Ornamentais

A araucária no jardim português

Introduzida por um rei, a sua presença democratizou-se.

As primeiras araucárias foram introduzidas em Portugal continental, no século XIX, por encomenda do rei D. Fernando II (1816-1885), justificando o seu gosto pela botânica e pela história da arte dos jardins. Registos históricos referem que a primeira espécie deste género a ser plantada em Portugal foi o pinheiro-de-Norfolk (Araucaria heterophylla (Salisb.) Franco), em 1842, no Parque do Monteiro Mor em Lisboa (Pinto, C.V., 2018), seguindo-se a Tapada das Necessidades e o Parque da Pena (Azambuja, 2001, pp. 129-151). O seu porte emblemático e a sua estrutura singular destacam-se e marcam presença forte nos jardins. Esta moda real ficou bem enraizada nos jardins portugueses.

As espécies do género Araucaria são maioritariamente originárias do hemisfério sul, em particular da América do Sul, Austrália e ilhas da Melanésia. A título de exemplo: o pinheiro-de-Norfolk foi identificado na ilha de Norfolk, em 1774, pelo inglês James Cook (1728-1779), que cartografou muitas áreas e registou várias ilhas e zonas costeiras pela primeira vez. Em 1807, o botânico inglês Richard Anthony Salisbury (1761-1829) descreve esta espécie de araucária (Meco, 2019).

Do género Araucaria temos coleções de diversas espécies, em particular nos jardins de carácter histórico e nos jardins botânicos. Este mês destacamos quatro espécies: Araucaria heterophylla, A. angustifolia, A. bidwilli e A. cunninghamia.

ARAUCARIA SP.

(ARAUCÁRIA)

As araucárias possuem cerca de 20 espécies pertencentes à família Araucariaceae, distribuídas pelo hemisfério sul (América do Sul, Austrália, Nova Zelândia, Nova Guiné, e Norfolk). É um género com importante uso ornamental devido às suas interessantes silhuetas. Árvores de porte cónico, crescimento lento e com grande longevidade, ornamentando por isso os jardins durante longos anos, 200 a 300 anos.

Dependendo da espécie, as suas folhas coriáceas e aciculares podem ser lanceoladas estreitas ou largas e planas. As araucárias são geralmente dioicas, ou seja, existem árvores com frutificações masculinas e outras com frutificações femininas, embora existam indivíduos monoicos. As suas frutificações (vulgarmente pinhas) masculinas são habitualmente de menor dimensão do que as femininas.

Além disso, as pinhas femininas possuem um grande número de sementes (80-200 sementes), muito semelhantes às dos pinheiros, sendo por esse motivo denominadas da mesma forma, pinhão. As pinhas femininas surgem geralmente no topo das árvores.

É de destacar que a Araucaria angustifolia e a A. heterophylla se encontram em risco de extinção na Natureza, tendo-lhes sido atribuídas, pela UICN, respetivamente a categoria de criticamente em perigo (CR) e vulnerável (VU).

Família: Araucariaceae.

Altura: Geralmente mais de 10 metros, mas varia de espécie para espécie.

Propagação: Semente, estaca.

Época de plantação: Primavera e outono.

Condições de cultivo: Geralmente pleno sol ou meia-sombra, adapta-se a qualquer solo, desde que profundos e bem drenados. Aprecia ambientes húmidos e temperaturas amenas. Tolera ventos e baixas temperaturas, podendo exemplares de porte adulto suportar temperaturas de -20 ºC.

Manutenção e curiosidades: Fácil manutenção, não necessitam de grandes cuidados, desde que respeitadas as condições de clima ameno e húmido. É uma espécie bastante resistente, não sendo atreita a ser afetada por pragas ou doenças. Género com um importante uso ornamental. A sua madeira é de boa qualidade e por isso muito utilizada desde a produção de móveis até à construção de grandes navios. As suas sementes são comestíveis.

ARAUCARIA BIDWILLII HOOK. (ARAUCÁRIA-DE-QUEENSLÂNDIA, BUNIA-BUNIA)

Espécie monoica.

Porte: Até 50 metros, copa piramidal, levemente arredondada, uniforme colunar.

Folhas: Simples, lanceoladas, grandes (9 x 1,2 cm), planas, coriáceas, dispostas em espiral.

Frutificações: Pinhas de grandes dimensões, com 25 a 30 cm de comprimento, podendo atingir os 3 kg. A sua maturação é plurianual. As suas sementes, cerca de 50 -100 por pinha, também elas de grandes dimensões (5-6 x 2,5 cm), são comestíveis.

Categoria de ameaça na Natureza: Segundo o UICN, é uma espécie em situação pouco preocupante (LC).

ARAUCARIA HETEROPHYLLA (SALISB.) FRANCO (ARAUCÁRIA-DE-NORFOLK, PINHEIRO-DE-NORFOLK)

Espécie monoica.

Porte: Até 50 metros, forma piramidal, ramos com simetria radial, praticamente horizontais, em intervalos regulares.

Folhas: Escamiformes e aciculares, imbricadas, com cerca de 1 cm de comprimento.

Frutificações: Subglobosos com 12-15 cm de diâmetro, escamas com ápice triangular recurvado. Maturação bienal. Sementes de 3-4 centímetros.

Categoria de ameaça na Natureza: Segundo o UICN, a sua situação é vulnerável (VU).

ARAUCARIA ANGUSTIFOLIA (BERTOL.) KUNTZE (PINHEIRO-DO-PARANÁ)

Espécie dioica.

Porte: Até 50 metros, com copa abobadada, ramos praticamente horizontais, apenas no terço superior do da árvore. Devido à forma dos seus ramos e à sua copa abobadada, faz lembrar um grande guarda-sol.

Folhas: Imbricadas, planas, lanceoladas com largura inferior a um centímetro.

Frutificações: Pinha inferior a 12 cm de comprimento, de escamas ápteras. A sua maturação é maturação bianual. As suas sementes, geralmente 100-150, têm cerca de 5 cm de comprimento.

Categoria de ameaça na Natureza: Segundo o UICN, está criticamente em perigo (CR).

ARAUCARIA CUNNINGHAMII MUDIE (PINHEIRO-DE-QUEENSLAND)

Espécie geralmente dioica.

Porte: Até 60 metros, de forma cónica, ramos longos, com ramificações em tufos nas extremidades.

Folhas: Imbricadas, inseridas em espiral, lanceoladas com comprimento até cinco centímetros.

Frutificações: Pinhas ovoides, simétricas, com cerca de 10 cm de comprimento, escamas com espinhos reflexos. Sementes com cerca 1,5 cm de comprimento.

Categoria de ameaça na Natureza: Segundo o UICN, é uma espécie em situação pouco preocupante (LC).

Com a colaboração de Teresa Vasconcelos e Miguel Brilhante

Poderá Também Gostar