Tornar o nosso jardim ou a horta no quintal mais ecológicos passa por usar técnicas mais amigas do ambiente, reduzir a utilização de substâncias químicas de síntese e promover a biodiversidade.
Adotar o modo de produção biológico é muito fácil, sobretudo quando se trata de pequenas parcelas como as que normalmente temos em casa, no jardim ou na horta.
Começar pelo solo
O processo de mudança deverá começar pelo que a agricultura biológica considera mais fundamental: o solo.
O solo não é apenas o suporte físico para as raízes das plantas se fixarem, sabe-se hoje que é um sistema complexo onde existe uma enorme quantidade de seres vivos que ajudam as plantas a sobreviver e resistir a doenças e pragas.
Os grupos mais importantes da vida do solo são aqueles que temos maior dificuldade em ver: as bactérias e os fungos.
Existem muitas espécies que estabelecem relações com as plantas ajudando-as a obter nutrientes, por exemplo, ou protegendo as raízes de outras bactérias e fungos prejudiciais — a estes últimos chamamos antagonistas.
Melhorar a qualidade do solo
No entanto, o solo pode e deve ser melhorado, nós podemos ter um papel ativo na manutenção do nosso solo.
Muitas vezes, a quantidade de matéria orgânica (M.O.) disponível no solo limita a quantidade de seres vivos que nele conseguem viver.
Em agricultura biológica existe a preocupação de adicionar M.O. ao solo com frequência, o solo é considerado quase um ser vivo que é “alimentado”.
Mulching
Existem muitas maneiras diferentes de adicionar M.O. ao solo. Umas são mais fáceis e frequentes que outras e nem todas se adequam a espaços pequenos: o mulching e a adição de composto são as formas mais frequentes.
Esta adição de M.O. deverá ter um carácter constante, dado que a matéria orgânica é consumida pelas plantas e animais enquanto está no solo.
Na horta ou nos jardins, o mulching é sempre vantajoso. Trata-se de proteger o solo dos elementos, “dar-lhe uma pele”. Em climas como o português, isto é particularmente importante dado que grande parte do ano não chove e o mulching ajuda a prender a humidade no solo.
A camada originada ajuda ainda no combate às infestantes e a proteger insetos e outros animais benéficos. A decomposição do mulching pelos seres vivos do solo acaba por aumentar a M.O. do mesmo.
No entanto, o material que compõe o mulch pode ter diferentes resultados ou consequências para o solo. Por esta razão é importante considerar bem o material escolhido para o mulching.
Mulching com casca de pinheiro
É frequente na jardinagem e no paisagismo utilizar-se casca de pinheiro como mulch, no entanto este material tem como consequência a acidificação do solo.
Este efeito é, por vezes, prejudicial dado que pode dificultar a sobrevivência de microrganismos que não toleram condições demasiado ácidas.
Os restos de relva seca são uma boa opção, com a vantagem de serem facilmente decompostos, tornando-se rapidamente em M.O. do solo, no entanto degradam-se por vezes demasiado depressa.
Uma alternativa podem ser as aparas de madeira, que têm uma durabilidade maior, mas que infelizmente são mais difíceis de encontrar em Portugal comparativamente a outros países.
Compostagem e a sua importância
A outra opção para aumentar a M.O. de um solo é a adição de composto. O composto é o material resultante do processo de compostagem que, de uma forma simples, se pode considerar a digestão de material vegetal ou animal por organismos decompositores.
É importante que o composto seja adicionado ao solo num estado de maturidade, ou seja, com a compostagem terminada.
A compostagem tem duas condições principais: a quantidade de azoto (N) e a quantidade de carbono (C) presentes no material compostado, e estas duas condicionam a velocidade da compostagem e a sua eficácia.
Existem muitos livros e capítulos sobre compostagem, mas existem alguma regras gerais que convém respeitar.
Em primeiro lugar, convém não utilizar matéria animal (estrume serve perfeitamente), mas carne, ovos e dejetos de animais carnívoros não são recomendados (podem conter bactérias perigosas).
Chá de composto
Outra forma de aumentar a M.O. de um solo é a adição de chá de composto. Trata-se de uma técnica bastante fácil de aplicar em pequenas hortas e jardins.
A forma mais usual é colocar um punhado de composto maduro num recipiente com água. Neste recipiente deverá haver oxigenação (geralmente, usa-se uma bomba de ar utilizada em aquários).
Ao fim de 24 horas, obtém-se um líquido concentrado de cor escura e riquíssimo em microelementos e microrganismos benéficos para as plantas. Este líquido deverá ser diluído antes de regar ou pulverizar as plantas.
Em certos casos, nota-se diferença muito grande na cor das plantas após as aplicações de chá de composto.
Adição de carvão ao solo
A introdução de carvão no solo tem vantagens para a sua microbiologia. O carvão contém muitos poros e estruturas que servem de abrigo a bactérias e outros organismos microscópicos.
Além disto, o carvão é relativamente durável no solo, demorando até se decompor totalmente.
Isto faz com que este material seja uma estrutura ideal como “refúgio” de organismos benéficos no solo.
No caso de uma seca, por exemplo, os organismos que se encontrem no interior do carvão estarão mais protegidos enquanto as condições do solo mais seco eliminam outros organismos livres no solo.
Quando as condições de humidade regressam, a recolonização do solo pode fazer-se a partir dos organismos que se encontravam refugiados no carvão.
A melhor forma de utilizar carvão é incluí-lo na pilha de composto.
O carvão em si não é compostado, mas durante a compostagem é colonizado por microrganismos, assim, quando acrescentamos o composto final ao solo, este irá incluir carvão “carregado” de vida para melhorar o solo.
Utilização de minhocas
Outra forma de melhorar a qualidade do solo é através da introdução de minhocas e do húmus que estas produzem.
As minhocas alimentam-se ingerindo grandes quantidades de terra e o seu sistema digestivo digere a matéria orgânica.
O resultado final são excrementos compostos pela matéria mineral e por matéria orgânica digerida que é muito mais facilmente absorvida pelas plantas.
Além disto, as minhocas contribuem ativamente para a oxigenação e permeabilidade do solo.
Os seus túneis permitem a entrada de ar no solo, bem como de água, ajudando o solo a hidratar-se mas também a drenar o excesso de água.
As minhocas podem ser criadas por nós em caixas grandes, em que se mantém a humidade, adiciona restos de vegetais e papel de jornal molhado. De vez em quando basta retirar algumas minhocas e largá-las no jardim ou na horta.
Estas são algumas das formas de melhorar a qualidade do solo e criar biodiversidade a partir do chão. Com um solo rico e saudável é mais fácil criar um jardim e uma horta bonitos, saudáveis e produtivos.
Como fazer compostagem
Matérias verdes
O ideal é compostar as “matérias verdes”, que são normalmente restos de plantas relativamente frescos e que vão ser a fonte de azoto, em conjunto com “matérias castanhas”, como palha ou folhas secas, que serão a fonte de carbono.
Matérias castanhas
As matérias castanhas são as mais difíceis de compostar e é necessário ter uma boa diversidade e quantidade de vida no composto para a decomposição destes materiais se dar devidamente.
As matérias verdes ajudam a iniciar a compostagem: a humidade e o azoto que acrescentam à pilha de composto vão alimentar as bactérias e fungos que degradam depois as matérias castanhas.
Este processo gera calor (por vezes, muito calor!) dado que a decomposição dos materiais lenhosos liberta energia.
Este calor é uma etapa fundamental do processo de compostagem, elimina muitos microrganismos potencialmente nocivos, bem como as sementes de infestantes.
A pilha de composto deve ser revirada frequentemente de 15 em 15 dias, misturando bem todos os materiais. Geralmente após revirar a pilha, a temperatura volta a subir porque se adiciona oxigénio e aumenta-se a atividade microbiana.
Quando se deixa de gerar este calor, significa que a maioria dos materiais lenhosos já foi compostado.
A compostagem ativa terminou e o resultado final deverá ser uma mistura escura e homogénea de aspeto semelhante à terra preta que se compra em lojas.
Este material final é normalmente muito rico em pequenos insetos, minhocas, etc., os quais é também vantajoso introduzir no nosso solo.
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