Jardins & Viagens

Jardins de Portugal: Rota do Litoral Centro

Estende-se por um vasto território entre as áreas metropolitanas de Lisboa e Porto, caracterizado por uma relativa proximidade ao oceano Atlântico e confina a nascente com as serras do Buçaco, Lousã, Sicó, Aires e Candeeiros. 

Coimbra reúne um vasto conjunto de jardins e parques históricos, alguns deles instalados sobre partes de antigas cercas conventuais como o Parque de Santa Cruz ou da Sereia, com o seu notável Jogo da Bola, ou o Jardim Botânico e o notável Jardim da Manga e outros jardins públicos de génese mais recente. Inclui espaços religiosos muito distintos como a cerca e os claustros do Mosteiro de Alcobaça, o Santuário de Nossa Senhora da Piedade na Lousã, o Santuário de Fátima e a Mata Nacional do Buçaco. As termas têm especial expressão neste território sendo o Parque D. Carlos I o ex-líbris dos parques termais portugueses pela sua associação ao hospital termal mais antigo do mundo. Na envolvente de Coimbra, a rota integra ainda a emblemática Mata Nacional do Choupal e a Quinta das Lágrimas, com os seus jardins e notável património botânico e cenário da história de amor de Pedro e Inês que perdura na memória há mais de seis séculos e, os jardins das villas romanas de Conímbriga.

  1. PARQUE D. PEDRO, AVEIRO

Está construído sobre a cerca do antigo convento franciscano de Santo António, situado fora da muralha da cidade, bem próximo do atual Museu de Aveiro. Trata-se de um parque municipal da cidade, oficialmente designado por Parque Infante D. Pedro (1392-1449), filho do rei D. João I e de D. Filipa de Lencastre. O convento, fundado no início do século XVI em terrenos localizados no exterior das muralhas da vila, tinha na sua frente o campo de Santo António, que corresponde à parte alta do jardim e onde, depois da extinção das ordens religiosas em 1834, foi instalado um passeio público. Mais tarde, o parque estendeu-se para a parte baixa nos terrenos da cerca, outrora alagadiços, com projeto do jardineiro paisagista Jacintho de Mattos. O jardim foi inaugurado em 1927. Na década de 1980, a câmara municipal expandiu o parque para poente na chamada Baixa de Santo António. Atualmente, está integrado na estrutura verde urbana da cidade de Aveiro com a designação de Parque da Cidade. 

Este parque retém a memória dos vários momentos do seu percurso. As fachadas da igreja do convento de Santo António, lado a lado com a capela da Ordem Terceira de São Francisco, são uma referência. Na parte alta do jardim, a presença da araucária monumental e o coreto são dois elementos identificadores e memória dos tempos do passeio público. A balaustrada coberta por pérgula faz a transição da parte alta para a parte baixa e deixa antever a expansão centenária do parque onde se mantém o lago e pontuam árvores de grande porte. 

2. PARQUE DAS TERMAS DA CURIA

A notoriedade das termas da Curia na Anadia teve origem não apenas nas suas águas medicinais, mas também do seu prestígio como local de lazer e repouso. As virtudes terapêuticas e medicinais das águas da Curia foram descobertas em 1863.  A Sociedade das Águas da Curia foi fundada, em 1900, com o objetivo de criar uma estância moderna. O rei D. Carlos concedeu o alvará em 1902 e, um ano depois, as termas abriram ao público abarcando as três nascentes de águas medicinais: Principal, Férrea e Olhos. Além do edifício termal, foram construídos hotéis e pensões, criados acessos viários e um parque. Aqui colaboraram notáveis arquitetos portugueses da primeira metade do século XX como Raul Lino, Jaime Inácio dos Santos, Norte Júnior, Luís Benavente, Cottinelli Telmo e Cassiano Branco. Jacintho de Mattos, o jardineiro paisagista portuense, foi chamado para projetar o parque, tendo seguido o chamado estilo misto – um traçado de base paisagista aplicado ao espaço e jardins formais associados aos edifícios. 

O parque é constituído por uma área vedada com cerca de 14 hectares a que se acede percorrendo uma notável alameda de plátanos que se inicia na estação de comboios da Curia. Tem como elemento central um enorme lago de margens sinuosas, com uma ilha ao centro onde se encontram alguns equipamentos, e que confere um ambiente naturalizado ao lugar que contracena com o ambiente formal dos jardins que servem os edifícios das termas – estabelecimento termal e buvette – os diversos hotéis e os espaços comerciais, café e esplanada.   

3. Conímbriga

Localizadas na freguesia de Condeixa-a-Velha, as ruínas da cidade de Conímbriga constituem um dos mais importantes sítios arqueológicos em Portugal. Encontram-se classificadas como Monumento Nacional e incluem o Museu Monográfico de Conímbriga, criado em 1962. Em matéria de jardins, em Conímbriga, são particularmente notáveis os associados a duas domus aristocráticas: a Casa dos Repuxos e a Casa de Cantaber, em que foram identificados os espaços dos viridarium (jardins de prazer) nos peristilos e os espaços dos hortus

Esta povoação romana integra estruturas da Época do Ferro e localiza-se, no meio da grande via que ligava Olisipo (Lisboa) a Bracara Augusta (Braga). A Casa dos Repuxos é uma grande residência aristocrática, cuja construção data do início do século I. Constitui o melhor exemplo da arte do mosaico, da pintura mural e da arquitetura dos jogos de água que se conhece na cidade. O jardim é um pequeno pátio com um impluvium de planta quadrangular, que preserva a estrutura hidráulica original com mais de 500 repuxos, decorado ao centro por um canteiro que forma uma cruz, rodeado por um conjunto de mosaicos figurativos com cenas de caça, passagens mitológicas, estações do ano, etc. A Casa de Cantaber, a maior da cidade, foi construída no último quartel do século I d. C. No interior, foi criado um jardim convertido em termas privadas. No centro do peristilo, foi instalado um tanque de grandes dimensões, decorado com quatro canteiros simétricos que formam uma cruz lobulada.

4. Jardim Botânico da Universidade de Coimbra

Localiza-se na parte alta da cidade, exteriormente à antiga muralha, e estende-se por uma área de 13,5 hectares. Fundado, em 1772, no âmbito da reforma pombalina da universidade, a sua história e a da universidade confundem-se.  Em 1731, já D. João V tinha anunciado a sua construção, mas, efetivamente, foi com a outorga dos Estatutos da Universidade pelo Marquês de Pombal naquele ano que o Horto Botânico se tornou realidade. O jardim integrou a candidatura do sítio Universidade de Coimbra, Alta e Sofia à inscrição na Lista do Património da Humanidade da UNESCO que se confirmou em 2013.

Ocupa uma parte da cerca dos Marianos e da cerca do Colégio de S. Bento. Domenico Vandelli (1735-1816) foi o seu primeiro diretor até 1791, tendo deixado concluído o grande terraço conhecido como o Quadrado. Foi sucedido por Félix de Avelar Brotero (1749-1828), que instalou o jardim. Entre 1942 e 1974, a direção foi assumida por Abílio Fernandes, que acompanhou o último período construtivo do jardim, sobretudo entre 1940 e 1960, em que houve intervenções como a construção da Estufa Fria ou a remodelação do quadrado central. Acede-se ao jardim a partir de um portão monumental, assinalado com a estátua de Brotero. Uma larga avenida corre a todo o comprimento o gradeamento do jardim, sobrelevada em relação ao patamar superior com os seus canteiros destinados à sistemática das plantas e onde ainda permanecem árvores centenárias. 

5. Jardim da Manga

Chamado Jardim da Manga, situa-se sobre o antigo claustro da Manga do Mosteiro de Santa Cruz, fundado em 1131 no exterior das muralhas da cidade de Coimbra, atrás da Câmara Municipal. Do mosteiro apenas resta a igreja e o claustro do Silêncio e a fonte do antigo claustro da Manga. Foi criado pela Ordem dos Cónegos Regrantes de Santo Agostinho, com o apoio de D. Afonso Henriques e de seu filho D. Sancho, que aqui se encontram sepultados. A sua construção decorreu ao longo de praticamente um século, de 1131 a 1228, tendo sido, posteriormente, alvo de numerosas obras de reconstrução. A principal ocorreu no reinado de D. Manuel I, na primeira metade do século XVI, e compreendeu a reconstrução do claustro do Silêncio e o aumento do mosteiro em torno de um novo claustro, o claustro da Manga. 

Com a execução do Plano de Melhoramentos da Quinta de Santa Cruz, elaborado em 1885, o claustro da Manga foi exposto à cidade, com a demolição da ala norte do edifício. A sua construção terá sido iniciada, em 1530, por João de Ruão. Do jardim do claustro efetivamente apenas resta a notável fonte com o templete, as suas quatro pequenas capelas cilíndricas e pequenos tanques, mas que é considerada uma das mais belas peças da arte dos jardins portugueses.

6. Jardim de Santa Cruz

Mais conhecido por Jardim da Sereia, é hoje um jardim público no centro da cidade de Coimbra com entrada pela Praça da República. No século XVIII, foi uma mata, criada por D. Gaspar da Encarnação para recolhimento e meditação dos monges de Santa Cruz no cimo da cerca, a 800 metros do que ficou hoje dos edifícios da ordem religiosa – a Igreja de Santa Cruz, o Claustro da Manga, etc. 

A entrada no jardim é feita pela Praça da República, através de um pórtico triunfal de três arcos, apoiados em pilastras e decorado por três esculturas representando a Caridade, a Fé e a Esperança. O pórtico é ladeado por dois torreões de planta quadrada, com ornamentos de estilo barroco. Ao pórtico segue-se o recinto do Jogo da Péla, ladeado por muros baixos com bancos decorados com azulejos. Este recinto desemboca numa cascata de três corpos que tem ao centro a escultura de Nossa Senhora da Conceição e, em plano mais recuado, dois grandes medalhões de azulejo figurativo e esculturas. Deste terreiro parte um escadório com diversos patamares marcados por tanques de água com repuxos, ladeados por bancos de pedra com o encosto de azulejos. No último patamar, localiza-se a Fonte da Nogueira ou da Sereia, com uma espécie de gruta ao centro, abrigando a figura de um tritão com barbas abrindo a boca a dois golfinhos e a quem chamaram sereia, o que explica a designação popular de Jardim da Sereia. O jardim é atravessado por um circuito de percursos que cruzam a mata, culminando num grande lago de forma circular. 

7. Jardim da Avenida Sá da Bandeira

Esta avenida é uma das principais artérias da cidade que liga a Praça da República e o Parque de Santa Cruz, na parte alta da cidade, à rua Olímpio Nicolau Rui Fernandes e, logo, à baixa da cidade. A avenida com 50 metros de largura é composta por duas largas vias paralelas, separadas por uma extensa faixa ajardinada de 32 metros de largura e 378 metros de comprimento, cortada por ruas transversais. Aqui corria a chamada Torrente dos Banhos Reais. 

Com vista à transformação urbana desta zona da cidade e antevendo a importância que a cerca do Mosteiro de Santa Cruz detinha, o município adquiriu a cerca do mosteiro em 1885 e mandou elaborar o Plano de Melhoramentos da Quinta de Santa Cruz, com o objetivo de ampliar o espaço urbanizável e criar novas ligações viárias e um passeio público a ligar a parte alta da cidade à baixa. As obras ficaram concluídas em 1906. No entanto, o jardim da placa central da avenida só foi concluído em 1928, segundo projeto do jardineiro paisagista portuense Jacintho de Mattos, organizado segundo o eixo longitudinal da avenida composto por canteiros e alinhamentos de plátanos de ambos os lados da faixa central e pontuado por araucárias que são os elementos mais distintos do jardim.

8. Parque Manuel Braga

Este parque localiza-se em Coimbra, na margem direita do rio Mondego, a montante da Ponte de Santa Clara, com vista para a margem esquerda do rio, de onde se consegue ver os mosteiros de Santa Clara-a-Velha e Santa Clara-a-Nova e o Convento de São Francisco. O nome foi-lhe atribuído em 1955, em homenagem ao Dr. Manuel Braga (1868-1945), grande impulsionador na valorização e na criação de espaços verdes na cidade, como a Mata de Vale de Canas, os jardins da Avenida Sá da Bandeira e, em particular, este jardim público. 

Localizado entre a Avenida Navarro, o rio e o porto dos Bentos, era conhecido por Ínsua dos Bentos. Pertencia ao Colégio de São Bento, construído no século XVI, fora da área muralhada da cidade cuja cerca se estendia até ao rio e foi adquirido pela Câmara Municipal em 1888. Os aterros foram concluídos em 1911 e, na década de 1920, foram transformados em jardim público, ficando encarregue da execução do projeto o jardineiro paisagista Jacintho de Mattos que aqui introduziu uma composição marcada por uma forte axialidade e simetria criadas através de avenidas lineares ladeadas por alinhamentos de árvores e canteiros relvados com bordaduras. Junto ao rio, existe um muro de suporte ao longo do qual corre uma avenida-miradouro. O parque foi sendo palco de muitos eventos da cidade até ao final do século passado. O município deslocou-os e procedeu a um programa de reabilitação do parque.

9. Penedo da Saudade

É um parque e miradouro da cidade de Coimbra, que data do século XIX (1849), Com uma vista ímpar sobre a parte oriental da cidade e o rio Mondego até à serra do Roxo e à serra da Lousã, está tradicionalmente ligado aos amores de D. Pedro e D. Inês de Castro, por ter sido este o refúgio de D. Pedro para chorar a morte da sua amada. No seguimento de outros jardins e parques que fez para a cidade de Coimbra, Jacintho de Mattos terá sido contactado para a reestruturação do jardim do Penedo da Saudade na década de 1920, tendo a obra ficado concluída entre 1930 e 1931. 

O jardim tem uma parte superior, correspondente à zona mais plana e uma parte mais acidentada da encosta, voltada a sul e nascente. Nos espaços designados por Sala dos Cursos e Retiro dos Poetas, encontram-se placas com versos de antigos estudantes e escritores, sendo o mais antigo de 1855, que ligam o espaço à cultura coimbrã e à sua academia. O jardim integra ainda diversas esculturas evocativas de figuras coimbrãs que reforçam o elevado valor simbólico deste jardim-miradouro.

10. Parque D. Carlos I/Parque das Termas das Caldas da Rainha

Este parque no centro da cidade das Caldas da Rainha, está ligado à descoberta, em 1487, do poder curativo das águas que brotavam no sítio da Copa, no caminho que ligava Óbidos à Batalha, e à rainha D. Leonor, mulher do rei D. João II, fundadora das Misericórdias e promotora da construção de hospitais, que fundou a cidade a partir da construção do Hospital Termal em funcionamento até aos nossos dias. No século XVIII, a mando de D. João V, o hospital foi reconstruído e ampliado e surgiu pela primeira vez a ideia de afetação de um terreno para recreio dos doentes. O parque foi antecedido pelo Passeio da Copa, construído nos finais do século XVIII, em frente ao hospital e inaugurado em 1892. A família real portuguesa marcava presença na vila a partir do último quartel do século XIX, nomeadamente o rei D. Carlos. No entanto, as instalações termais modernizaram-se e surgiu a necessidade de transformar o Passeio da Copa num parque, tendo tal desígnio sido entregue ao arquiteto-engenheiro Rodrigo Maria Berquó (1839-1896), administrador do Hospital Termal (1888-1896) e presidente da Câmara das Caldas da Rainha (1890-1891). O parque foi inaugurado em junho de 1892 e recebeu o nome de Parque D. Carlos I. Nesse mesmo ano, foi aprovado o projeto do novo Hospital Termal − os Pavilhões do Parque −, que compreende sete pavilhões, originalmente destinados a enfermarias, mas que nunca funcionaram como tal. 

O parque divide-se em três zonas. Na primeira, concentram-se os equipamentos, designadamente cortes de ténis, casa de chá, coreto, lago, Casa dos Barcos e o Museu José Malhoa, inaugurado em 1940. A segunda ocupa principalmente a área sudeste do parque, e a terceira corresponde à Mata D. Leonor, que ocupa cerca de um quanto da área total do parque. 

11. Mata Nacional do Choupal

É um dos ex-líbris da cidade de Coimbra, desde cedo imortalizada por poetas e escritores. Com uma área de 79 hectares, estende-se ao longo de dois quilómetros na margem direita do rio Mondego, a noroeste da cidade, sendo limitada a sul pelo rio Mondego e a norte por um canal de rega. A sua origem está ligada às ações desenvolvidas em finais do século XVIII para diminuir os efeitos do assoreamento do rio Mondego, que desde o século XIII já se faziam sentir no vale do rio Mondego. Teve como primeira função a fixação e proteção dos terrenos agrícolas marginais, através da realização de plantações nas suas margens. Conhecida como a Quebrada Grande, um dos primeiros locais a ser plantado com uma coleção de espécies que integravam as matas climácicas ribeirinhas, como o choupo, o amieiro, o freixo, o salgueiro, o ulmeiro e o lódão, o seu nome foi substituído por Mata do Choupal, uma vez que o choupo, espécie de rápido crescimento, sobressaiu relativamente às outras espécies presentes. 

Atualmente, a Mata Nacional do Choupal caracteriza-se por um bosque misto de folhosas, na sua maioria caducifólias, substituindo os eucaliptos, e onde domina uma curiosa associação entre o loureiro e os aceres, principalmente o Acer negundo e o Acer pseudoplatanus. Já no século XIX, o crescimento e a manutenção da mata trouxeram a função de recreio e lazer, que ainda hoje se mantém, ao que acresce as ações de educação ambiental. A mata integra diversas estruturas de apoio, como o parque de merendas, a área desportiva e a área vocacionada para a prática da educação ambiental.

12. Santuário de Nossa Senhora da Piedade 

Localiza-se na vila da Lousã, na EM580, já na encosta, no vale encaixado do rio Arouce, um afluente do Ceira e este do Mondego, e junto ao castelo da Lousã, também conhecido como castelo de Arouce. É indissociável da paisagem envolvente caracterizada pela acidentada orografia das formações xistentas e do castelo, que pertenceu a uma das primeiras linhas defensivas criadas para controlar os acessos a sul de Coimbra, na segunda metade do século XI. A pequena Capela de Nossa Senhora da Piedade dá o nome ao lugar. 

O santuário surge documentado pela primeira vez em 1087. É composto pela Capela do Senhor dos Aflitos, localizada junto ao castelo e construída em 1912, e outras três no morro fronteiro ao castelo: São João, Senhor da Agonia e Nossa Senhora da Piedade. O acesso a estas capelas, construídas entre os séculos XV e XIX, é feito por uma escada rampeada revestida por lajes de xisto, que parte do adro da capela de São João, construída no século XV. A pequena capela do Senhor da Agonia foi construída no século XIX, a que se segue, no cume do penhasco, a Capela da Nossa Senhora da Piedade, rodeada de um pequeno adro. O município da Lousã está equipado por um conjunto de trilhos pedestres, sendo um dos mais emblemáticos o que leva do centro da vila, passa pelo castelo e pelo santuário, e leva às emblemáticas Aldeias de Xisto da serra como o Talasnal ou o Casal Novo. 

13. MATA NACIONAL DO BUÇACO

Situada no concelho da Mealhada, tem cerca de 105 hectares e desenvolve-se em encosta até atingir a Cruz Alta, a 547 metros de altitude, com a sua vasta vista e virado ao mar. Na origem desta cerca conventual, encontra-se um Deserto de Carmelitas Descalços construído e vivido ao longo de dois séculos entre 1628 e 1834. Os monges transformaram o lugar, física e simbolicamente, procurando o distanciamento do mundo e uma vida asceta num ambiente marcado pelo silêncio. Realizaram várias obras: a edificação de um convento, a construção do alto muro cercando toda a propriedade, etc. A introdução da Via Sacra deveu-se ao reitor da Universidade de Coimbra, D. Manuel Saldanha que, em meados do século XVII, mandou colocar cruzes evocativas dos passos da Paixão de Cristo, as quais viriam a ser substituídas por 20 capelas. 

Após a extinção das ordens religiosas, o Buçaco sofreu uma forte transformação na segunda metade do século XIX e inícios do século XX. Em 1855, passou para a Administração Geral das Matas do Reino e começaram a ser construídos caminhos, estradas, construções de apoio e realizados trabalhos de arborização. Datam deste período a construção da Fonte Fria, a introdução da feteira e o Palace Hotel do Bussaco edificado no local do convento.

Um vasto arboreto cobre cerca de 80 por cento da área com uma notável diversidade de espécies que beneficiam de um microclima húmido e temperado sob a influência do Atlântico. Destacam-se exemplares notáveis quer de espécies arbóreas autóctones quer exóticas. Os cedros-do-buçaco (Cupressus lusitanica), originários do México, são o ex-líbris da mata. A mata climácica conserva as características típicas da floresta primitiva antes da ocupação humana, sendo de destacar o adernal, uma formação vegetal única pela sua idade e composição dominada pelos adernos (Phyllyrea latifolia) de grande porte arbóreo. 

14. QUINTA DAS LÁGRIMAS

Nos jardins da Quinta das Lágrimas, acumulam-se memórias desde o século XIV. O documento mais antigo onde a quinta é referida data de 1326, ano em que a Rainha Santa Isabel mandou fazer um canal para levar a água de duas nascentes para o Convento de Santa Clara. Ao sítio de onde saía a água chamou-se Fonte dos Amores, por ter presenciado a paixão de D. Pedro, neto da Rainha Santa, por Inês de Castro. A outra fonte da quinta foi batizada Fonte das Lágrimas por Luís de Camões, por ter nascido das lágrimas choradas pelas ninfas pela morte de Inês de Castro brutalmente assassinada. “Lágrimas são a água e o nome amores”, escreveu Camões nos Lusíadas.

Em 1995, o palácio da Quinta das Lágrimas foi transformado em hotel (cinco estrelas desde 2017). Entre 2004 e 2008, foi recriado um jardim medieval, foram restaurados os muros da mata e os canais dos Amores e das Lágrimas, foram plantadas cortinas de vegetação, uma alameda de sequoias e um jardim japonês dentro do hotel. Em julho de 2008, foi inaugurado o anfiteatro Colina de Camões (Primeiro Prémio Nacional de Arquitetura Paisagista 2008), onde todos os anos, em julho, se realiza um evento cultural de nível internacional, o Festival das Artes.

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