Conheci a Ingrid numa visita ao Chelsea Flower Show que a revista Jardins organizou em 2023 e fiquei cativado pelo seu interesse por flores e plantas durante as visitas que fizemos a vários jardins nos arredores de Londres. Daí o desafio que lhe fiz para encerrar esta minha colaboração com a revista que criei há mais de 20 anos.
Onde se situa o seu jardim e que área tem?
O meu jardim é no Banzão, em Colares, e tem uma área de 5000 m2. Estende-se até à ribeira de Colares, que corre até à praia da Maçãs, onde desagua no mar. À frente da casa, tenho uma piscina e, em redor, um relvado. Nas duas laterais, há arbustos já muito grandes: eugénias e um enorme cedro à esquerda; à direita, destacam-se loendros imponentes de várias cores, lantanas e camélias. Depois o terreno desce e estende-se um grande prado em que estão espalhadas várias árvores de fruto – ameixoeiras, alperceiros, cerejeiras e uma ginjeira. Ao fundo, encontramos ainda uma grande nogueira e uma árvore de dióspiros, que são a minha delícia de setembro.
O que faz no seu jardim? Costuma ter ajuda?
Tenho um jardineiro que vem uma vez por semana no inverno e duas vezes por semana na primavera, no verão e no outono. Ele faz as tarefas maiores, que eu dirijo, como cortes de relvado, prado e podas de algumas árvores. Na bordadura à esquerda do relvado, sou eu que planto flores, substituindo-as conforme é necessário. É o que mais gosto de fazer, assim como cuidar dos vasos com hibiscos variados no alpendre e junto da casa.
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Quantas horas dedica à jardinagem?
É conforme o que acho necessário, mas tenho sempre mais ideias para fazer do que consigo realizar. Digamos que duas vezes por semana, duas a três horas, quando tenho o jardineiro.
Que ferramentas de jardinagem usa no dia a dia?
Ando sempre com um ancinho e uma pá. Uso luvas grossas de jardinagem para as ervas daninhas. Muitas vezes utilizo uma tesoura e, claro, o regador para cuidar bem das flores nos vasos perto da casa.
Quais são os seus jardins preferidos em Portugal e no mundo?
Quando vivia em Lisboa, ia muito ao Jardim das Necessidades e também ao Jardim Botânico da Ajuda. Gosto muito dos jardins em Sintra na subida para o Palácio da Pena, não esquecendo o belíssimo Jardim de Monserrate. No centro de Portugal, adorei conhecer os jardins do projeto Santar Vila Jardim. Na viagem ao Chelsea Flower Show, fiquei maravilhada com os Jardins de Kew e com o Wisley Garden.
Recomenda algum livro sobre jardins? Que revistas ou jornais lê sobre o tema?
O livro Um Jardim para Cuidar, da querida Teresa Chambel, dá uma ótima ajuda e muito boas ideias. Ao longo da minha vida usei muitos livros alemães e ingleses com os quais aprendi muito, como o livro Crockett’s Flower Garden. Tenho livros alemães que indicam os arbustos que alimentam pássaros de canto com as suas bagas e por isso há muito chilreio no meu jardim que eu adoro. No que toca a revistas, gosto e aprendo também com a vossa Jardins. Dá muitas ideias e inspiração sobre o que usar, comprar e fazer em determinadas situações com produtos adequados para tudo.
Que sites visita sobre o tema?
Não costumo informar-me na Internet sobre jardins.
Qual o último objeto relacionado com jardinagem que comprou? E o que ofereceu?
Comprei recentemente um carro de mão e ofereço frequentemente flores da época como presentes. Nos jardins de Londres, comprei muitas sementes de flores que aqui não consigo encontrar.
O que aconselha aos jardineiros amadores?
As pessoas devem fazer as plantações e tarefas no jardim que gostam de fazer. Assim os resultados ficam sempre melhor.
Qual é a sua planta e/ou flor preferida?
No exterior, são as rosas e hibiscos os meus preferidos, mas gosto de muito mais flores. No interior, prefiro as orquídeas e as amarílis (Hipeastrum) de que eu própria cuido, conseguindo muito bons resultados.
Em que horto costuma comprar as suas plantas?
Compro tudo no Horto da Praia Grande pois é perto e tem muita variedade de plantas e acessórios.
Que móveis de jardim tem e quais considera indispensáveis?
Os meus móveis de jardim são de um material rústico que aguenta a chuva e o sol – um sofá grande e vários cadeirões que levam almofadas confortáveis, uma longa mesa de madeira clara com dois bancos corridos. A mesa e os bancos têm de ser tratados regularmente com um produto de tratamento que cuida e protege.
O que a fez interessar-se por jardins?
Fui criada em criança pelos meus avós no Tirol do Sul, em Itália, que anteriormente pertencia à Áustria. Vivia numa casa tirolesa de madeira e pedra com jardim e um extenso bosque nas traseiras. Eu vivia literalmente nas árvores, onde fazia casinhas para brincar. Apanhava groselhas num murete para o nosso almoço. Sempre adorei flores e, quando vivia em Lisboa, tinha na minha varanda com vista para o Tejo muitos vasos com flores que gostava muito de cuidar. Mais tarde, tive pela primeira vez em Portugal um jardim no Algarve, na Quinta da Balaia. Foi aí que comecei a trabalhar a sério no jardim, tive de ultrapassar algumas dificuldades pois a terra era dura e pouco fértil. Consegui fazer um jardim bonito com rosas, hibiscos e loendros que se tornaram muito viçosos.
Há quanto tempo pratica regularmente a atividade de jardinagem?
Há pelo menos 50 anos. Primeiro, em Lisboa, depois, durante 30 anos, na Quinta da Balaia e mais 12 anos aqui em Colares.
Tem roupa específica para jardinar?
Uso roupa simples, cómoda e prática conforme a temperatura. No verão, socas de borracha e, para aterra molhada, galochas. O chapéu não pode faltar.
Com quem gostaria de almoçar para conversar sobre jardinagem?
Gosto de almoçar com a minha filha Patrícia e o meu grande amigo Zé Luís. Ambos gostam muito de jardins e plantas, dedicando-se juntos aos seus projetos de jardins tanto no Estoril como no Monte da Pedra Torta, no Alentejo, como em Santar. Levaram-me à viagem de jardins a Inglaterra (organizada pela revista Jardins) e agora a próxima vai ser em maio, à Normandia. Vou gostar muito de rever as pessoas simpáticas que participam nestas viagens e teremos muitas oportunidades para almoçar e conversar sobre jardins e jardinagem.
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