Bárbara Monteiro é a responsável e o rosto principal do projeto Mainova, uma marca de vinhos e azeites localizada no Vimieiro, Alentejo.
Filha mais nova da família Monteiro, que tem raízes no sector da cerâmica, Bárbara decidiu mudar de vida e dedicar-se inteiramente ao negócio familiar iniciado pelos pais, mudando-se de Fátima para o Alentejo juntamente com o marido, João.
Uma herdade no Alto Alentejo e uma família com vontade de lançar raízes, crescer e fazer valer o que de melhor a terra tem para oferecer. Esta é a base para uma história que promete dar frutos. A Mainova produz vinho e azeite em modo biológico, com respeito pelo lugar e pelas pessoas.
Fale-nos um pouco sobre a origem e a história desta empresa.
A Mainova nasceu duma vontade muito pessoal: criar algo com propósito, que respeitasse a terra, o tempo e as pessoas. Somos uma empresa familiar, com raízes na agricultura e no amor por tudo o que é autêntico. Quando os meus pais conheceram esta herdade no Alentejo, perceberam que ali havia algo especial. A partir daí, começaram a plantar, a cuidar e a construir, passo a passo, com o coração. Mais tarde, eu entrei no projeto, com a ambição de criar valora este lugar através da criação de marca própria; até então só vendíamos a granel. Produzimos vinho e azeite com alma — ligados à terra e ao que ela nos dá.
Veja o vídeo:
Qual a importância do lugar para a qualidade dos vossos produtos?
O Alentejo tem mesmo um papel central naquilo que fazemos. O clima ajuda muito — os dias são quentes, mas à noite arrefece, e isso é ótimo para as uvas. As oliveiras também se adaptam bem a este ritmo. A terra aqui é generosa e nós tentamos tratá-la com o máximo respeito.
É este equilíbrio que dá carácter aos nossos vinhos e intensidade ao nosso azeite. Sem este lugar, não seríamos quem somos.
A localização interfere nalgum aspeto que considere menos positivo?
Sim, claro. A distância dos grandes centros, os verões cada vez mais secos, os desafios da interioridade. Mas encaramos isso como parte do nosso compromisso como território. Estamos aqui por inteiro. É uma escolha consciente, mesmo quando não é a mais fácil.
Porquê apostar em produtos tradicionais?
Porque há beleza na simplicidade. O vinho e o azeite sempre fizeram parte da nossa cultura. A tradição ensina-nos a respeitar o ritmo da Natureza, e isso é essencial para fazermos produtos verdadeiros, sem artifícios.
Que castas de uva utilizam na produção de vinho?
Desde o início, quisemos que o projeto fosse fiel à nossa identidade e ao lugar onde estamos. Por isso, há 15 anos, optámos por plantar apenas castas portuguesas. A maioria são autóctones — como a Touriga Nacional, Alicante Bouschet, Castelão, Aragonez, Trincadeira Preta, Arinto, Verdelho e Antão Vaz —porque fazem parte da nossa história. Também escolhemos a Baga e o Encruzado, que, embora não sendo do Alentejo, se adaptaram muito bem ao nosso solo e clima. Acima de tudo, respeitamos a terra e o que ela nos permite fazer.
Apostando na produção biológica, conseguem manter o rendimento e a qualidade do produto?
É um desafio constante, mas acreditamos mesmo que vale a pena. Preferimos menos quantidade, mas mais verdade. A qualidade começa na forma como cuidamos da terra — sem pressas, sem atalhos. Mesmo antes de sermos certificados como biológicos, já fazíamos a monda de cachos para garantir o equilíbrio da planta e a qualidade da uva. Hoje, com a viticultura biológica, notamos que esse processo acontece de forma mais natural e nalgumas castas já nem é preciso fazer essa seleção manual.
Porque consideram o vosso produto sustentável?
Fazemos um esforço diário para produzir com responsabilidade — com respeito pelos recursos naturais, pelas pessoas e pelo território onde estamos. Usamos energias renováveis, fazemos compostagem, reaproveitamos águas e promovemos biodiversidade sempre que possível. Mas este tema dá pano para mangas — ainda temos muito por fazer. Acreditamos que sustentabilidade não é um “extra”; é mesmo a base de tudo. E, por isso, todos os dias tomamos decisões com esse foco: melhorar. É uma jornada contínua, feita de escolhas conscientes, passo a passo.
Qual a motivação para o futuro?
Continuar a fazer melhor. Com calma, com intenção e com respeito pela terra. Queremos mantermo-nos fiéis ao que nos trouxe até aqui: produzir com autenticidade e consciência. Há sempre espaço para aprender mais, para melhorar processos e para cuidar melhor do que nos rodeia. A motivação é essa: crescer de forma sustentável, sem perder a ligação ao essencial — à terra, às pessoas e ao tempo certo das coisas.