Entrevistas

No jardim com… Emílio Rui Vilar

rui vilar

 

Jurista, ator de teatro enquanto jovem adulto, Ministro de várias pastas, Presidente de Bancos públicos, da Sedes e da Gulbenkian, Rui Vilar corria comigo às 6h da manhã no início dos anos 80 na Costa de Caparica, fizesse sol ou chuva a que se seguia um retemperador banho de mar. Passados 40 anos temos o mesmo hobby, a jardinagem.

 

Onde se situa o seu jardim e que área tem?

Em Galamares. Tem um hectare, de que cerca de um terço é ocupado por uma pequena vinha de Pinot Noir. O terreno é virado para a serra de Sintra, com um arco de vista que vai da vila até Monserrate, passando pelo Castelo dos Mouros, Seteais, Palácio da Pena, Penha Verde e Quinta dos Arcos.

O que faz no seu jardim, tem ajudas?

Gosto da topiária e de eliminar os ramos secos. Temos um jardineiro dedicado, o sr. Américo Miranda, que faz a manutenção geral do jardim e os tratamentos da vinha. Um jardim é um trabalho sem fim. E agora, com a proibição, decerto justificada, do glifosato, a monda das daninhas e das infestantes tem de ser feita à mão.

Quantas horas por semana/dia dedica à jardinagem?

Mais tempo no verão e, naturalmente, quando mais é preciso.

Quais as ferramentas de jardinagem que usa no seu dia a dia?

As tesouras de poda, de vários tamanhos, são as mais utilizadas. Mas não é por falta de ferramentas que fico muito aquém da perfeição…

 

 

Quais os jardins em Portugal e no mundo que prefere?

Em Portugal, há dois jardins a que estou institucional e afetivamente ligado: o da Fundação Gulbenkian, em Lisboa, que em breve vai ser aumentado em mais 8000 m2 , e os jardins formais e o parque da Fundação de Serralves, no Porto. No mundo, os jardins de Quioto, que tive a sorte de visitar ciceroneado pelo Paulo Rocha; os jardins de Killarney, no sudoeste da Irlanda, com os seus fabulosos rododendros; e o jardim art déco da casa Alice e David van Buuren, em Bruxelas.

Recomenda algum livro sobre jardins? E que revistas ou jornais lê sobre o tema?

Um clássico é o Every Day Gardening, de Percy Thrower. Tenho sempre à mão o The Tree and Shrub Expert, de D. G. Hessayon, e o Portugal Botânico de A a Z, dos professores Francisca Maria Fernandes e Luís Mendonça Carvalho, que permite a correspondência da taxonomia vernacular com a científica e vice-versa. Também gosto de folhear outro clássico, o Le Bon Jardinier, de Alain Baraton, de que existe um fac simile da edição de 1920, um calhamaço de 1700 páginas…

E conhecer a viagem das plantas com o A Aventura das Plantas e os Descobrimentos Portugueses, do Professor José E. Mendes Ferrão. Os suplementos de fim de semana dos grandes jornais, como o Financial Times, têm boas páginas sobre jardins e, em Portugal, há esta bela revista que estão a ler.

Que sites visita sobre o tema?

Quando tenho dúvidas, o Google é um bom veículo para encontrar sites. O site do Jardim Botânico, da UTAD, é muito completo. O problema é a disciplina do tempo na pesquisa.

Qual o último objeto relacionado com jardinagem que comprou? E que ofereceu?

Recetáculos-armadilha com feromonas para as traças que estavam a dizimar os buxos. Não muito estéticos, mas eficazes….

 

 

O que aconselha aos jardineiros amadores? Fez algum curso? Onde?

Aceitar, sem estados de alma, que um jardim é sempre uma segunda Natureza e que as plantas devem ser respeitadas como seres vivos que são. Conhecer o solo é o primeiro passo. O nosso é básico e tivemos de nos resignar: não podemos ter japoneiras, nem magnólias, nem azevinho, nem rododendros. Finalmente, dar tempo ao tempo: um jardim é também e sempre obra do tempo.

Não fiz qualquer curso. Aprendi e aprendo com o método empírico, da tentativa e erro. A Isabel, minha mulher, sabe imenso e é a primeira jardineira.

Os livros, como os que já referi e outros mais, têm sido uma ajuda essencial.

Qual a planta e flor que prefere?

A variedade é indispensável para compor o mosaico de cores e formas. Sugiro três, o azereiro (Prunus lusitânica), a árvore-do-fumo (Cotinus coggygria) e o metrosídero (Metrosideros excelsa).

Qual o horto onde compra as suas plantas e porquê?

Horto da Praia Grande, aqui perto, e Matéria Verde, em Azeitão 

 

 

Que móveis de jardim tem e quais considera indispensáveis? Trata-os regularmente? Como?

Mesas de teca e cadeiras de lona do Vassoureiro que, infelizmente, fechou.

Qual foi o momento ou acontecimento que a fez interessar-se por jardins?

Desde a infância que guardo boa memória do jardim/quintinha da minha bisavó. Quando, há 30 anos, comprei o terreno em Galamares, foi preciso começar do zero. Havia mato, sinais de antigas vinhas e culturas arvenses e dois pequenos pinheiros-mansos que ainda lá estão, agora enormes. A modelagem do terreno e o layout do jardim foram feitos pelo arquiteto paisagista (e ilustre escritor e querido amigo) Júlio Moreira, que também indicou as primeiras plantações. Depois, fomos assumindo a condução das formas do jardim e a renovação das árvores e arbustos. 

A vinha, por exemplo, foi uma opção mais tardia, ocupando uma área que inicialmente estava definida como prado de sequeiro.

Há quanto tempo pratica regularmente a atividade de jardinagem?

Hands on, vai fazer 30 anos.

Tem roupa específica para jardinar? 

Nada de especial. Roupa e sapatos velhos e confortáveis, consoante o tempo que faz. Sempre chapéu ou boné. De específico, as luvas e, às vezes, uns óculos de proteção que me ofereceram numa visita a uma plataforma petrolífera.

 

Leia também “No jardim com… Vera Nobre da Costa”

 

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