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Entre mar e jardins

O antigo Hotel Atlântico localiza-se junto à estação do Monte Estoril. Em 2011, iniciaram-se as obras de requalificação, transformando-o num moderno hotel de 5 estrelas e apartamentos.

A excecional localização do edifício assim como a sua “vocação” (hotel e apartamentos) determinaram a intervenção paisagística.

Apresentando o hotel uma exposição Norte-Sul, surgem inevitavelmente duas conceções distintas: Jardins Norte e Jardim Atlântico, a sul.

Também os acessos foram objeto de um estudo viário e paisagístico. Através da inserção de uma rotunda e de jardins acabaram por melhorar significativamente a circulação na marginal.

Esta requalificação, além dos aspetos técnicos, teve o propósito de “assinalar artisticamente” a memória deste hotel histórico da Costa do Estoril.

Nos Jardins Norte, plantas de sombra e inertes

“Jardins Norte”

Os jardins a norte, virados para a Marginal, ladeiam a entrada principal, desenvolvem-se entre a antiga fachada agora renovada e uma estrutura de vidro e metal.

Estes são compostos por materiais inertes, rochas ornamentais e um calhau rolado que contrastam com a vegetação exuberante e de beleza singular.

A moderna fachada de vidro e metal, além dos inerentes objetivos estéticos, também assegura uma eficaz proteção aos ventos dominantes de norte, permitindo um microclima, garante do bom desenvolvimento das plantas aí instaladas.

Estes “claustros ajardinados” têm uma importante função visual, para quem está na receção do hotel ou nos pisos superiores.

Funcionam também para amortecer o ruído e controlar a poluição atmosférica, resultante da circulação viária na marginal.

Um “filtro ambiental”, mas também uma imagem de privacidade e exclusividade deste empreendimento hoteleiro e habitacional.

As árvores pontuam a fachada Sul do hotel

Jardim Atlântico (Sul)

O Jardim Atlântico, virado para o oceano, apresenta caraterísticas opostas aos anteriores, devido à exposição solar (Sul-Poente) e à influência marítima.

Estes fatores determinaram a escolha da vegetação, com vista ao seu bom desenvolvimento vegetativo e para garantir um uso intensivo do jardim, desde a primavera até ao outono, dadas as condições climatéricas aqui presentes.

Tratando-se de um “jardim de hotel”, as piscinas para adultos e crianças são o ponto central da composição; nesta zona costeira, elas não se substituem ao mar, mas constituem uma aproximação à cultura balneária aqui existente; diversas zonas de estar em madeira, esplanadas e bar alternam com amplas zonas relvadas; “dunas de vegetação” e alinhamentos de árvores, criam privacidade a quartos e zonas de estar e, a necessária sombra e biodiversidade.

Todo este jardim tem uma composição que se pretende muito atrativa, não só para quem o utiliza, mas também para quem o contempla das amplas varandas deste conjunto hoteleiro e habitacional.

Oliveira-bonsai no Jardim Atlântico

Marginal e acessos

A intervenção na Estrada Marginal teve como principal objetivo melhorar a circulação viária junto ao hotel. Isto garantiu um acesso em segurança e a inversão de marcha no sentido Cascais-Lisboa.

Em consequência, o novo traçado das vias levou à reformulação dos separadores centrais, surgindo assim a rotunda e todos os jardins próximos desta.

No troço fronteiro ao hotel, o tapete betuminoso foi substituído por calçada de cubos de granito rosa; nos passeios, surgiram as ondas do oceano em calçada branca e preta; a vegetação, composta por escultóricas oliveiras-bonsai e outras plantas singulares, teve o objetivo de assinalar o hotel, mas também o de tornar a circulação na marginal mais “atrativa” e prazerosa.

Vegetação

A vegetação a utilizar será muito distinta entre os jardins virados a norte e a sul. No primeiro, a sombra foi o fator limitante.

Já no segundo, a forte insolação e os ventos marítimos carregados de sal, especialmente durante os “temporais de sudoeste”, foram e são os elementos determinantes para a escolha da vegetação.

Outra condicionante é o facto de este jardim ser construído sobre a garagem do hotel.

Um jardim suspenso sobre o Atlântico, na cobertura das zonas técnicas, constitui um enorme desafio dadas as limitações impostas, em termos de drenagem, das cargas admissíveis, do tipo de solos e da escolha da vegetação.

No entanto, o resultado final é surpreendente e compensador; “conquistámos” um jardim, em oposição a uma superfície árida, sem conforto para a vida no exterior.

A vegetação mediterrânica no Jardim Sul define usos e conceitos

Quanto à vegetação utilizada, é diferente nos jardins a norte e a sul. No jardim a norte verifica-se uma utilização maciça de oliveiras, pinheiros mansos, carvalhos, aroeiras, medronheiros e algumas exóticas.

Nas zonas protegidas pela “fachada-cortina”, surgem os fetos arbóreos, os Acer palmatum, Strelitzia nicolai (falsa-bananeira) e outras espécies de sombra.

No jardim a sul, a vegetação tem caraterísticas mediterrânicas, mas também surgem exóticas há muito introduzidas na nossa paisagem: pequenas palmeiras, jacarandás; Erythrina crista-galli L. (eritrina crista-de-galo); Lagerstroemia indica (árvore-de-júpiter); nos andares arbustivos, predominam os alecrins rastejantes, as alfazemas e as gramíneas.

Os relvados são à base de gramíneas, garantindo uma boa capacidade de utilização e uma fácil manutenção nos meses de verão.

Esta intervenção paisagística foi muito abrangente, desde a requalificação na Estrada Marginal, aos jardins que ladeiam o edifício, assumindo estes diversos papéis numa lógica ambiental e sustentável, com vista a oferecer ao visitante, “memórias” da nossa paisagem e cultura portuguesas.

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