Jardins & Viagens

Jardim do aeroporto da Madeira

jardim do aeroporto da ilha da madeira

 

A história do compromisso entre o estacionamento para o aeroporto e a salvaguarda do património natural.

 

A Quintinha de Nossa Senhora da Boa Viagem foi criada na década de 1930 por Nuno Porto. Graças ao amor que aquele médico nutria pela Natureza, foram plantadas numa área descampada do sítio de Santa Catarina, na freguesia e concelho de Santa Cruz, muitas espécies exóticas e indígenas que deram origem a um espaço verde com grande interesse fitogeográfico e paisagístico.

Por sua morte, aquele espaço verde passou para a posse da sua filha Maria Eugénia Vasconcelos Porto Ribeiro, que continuou a preservá-lo. Em 1990, possuía um valioso conjunto de árvores da flora madeirense, constituído por 12 tis (Ocotea foetens), dos quais quatro de grande porte, dois loureiros (Laurus novocanariensis), 20 barbusanos (Apollonias barbujana) e 12 dragoeiros (Dracaena draco subsp. draco), sendo um frondoso.

 

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Da coleção de árvores exóticas, de origem tropical e subtropical, destacavam-se o pinheiro-de-damara (Agathis robusta), duas espécies de araucárias (Araucaria bidwillii e Araucaria columnaris), a árvore-do-fogo (Brachychiton acerifolius), a canforeira (Cinnamomum camphora), quatro espécies de eucaliptos (Corymbia calophylla, Corymbia citriodora, Corymbia ficifoliae, Eucalyptus camaldulensis), a grevílea (Grevillea robusta), a nolina (Beaucarnea recurvata), o pândano (Pandanus utilis), o pinheiro-de-alepo (Pinus halepensis), a scótia (Schotia brachypetala) e a chama-da-floresta (Spathodea camapnulata). A quintinha também possuía um interessante grupo de palmeiras (Archontophoenix cunninghamiana, Brahea armata, Chamaerops humilis, Chambeyronia macrocarpa, Livistona chinensis, Phoenix canariensis, Syagrus romanzoffiana e Washingtonia filifera).

 

 

O projeto inicial de ampliação do aeroporto da Madeira previa placas de estacionamento para automóveis pesados e ligeiros na área da Quintinha de Nossa Senhora da Boa Viagem. A importante coleção de árvores estava condenada a desaparecer. Perante a ameaça, o Clube de Ecologia Barbusano realizou, a 5 de junho de 1990, uma ação de sensibilização com o objetivo de alertar as autoridades regionais e nacionais para a necessidade de preservar aquele património natural e cultural. Posteriormente, em janeiro de 1992, contestou o estudo de impacto ambiental (EIA) e sugeriu alternativas para a localização dos parques de estacionamento. A resposta não tardou. Miguel Sousa, então vice-presidente do Governo Regional, declarou ao Diário de Notícias (11 de fevereiro de 1992) que defendia a preservação do património florestal da Quintinha de Nossa Senhora da Boa Viagem.

Do debate público resultou uma solução intermédia. A propriedade rústica e urbana foi expropriada com o objetivo de construir um estacionamento para automóveis ligeiros. Desapareceu a plantação de bananeiras, a casa e uma fração do jardim, mas a maioria das árvores notáveis foi preservada.

Concluídas as obras do aeroporto, esse espaço foi transformado num elegante jardim, com uma área aproximada 5500 m2. No último trimestre de 2006, foi requalificado com a criação de um núcleo de flora madeirense e a introdução de novas espécies exóticas, visando a seu usufruto como jardim dos sentidos.

Não lhe faltam formas e cores para impressionar positivamente a vista. O loureiro, a canforeira, o eucalipto-com-cheiro-a-limão, o alecrim, a planta-das-pipocas e a alfazema são excelentes para testar o olfato. A nespereira, a figueira, a goiabeira e a pitangueira podem aprimorar o gosto.

Apesar de a unidade e o espírito da Quintinha de Nossa Senhora da Boa Viagem terem desaparecido, é um privilégio a existência de um pequeno paraíso vegetal, entre um aeroporto e uma estrada com muito tráfego, onde é possível escutar o silêncio. Não posso terminar esta breve crónica sem um reparo. Os senhores franceses que detêm a ANA, empresa responsável pela gestão do Aeroporto da Madeira, devem ter consciência de que, nesta ilha das flores, os jardins devem ser bem cuidados!

 

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