma sinuosa.

A água é praticamente indispensável nos jardins que cultivamos. As suculentas lembram-nos disso por saberem viver na sua ausência. Que outros ensinamentos tirou da observação e cultivo destas plantas?

No caso particular dos catos, a população tem tendência a ver apenas uma planta cheia de espinhos, mas por detrás desta aparência “perigosa” estão milhões de anos de evolução, de engenho e perseverança, que culminaram num ser completamente preparado para resistir às piores condições. Para muitas pessoas possuir uma planta pode ser uma tarefa frustrante, pois acaba sempre por morrer. Regra geral, o consumidor compra espécies exóticas, pois são atraídos pela sua exuberância. Contudo, estas espécies requerem cuidados meticulosos e exigentes. Assim, as suculentas são uma opção mais realista e adequada ao nosso estilo de vida moderno, uma vez que pouco exigem de nós.

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