O marmelo era já conhecido dos antigos Gregos e crescia como arbusto espontâneo desde a Turquia até ao Norte do Irão e à Transcaucásia. Hipócrates (460-377 a. C.) recomendava-o como remédio adstringente do aparelho digestivo. Mais tarde outro grande médico da antiguidade, Dioscórides (40-90 d. C.), regista uma receita de óleo de marmelo que era aplicado em feridas com prurido, infetadas ou alastrantes. Teve durante muito tempo lugar de destaque na medicina antiga, utilizando-se mesmo como antídoto de venenos. Atualmente, o marmelo perdeu um pouco a reputação que tinha na antiguidade. No entanto, não deixou de ser utilizado para os mesmos fins que nos tempos de Hipócrates e Dioscórides.
As maçãs de ouro do Jardim de Hespérides, representado no alto relevo do Templo de Zeus, em Olímpia, em 450 a.C., assemelham-se muito aos marmelos. Durante muito tempo, estes belos e perfumados frutos foram apreciados mais pelo seu aroma do que pelas suas propriedades medicinais ou alimentares.
Era também comum fazer-se oferendas de marmelos aos Deuses. Para o povo, oferecer um marmelo era uma prova de amor, tanto que no séc. XV oficializou-se através do decreto de Sólon a utilização do marmelo nos rituais nupciais.
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Descrição, habitat e cultivo
Existem duas variedades: o marmelo (Cydonia vulgaris Pers.) e a gamboa (Cydonia oblonga Miller). Ambas são muito semelhantes, sendo mais comum consumir-se a gamboa crua, enquanto o marmelo consome-se cozinhado ou em geleias e marmeladas. No Brasil são conhecidos por pomo-duro, pomo-de-vénus, em inglês dá-se o nome de quince, em francês coing e em espanhol membrillo.
É uma árvore de folha caduca, da família das rosáceas que chega a atingir 8 metros de altura. Tem folhas ovais, cinzento-esverdeadas, flores rosadas ou brancas. Os seus frutos são periformes, amarelos de aroma doce que estão prontos a colher no fim do verão.
É nativo do centro e sudeste asiático, sendo no entanto muito cultivado em toda a região mediterrânica, especialmente em Creta. No nosso país cultiva-se um pouco por toda a parte, aparecendo também como árvore subespontânea em sebes, valas e matas no Centro e Sul do Continente, sendo muito cultivado para fabrico de marmelada. Prefere solos ricos e húmidos. Utilizam-se principalmente os frutos e as sementes podendo também utilizar-se as flores na culinária e em banhos relaxantes.
Componentes
O fruto contém taninos, pectinas, sais minerais, óleo gordo, vitaminas do complexo B e C. As suas sementes contêm cerca de 20% de mucilagem, glicósidos cianogénicos (incluindo amigdalina), óleos e taninos.
Propriedades
Tem ação emoliente (amacia e acalma a pele e as mucosas inflamadas) e antidiarreica devido às pictinas e mucilagem, devido ao alto teor em taninos. A polpa das sementes é bastante adstringente (contraí os tecidos, os capilares, os oríficios e tende a diminuir as secreções das mucosas). As plantas adstringentes são quase sempre anti-hemorrágicas e podem provocar obstipação.
É útil em inflamações gastrointestinais, síndrome do colón irritável, constipações e bronquites. O fruto e o seu sumo podem ainda ser utilizados como elixir oral ou gargarejo contra aftas, problemas de gengivas e dores de garganta.
Quando cozinhado, o fruto perde grande parte da sua adstringência. O xarope de marmelo é recomendado como bebida digestiva e ligeiramente adstringente.
Externamente, utilizam-se as sementes em inflamações cutâneas, queimaduras e hemorróidas. O marmelo cozido é um fruto seguro contra as diarreias infantis.
As flores são comestíveis e podem utilizar-se em saladas e na confecção e decoração de diversos pratos.
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