A conexão essencial com os espaços florestais
Conversámos com Bruno de Grunne, gestor de manutenção florestal, arborista com mais de 15 anos de experiência no restauro de jardins botânicos e patrimoniais e fundador da Trees & People, que nos falou sobre ecoturismo No Trace e os benefícios do contacto próximo e sustentável com a Natureza.
Considera importante para a vida humana contactar com espaços florestais?
Sem dúvida. Embora se possa encontrar biodiversidade interessante em meios aquáticos, baldios ou até em zonas esquecidas, é nos espaços florestais que melhor e mais facilmente se apreende a Natureza e a vida selvagem. As árvores são entidades reais e estáveis, que não sofrem com problemas psicológicos. O simples ato de fazer silêncio numa floresta permite-nos ouvir, sentir e, de certa forma, “palpar” a vida à nossa volta. Este contacto direto, aliado à contemplação, oferece uma compreensão da nossa própria essência que ultrapassa qualquer descoberta científica.
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Esses benefícios são adquiridos simplesmente pela presença no espaço ou requer algum tipo de interação com o meio?
Aqui está o segredo: não fazer nada pode ser a melhor forma de interação. Apenas sentar-se em silêncio durante 15 minutos num bosque pode revelar um mundo cheio de vida, embora isso seja mais difícil do que parece. A chave está em encontrar um estado de imobilidade e silêncio que nos permita verdadeiramente absorver o ambiente.
Em que consiste o ecoturismo em imersão florestal?
Trata-se de uma experiência curta num ambiente florestal preservado, onde se vive em acampamentos No Trace e na companhia de guias especializados que conhecem profundamente o ecossistema local. O objetivo é proporcionar um contacto próximo e sustentável com a Natureza, sem comprometer o equilíbrio ambiental.
De que tipo de equipamentos e condições estamos a falar?
Passar uma ou duas noites numa floresta sem se isolar completamente dela pode ser desconfortável, devido ao calor, frio, humidade ou insetos. A Trees & People desenvolveu soluções No Trace que incluem estruturas suspensas e seguras, instaladas entre duas árvores. Estas plataformas elevadas oferecem conforto sem perder a sensação de imersão na Natureza.
Que impacto é que este tipo de turismo tem nos ecossistemas?
O princípio No Trace orienta todas as ações da Trees &People. Embora a ausência total de impacto seja utópica, esta abordagem ensina-nos a minimizar os efeitos negativos das nossas atividades. A ideia é explorar sem destruir, aprendendo continuamente como reduzir ainda mais os impactos.
É para todas as idades e condições físicas?
Sim. Este tipo de ecoturismo é desenhado para que pessoas de todas as idades e condições físicas possam restabelecer a ligação essencial ao meio ambiente, do qual todos fazemos parte.
As estruturas suspensas são mais vantajosas do que as térreas? Em que aspetos?
Certamente. A três metros do solo, sob a sombra das árvores, há menos insetos, o ar é mais fresco e evita-se a humidade e o orvalho matinal. Além do conforto, estas plataformas oferecem uma sensação única de segurança e proximidade com a Natureza. Viver suspenso entre as árvores também desperta memórias atávicas da Humanidade, quando as árvores eram a nossa primeira casa.
Podemos usar equipamentos semelhantes em jardins residenciais?
Sim, e este é um dos usos mais comuns das plataformas da Trees & People. Sendo desmontáveis, reutilizáveis e fáceis de instalar, são ideais para jardins privados, glampings ou turismo sustentável. Além disso, não danificam as árvores nem o solo, tornando-se uma solução prática e ecológica.
Que mensagem é que tentam passar com a Trees & People?
As árvores são um recurso precioso. O potencial de Portugal neste campo é imenso. Como arborista, com mais de 15 anos de experiência na restauração de jardins botânicos e patrimoniais em Lisboa e Sintra, acredito que Portugal pode ser o verdadeiro “Jardim da Europa”. É essencial cuidar das nossas árvores para se garantir um futuro sustentável e conectado à Natureza.
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