Quando a botânica se alia à arte.
O desafio que assumimos para este ano 2025 traduz-se na sugestão aos leitores, em cada edição da revista, de diferentes espécies, explorando um pigmento diferente e um jardim, e assim conciliar a botânica com a arte dos jardins.
Os pigmentos são testemunhos da nossa História, contam-nos as transformações culturais, artísticas e científicas ao longo dos séculos. Desde os tempos mais remotos, quando as primeiras pinturas rupestres foram feitas com o ocre, até à sofisticação das tintas modernas, os pigmentos têm desempenhado um papel fundamental na nossa relação com a arte e a cor. O fascínio de trabalharmos com plantas é explorar estes pigmentos com arte através das flores.
Este mês, a cor eleita é o amarelo, tendo como fonte de inspiração as composições florísticas dos jardins de Giverny, abertos ao público de abril a novembro, localizados na Normandia, norte de França. Giverny é uma pequena vila onde o pintor impressionista Claude Monet (1840-1926) viveu e trabalhou por mais de 40 anos. Hoje, Giverny é um destino turístico que continua a ser um tributo ao artista que transformou esta paisagem numa obra de arte eterna.
Veja o vídeo:
Na história da arte dos jardins, as flores de cor amarela têm uma simbologia e uma importância associada ao sol e à luz, e têm sido admiradas ao longo dos séculos pela sua estética. No mundo da botânica, os pigmentos existentes nas plantas produzem uma gama de cores através do espectro. No caso das flores de cor amarela é o químico carotenoide que produz as cores amarelo, vermelho, laranja. Associamos sempre a cor da flor à componente estética, mas as cores vivas das flores, assim como outras das suas características, como a textura e a fragrância, ajudam a atrair pássaros, abelhas e outros polinizadores, promovendo a polinização.
A abertura anual ao público do jardim de Giverny, em abril, é marcada por um amplo tapete de bolbos, onde se destacam os narcisos amarelos. Na primavera também uma vasta extensão de goiveiros de flores douradas e amarelas pálidas (Erysimum cheiri) realça as árvores plantadas em frente à casa. De destacar herbáceas do género Coreopsis, que se caracterizam por flores amarelas brilhantes que iluminam o jardim, representando um exemplo da forma como Monet gostava de usar cores intensas e contrastantes para criar atmosferas dinâmicas e vibrantes. As herbáceas do género Hemerocallis, com as suas flores amarelas, também são uma presença frequente neste jardim. Estas plantas apresentam flores grandes e vistosas e oferecem um contraste interessante com outras flores que permanecem em plena floração por mais tempo. Outra flor amarela que se destaca nos jardins de Giverny é a margarida-amarela (Rudbeckia hirta L.), esta planta acrescenta um toque de cor forte e alegre ao jardim, sendo uma das flores mais marcantes no verão. Monet também gostava de cultivar girassóis, que se caracterizam pelas suas flores grandes.
NARCISSUS L.
Bolbo com nome comum de narciso, o seu género botânico pertence à família Amaryllidaceae. As cores das suas flores variam entre o amarelo e o branco. A sua origem é o Mediterrâneo e partes da Ásia Central e a China continental, mas tem cultivares ornamentais difundidas por várias partes do mundo.
ERYSIMUM × CHEIRI (L.) CRANTZ
Planta perene, lenhosa na base, que mede entre 20 e 60 centímetros. O seu nome vulgar é goiveiro e pertence à família das Brassicaceae. Encontra-se presentemente difundida por toda a Europa, onde é uma espécie introduzida.
COREOPSIS L.
Planta que apresenta uma ramagem densa e ramificada, com folhas espessas e lanceoladas de um verde vibrante. As flores são pequenas, como noutras plantas da família Asteraceae, encontrando-se reunidas em capítulos solitários, simples ou semidobrados, sobre longos pedúnculos. A floração estende-se por todo o ano, em climas quentes, mas é mais abundante no verão.
HEMEROCALLIS L.
Herbácea, perene, com rizoma. Espécies originárias da Eurásia, nativas da Europa, China, Coreia e Japão. As suas flores grandes e vistosas com grande variedade de formas tornam-nas muito populares. Existem cerca de 60 milhares de cultivares registados.
RUDBECKIA HIRTA L.
Conhecida por margarida-amarela, é originária da América do Norte. Pertence à família das Asteraceaee é uma herbácea bienal com altura entre 40 e 60 centímetros e com flores, de cor amarela, com folhas verde-escuras. Na primavera e verão produz inflorescências de coloração amarelo-ouro a ocre, com o centro elevado e de coloração arroxeada.
HELIANTHUS ANNUUS L.
O girassol (Helianthus annuus) é uma planta anual da família das Asteraceae, originária da América do Norte.
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Texto em colaboração com Ana Luísa Soares.
Referências bibliográficas
Willery, D. (Ed.) (2010). Giverney, the garden of Claude Monet. Paris: Les Editions Eugen Ulmer. ISBN 978-2-84138-465-5
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