Jardins & Viagens

Jardim Botânico de Lisboa

Macrophylla, na classe do Jardim Botânico de Lisboa

 

Situado na zona central de Lisboa e numa das sete colinas da cidade – São Roque –, o Jardim Botânico de Lisboa está enquadrado por vários palácios e um conjunto muito diversificado de propriedades classificadas.

 

Este jardim ocupa cinco hectares do “interior” do quarteirão situado entre a Avenida da Liberdade e o Jardim do Príncipe Real. Inaugurado em 1878, o Jardim Botânico de Lisboa está integrado no Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. Com uma enorme riqueza de espécies botânicas (cerca de 1300) distribuídas por uma diversidade de recantos, este jardim é uma referência como hotspot de biodiversidade, podendo ser considerado um oásis no coração da cidade de Lisboa.

 

Classe, parte superior.

 

A criação do jardim

O Jardim Botânico de Lisboa foi criado para o ensino prático da Botânica e da Agronomia na Escola Politécnica de Lisboa.

A Escola Politécnica, criada em1837, instalou-se na cerca do antigo Noviciado de Nossa Senhora da Assunção da Cotovia (1619-1759) e do Colégio dos Nobres (1761-1837). Incluía um conjunto de estabelecimentos para apoio à investigação e ao ensino prático das ciências (nomeadamente um observatório, um gabinete de instrumentos científicos, um laboratório químico e um museu de história natural) e, mais tarde, veio a ser enriquecida comum jardim botânico.

Escadaria de transição entre a parte superior e a inferior com a estátua de Bernardino António Gomes (Pai)

Inicialmente, em 1838, foi atribuída à Escola Politécnica a administração do Real Jardim Botânico da Ajuda, no entanto, a distância geográfica entre o jardim e a escola levaram o conselho escolar a criar um novo jardim na antiga cerca onde se localizava a Escola Politécnica. Em 1842, José Maria Grande apresentou o primeiro esboço do projeto que se pretendia para a instalação deste novo jardim botânico. No entanto, a falta de recursos financeiros conduziu ao adiamento deste empreendimento, que só foi retomado em 1855, com um segundo projeto na sequência de um incêndio ocorrido em 1843 que arruinou a totalidade do antigo edifício do Colégio dos Nobres. Esta fatalidade levou a que a construção do jardim só se iniciasse em 1873.

 

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No período de 1873 a 1876, com o impulso de Francisco Manuel de Melo Breyner (1837-1903), Conde de Ficalho, lente da 9.ª cadeira, deu-se o início das primeiras plantações com o apoio de Edmund Goeze (1838-1929), botânico alemão com experiência adquirida nos jardins botânicos de Kew e Coimbra (entre 1866 e 1872). Foi nesta altura que se desenhou a parte superior do jardim, denominada de Classe, onde as plantas se organizaram de acordo com uma ordenação sistemática em canteiros retangulares de grandes dimensões. Muitos destes exemplares botânicos vieram do Jardim Botânico da Ajuda; de compras e trocas com os jardins botânicos de Kew, Paris e Berlim; assim como de pedidos dirigidos a diversas entidades estrangeiras e nacionais, sendo de destacar os territórios ultramarinos portugueses como Goa, Damão, Diu, Angola, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Em 1878, foi publicado o primeiro Index seminum do jardim.

 

Arboretum, parte inferior.

 

Terminada a parte superior do jardim, ainda sob a coordenação do Conde de Ficalho, é construída a parte inferior, o arboretum, de acordo com o desenho do jardineiro francês Jules Daveau (1852-1929), destinado a albergar árvores de grande porte. O seu projeto construído em zona de declive beneficiou de uma boa iluminação e realçou o ensombramento das árvores de grande porte. O desenho do arboretum com caminhos ondulados, lagos, linhas de água e cascatas, acompanhou o estilo romântico dos jardins.

Em 1892, a administração do jardim é entregue ao botânico francês Henri Fernand Cayeux (1864-1948), diplomado pela Escola Nacional de Horticultura de Versalhes.

A ele se deve a produção e criação de plantas ornamentais, para embelezar o jardim, como a Rosa ‘Bella Portuguesa’, híbrido da Rosa gigantea Collett ex Crép., e uma trepadeira muito vigorosa e resistente, podendo atingir mais de 5 m de altura e uma das primeiras roseiras a florir no início da primavera. Cayeux foi, também responsável pela realização de várias exposições de plantas. Nos anos 40 do século XX, o diretor botânico Ruy Telles Palhinha transformou a parte superior do jardim, a classe, redesenhando os canteiros e reorganizando a inicial ordenação sistemática por uma organização das plantas através de critérios ecológicos.

 

As coleções do jardim

Exemplar de rosa ‘Bela-Portuguesa’ existente no Jardim Botânico de Lisboa, cultivar criado pelo botânico francês Henri Fernand Cayeux.

O atual traçado do Jardim Botânico de Lisboa respeita o desenho de 1873-1878 com as alterações introduzidas nos anos 40 do século XX. Este jardim botânico, de carácter histórico, alberga coleções cultivadas vindas das mais diversas partes do mundo, o que lhe confere um património de interesse botânico, científico, histórico e cultural.

De destacar as coleções de palmeiras oriundas de todos os continentes, o que lhe confere um carácter tropical nalgumas das zonas do jardim. De relevar também as cicadáceas como um legado importante, pois trata-se de fósseis vivos que representam floras antigas e que maioritariamente estão em perigo de extinção. O património botânico deste jardim é particularmente rico em espécies tropicais com distintas origens como Nova Zelândia, Austrália, China, Japão e América do Sul. A adaptabilidade de todas estas espécies confirma a suavidade do clima de Lisboa, assim como os diversos microclimas que a topografia deste jardim proporciona.

Este jardim, além da sua notável coleção viva, tem associado um herbário com mais de 220.000 exemplares provenientes de todo o mundo com realce para espécimes de Portugal, da Macaronésia e das antigas colónias portuguesas.

 

O património botânico, paisagístico e arquitectónico do jardim

O Jardim Botânico de Lisboa está sob a gestão do Museu Nacional de História Natural e da Ciência da Universidade de Lisboa. O seu valor patrimonial vegetal, ecológico e científico assim como o notável conjunto arquitetónico, justificou, em 2010, a sua classificação como Monumento Nacional. No ano 2017, o arboretum foi alvo de uma requalificação como proposta vencedora do Orçamento Participativo de Lisboa 2013.

 

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Texto de Ana Luísa Soares e Ana Raquel Cunha, com a colaboração de Maria Cristina Duarte. Fotografias de César Augusto R. Garcia.

 

Referência bibliográfica

Felismino, D. & Garcia, C. (2021).Jardins Botânicos: Jardim Botânico de Lisboa. In: Soares (ed.) O arvoredo, os jardins e parques públicos de Lisboa (1755-1965), três séculos de património botânico, paisagístico e cultural. 1.ª edição. Lisboa, Portugal: Câmara Municipal de Lisboa.

 

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