Frutícolas

Uma tradição de outono

REBOLA CABACINHA, REBOLA CABAÇÃO

As cabaças, são o fruto de uma trepadeira muito vigorosa (Lagenaria siceraria), muito fácil de cultivar no jardim ou na horta.

Uma das estórias que recordo da minha infância era contada com ternura pela minha avó materna e chamava-se A velhinha e a cabaça. Lembro-me bem como a tamanha fantasia desta história me deixava intrigada: nesta fábula, uma velhinha que vivia na floresta decidiu ir visitar a sua filha à cidade para celebrar o seu casamento. Para lá chegar, precisava de percorrer um longo trilho e, impreterivelmente, cruzar-se com uma matilha de lobos que por lá habitava. Arriscando, a senhora tomou caminho e, perante um lobo, acordou com este que a poderia comer na condição de o poder fazer apenas no regresso a casa, depois de esta se alimentar fartamente no casamento da sua filha. Para o regresso, e de forma a evitar a tragédia, a filha entregou uma cabaça à sua mãe, aconselhando-a a regressar dentro da cabacinha, rebolando pela floresta até casa. A velhinha assim o fez, enrolou-se bem dentro da cabaça e, perante um novo encontro com o lobo, ela responde “Eu não vi velha nem velhinha! Não vi velha nem velhão. Rebola cabacinha, rebola cabação!”.

“Mas, afinal, o que seria uma cabaça?”, questionava-me eu. “E como caberia uma senhora dentro de uma coisa dessas?” Se, enquanto criança, estas questões inocentemente nos surgem, e as explicações não nos fazem sentido, em adulta, se respondem com mais detalhe, e agora que ouvi a minha mãe recontar a estória aos meus sobrinhos, quis saber um pouco mais sobre as cabaças que via penduradas pelas redes e muretes do Ribatejo, nesta altura do ano.

As cabaças-comuns são o fruto da planta Lagenaria siceraria, pertencente à família das Cucurbitacea, da qual também fazem parte a abóbora e o melão. Trata-se de uma trepadeira de crescimento vigoroso que se desenvolve preferencialmente com suporte físico (tutores, treliças, muros ou redes) e cujos ramos se podem desenvolver até 10 m de comprimento. Depois de secarem, as cabaças tornam-se ocas e impermeáveis, o que ancestralmente as tornou muito apetecíveis para conter líquidos. A cabaça terá sido das primeiras plantas a ser cultivada no mundo e, em meio rural, ainda faz parte da memória coletiva das pessoas, estando presente na

memória das gerações dos nossos pais e avós.

Como produzir e colher

Reproduzida por semente, pode ser cultivada em qualquer clima desde que livre de geadas e temperaturas muito baixas. Idealmente, semeia-se de fevereiro a maio
em pleno sol e em qualquer tipo de solo, embora prefira solos ricos em matéria orgânica e permeáveis.

O espaçamento recomendado entre as plantas varia bastante com a variedade cultivada podendo ir de 2 a 4 m entre as linhas e de 1 a 3 m entre as plantas. Para este fim, o fruto deve ser colhido maduro e ser deixado a secar durante um período de aproximadamente seis meses. Neste espaço de tempo, o interior da cabaça seca, as sementes soltam-se dentro da cabaça e o exterior torna-se uma casca castanha, lisa e rígida. As cabaças podem ter diferentes formas e tamanhos, mas, no geral, têm um formato piriforme, o que potencia a sua utilização para diferentes usos.

Usos

As características da cabaça tornam-na uma superfície de trabalho muito semelhante à madeira pelo que podem ser utilizadas diferentes técnicas para a adornar como, por exemplo, a gravação, o recorte ou a pintura. Depois da sua lavagem, faz-se uma perfuração da base para retirar as sementes e limpar o interior, e é precisamente a partir daqui que ficam prontas para os diferentes fins. Dependendo do trabalho feito, a posteriori poderão ser utilizadas como recipientes de bebidas, lanternas, instrumentos musicais, boias, máscaras, etc.

Utilizar as cabaças como peça central de uma mesa, juntamente com outros materiais orgânicos, como galhos, flores secas, abóboras e folhagens, irá criar uma atmosfera calorosa e convidativa – um cenário perfeito para celebrar o outono e juntar os amigos e família para um magusto.