Não são as flores grandes e vistosas como as orquídeas ornamentais que costumo mostrar aqui nos meus artigos, mas não deixam de ser interessantes exemplares da grande família das Orchidaceae, e as suas flores, quando observadas com minúcia, revelam-nos características extraordinárias, formas fabulosas e uma grande beleza.
Portugal tem cerca de 70 espécies de orquídeas a habitarem os nossos campos. Estão distribuídas por diversos habitats em todo o território nacional, tanto no continente como nas ilhas. Para alguém que não conheça, poderá ser difícil encontrá-las, mas na primavera muitas são as associações que organizam caminhadas pela natureza para observar orquídeas.
As orquídeas portuguesas são terrestres, crescem no solo, a maior parte em zonas de campo aberto ou pouco arborizadas. As zonas montanhosas são talvez as mais populosas. As plantas têm um caule central, folhas e desenvolvem hastes multiflorais, muitas vezes formando uma espiga.
São plantas bolbosas e têm normalmente dois bolbos, um mais velho, que vai originar a planta e outro em formação que armazenará os nutrientes para a planta que irá nascer no ano seguinte. No final do verão, depois de as florações murcharem, toda a planta seca e o novo bolbo subterrâneo fica adormecido por uns meses e só acordará na primavera do ano seguinte.
Flores-insetos
Muitas das nossas orquídeas lembram insetos e os nomes comuns de algumas delas são mesmo moscardo-fusco (Ophrys fusca), erva-mosca (Ophrys bombyliflora), erva-abelha ou abelhão (Ophrys speculum), erva-vespa (Ophrys lutea) e erva-borboleta (Anacamptis papilionacea), entre outros. E esta imitação de um inseto pela flor não é uma simples coincidência.
A orquídea usa as flores para atrair os insetos para polinizar as suas flores e como as orquídeas não têm néctar, o disfarce e o perfume das flores é o atrativo para alguns insetos que tentam acasalar com as “flores-insetos” e, no processo, polinizam as flores. Este fenómeno foi estudado por Charles Darwin, que em 1885 publicou uma obra sobre a polinização das orquídeas.
As primeiras orquídeas a aparecer, ainda no inverno, são as Himantoglossum robertianum. São também as maiores orquídeas que temos em Portugal, podendo atingir os 70 centímetros de altura. As flores são dispostas em espiga e as suas cores rosa avistam-se ao longe.
As Ophrys são as minhas favoritas e podemos encontrar diversas espécies espalhadas por quase todo o território continental. Gostam de solos calcários de mato rasteiro e as flores não excedem os dois centímetros de comprimento. Também muito curiosas, as Serapia chamam a atenção pela forma e cor avermelhada do labelo parecendo que a flor está de língua de fora.
Uma das espécies chama-se mesmo Serapia lingua. E, por falar em formas diferentes, não posso deixar de salientar a flor-dos-macaquinhos-dependurados (Orchis italica) e a orquídea-dos-rapazinhos (Orchis anthropophora), cujas flores têm as formas que os nomes sugerem, macaquinhos e rapazinhos. As Orchis são talvez as mais coloridas, com tonalidades diversas entre o branco, o rosa e o purpúreo. As suas pequenas flores dispõem-se num aglomerado em densas espigas.
Espécies protegidas
É obrigatório também lembrar que todas as espécies de orquídeas portuguesas estão protegidas e ameaçadas. Não apanhem as flores, admirem-nas, fotografem-nas, mas deixem-nas ficar para serem polinizadas e assegurarem a continuação da sua existência. Também não desenterrem as plantas, pois estas são muito frágeis e não vingam em vasos. Acabam por morrer. Apanhá-las, além de ilegal, é uma forte contribuição para o seu desaparecimento. Passeiem, divirtam-se, mas sejam responsáveis.
Fotos: José Santos
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