Conheça o Museu Botânico de Beja

Museu Botânico de Beja

Côco do mar

 

Desconhecido de muitos, este é um espaço que vale a pena visitar pela sua maravilhosa coleção de objetos naturais, matérias-primas de origem vegetal e artefactos.

 

O Museu Botânico do Instituto Politécnico de Beja, instalado no edifício da Escola Superior Agrária, foi inaugurado no dia 2 de outubro de 2002, embora a história das suas coleções tenha tido início em meados da década de 1990, quando se começou a reunir um conjunto de objetos naturais, matérias-primas de origem vegetal e artefactos (etnobotânica) para ilustrar as aulas. Paralelamente, instituíram-se os primeiros cursos livres de Botânica Económica (35 horas), que contribuíram para que a coleção aumentasse e se tornasse mais diversa e conhecida. Aliás, logo em 1999, apresentou-se um conjunto de pequenas exposições temporárias na divisão que hoje constitui a sala das reservas, na qual se conservam os cerca de 2000 objetos da coleção. O programa de aquisições, a museografia da sala de exposições e outras questões técnicas foram desenvolvidas com o apoio dos Jardins Botânicos de Kew (Londres).

Logo após a abertura, o museu foi agraciado com o Grande Prémio Nacional Ford Motor Company para a Conservação e Ambiente (2003), e, sob proposta da Comissão Nacional da UNESCO, representou Portugal perante o júri do Prémio UNESCO Sultão Qaboos (Paris, 2003).

A restruturação do Instituto Politécnico de Beja, com os novos estatutos que entraram em vigor em setembro de 2008, conduziu à modificação da situação do Museu Botânico, que passou a ser uma Unidade Orgânica de Apoio à Formação e ao Desenvolvimento.

 

 

As exposições

As exposições desenvolvidas no museu têm sempre uma matriz etnobotânica, ou seja, procuram apresentar o resultado da interação cultural entre os humanos e as plantas em distintos contextos culturais, seja em Portugal, na Europa ou em outros continentes. Aliás, parte significativa dos artefactos provém de regiões exóticas, onde a biodiversidade dos recursos vegetais é maior e a subsequente diversidade cultural também é grande.

Desde 2002, entre microexposições, exposições de curta duração e de longa duração, o museu apresentou 47 exposições, com temas muito distintos, entre os quais: Usos das Plantas no Antigo Egipto (2003-2006), O Passado Está Presente (2007-2012), Uma História Botânica do RMS Titanic (2012-2016), Selos e Florestas (2011), Agatha Christie e as Plantas (2012), Green Marilyn (2013), O Triângulo Perfeito (Plantas-Humanos-Insectos) (2014), Artesanato Açoriano (2015), Marfim Vegetal (2015), Ana da Bretanha e o Alentejo (2015), A Idade da Inocência – Violetas na Belle Époque (2016), Laca Japonesa (2019) e Presépios Botânicos (2022).

 

 

Leia também “Etnobotânica e artesanato em Portugal”

 

A coleção do museu

O acervo do museu conserva objetos e matérias-primas incomuns, como uma camisa feita com fibras das folhas do ananaseiro; incenso verde de Omã; bálsamo de Gileade (o mais oneroso produto da história agrícola); especiarias raras; cocos-do-mar (as maiores sementes do reino vegetal, que podem atingir 50 cm e pesar 20 kg); bordados feitos com palha de trigo e esculturas de miolo de figueira (ambos feitos nos Açores); caixas de âmbar; colares de azeviche; cocos engastados em prata; uma réplica dos coletes salva-vidas utilizados pelos sobreviventes
do Titanic (linho e cortiça), entre outros exemplos.

Embora o programa expositivo seja, maioritariamente, desenvolvido nas instalações do museu, também se estende a outros espaços do Instituto Politécnico e a outras instituições e museus através do empréstimo de peças e de matérias-primas de origem vegetal, como, por exemplo, nas exposições Encompassing the Globe (Smithsonian Institution, Washington D.C., 2007), 360° Ciência Descoberta (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2012), As Flores do Imperador (Fundação Calouste Gulbenkian, Lisboa, 2018) e Três Embaixadas Europeias à China (Museu do Oriente, Lisboa, 2019).

 

 

Em Portugal, existem dois museus botânicos: o Museu Botânico do IPBeja e o Museu Botânico da Universidade de Coimbra, embora o Museu Nacional de História Natural e da Ciência (Lisboa) também mantenha uma notável exposição [Plantas e Povos] constituída por matérias-primas e artefactos que pertenciam ao extinto Museu Agrícola do Ultramar [Instituto de Investigação Científica Tropical].

A coleção do museu possibilita que se conheça parte significativa do uso cultural das plantas em Portugal através de uma visita à sala de exposições e ao acervo (visitável, com marcação prévia). As visitas podem ser acompanhadas por mediadores educativos do museu, que proporcionam uma experiência mais significativa, sendo todas estas atividades gratuitas.

Os catálogos das exposições de longa duração, além da versão tradicional impressa, também têm uma versão em braile, tradicionalmente apoiada pela Ordem de Malta, o mais pequeno estado da comunidade internacional com o qual Portugal mantém relações diplomáticas.

 

 

Projetos desenvolvidos

O museu organizou três encontros internacionais sobre violetas, um em Beja (2007) e dois em Lisboa (Museu Nacional de História Natural, 2014; Fundação das Casas de Fronteira e Alorna, 2017) contribuindo, assim, para divulgar um património vegetal em risco de extinção. Embora as violetas, em especial os bouquets, estejam presentes na memória viva de muitos, estas plantas deixaram de ser comercializadas, apenas se encontrando fugazmente. Trata-se de um exemplo de como as plantas cultivadas se podem extinguir por ditames da moda ou do tempo.

Quem hoje conhece as violetas-de-parma, tão referidas na literatura europeia do século XIX e início do século XX?

Um projeto desenvolvido no museu e financiado pela Fundação Portuguesa para a Tecnologia permitiu-nos conhecer o período vitoriano sob uma inovadora perspetiva botânica, ou seja, estudar que alterações socioeconómicas ocorreram durante aquele longo período e que tiveram as plantas como base. Recordemos as emblemáticas fábricas de tecidos de algodão, sempre ligadas à Revolução Industrial inglesa; a guta-percha para as bolas de golfe; o papel de algodão e as reformas postais que criaram os primeiros selos; as folhas do nenúfar-gigante-do-amazonas que serviram de modelo ao célebre Palácio de Cristal, onde se apresentou a primeira grande exposição universal e que, posteriormente, foi replicado em várias cidades europeias, como no Porto (dele restam apenas os Jardins do Palácio de Cristal); a transferência da borracha e da quineira, da América do Sul para o Sudeste Asiático; a introdução do chazeiro na Índia e no Ceilão, entre tantos outros exemplos.

 

 

Foi também no museu que, durante sete anos, esteve o primeiro exemplar do pinheiro-wollemi [Wollemia nobilis W.G.Jones, K. D.Hill & J.M.Allen] introduzido em Portugal. A história desta planta é singular, já que é um fóssil-vivo, ou seja, apenas se conhecia através do registo fóssil até ter sido descoberto por um botânico amador, durante um dos seus passeios, num vale isolado, perto de Sydney. Aqui, um grupo restrito de plantas encontrou refúgio durante milhões de anos. No seu habitat natural existem apenas cerca de 100 árvores adultas, das quais se fizeram clones, posteriormente vendidos durante um leilão da Sotheby’s. Esta foi a primeira vez que esta famosa leiloeira vendeu seres vivos. O exemplar adquirido pelo museu foi classificado pela Autoridade Florestal Nacional como Árvore de Interesse Público e, posteriormente, oferecido à Câmara Municipal de Beja.

 

Novidades para 2023

A partir de fevereiro de 2023, o Museu Botânico irá ser a sede da primeira Cátedra UNESCO dedicada à Botânica, em especial à Etnobotânica [UNESCO Chair in Ethnobotany and the Safeguard of Plant-Based Heritage], que desenvolverá projetos educativos e de investigação científica não apenas em Portugal, mas em parceria com outras instituições portuguesas, de países de língua oficial portuguesa e estrangeiras, como a Universidade de Harvard.

 

Horário de abertura do Museu Botânico:
9h30-12h30 |14h30-17h (dias úteis).

 

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