As plantas, como seres vivos que são, fazem parte de um ecossistema vasto que inclui muitos organismos prejudiciais mas também muitos organismos auxiliares.
O que são organismos auxiliares?
São todos os que auxiliam o homem na atividade agrícola ou paisagística, defendendo as plantas de pragas e/ou doenças. A maioria dos auxiliares que podemos ver em jardins são insetos, como as joaninhas, as crisopas, as vespas parasitoides, etc. As aranhas, não sendo insetos, são também bastante comuns e desempenham um papel muito importante.
A importância da presença destes organismos no jardim ou na horta
É altamente desejável já que muitas vezes tornam desnecessária a utilização de pesticidas ou outras intervenções menos corretas com o ambiente. A sua presença é muito representativa da riqueza de biodiversidade de um sistema.
A biodiversidade nos jardins
Os jardins são frequentemente espaços muito artificiais, com demasiadas plantas exóticas e sem biodiversidade. Muitas vezes existe demasiada preocupação em controlar as infestantes, havendo muito pouca “desordem”. A biodiversidade gosta desta “desordem”, gosta de variedade.
Este fenómeno nota-se particularmente bem em jardins urbanos, envolvidos por zonas edificadas, com pouca variedade de espécies vegetais. As pragas desenvolvem-se melhor em jardins urbanos relativamente a plantas iguais em zonas rurais. A razão é a menor quantidade de auxiliares e os tratamentos com inseticidas que por vezes se realizam em ambiente urbano.
Mas tal como transformamos a paisagem para planear e desenvolver um jardim, podemos intervir para favorecer a espécies que nos ajudam a controlar pragas. Para que os auxiliares se mantenham num jardim é necessário criar condições para tal, é necessário e importante saber quais são as espécies mais importantes e quando costumam aparecer, que plantas preferem habitar, etc. O espaço do jardim deve ser entendido como um ecossistema, que ao mesmo tempo seja esteticamente agradável e que forneça as condições necessárias para que os auxiliares sejam atraídos e aí permaneçam.
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Quais os insetos mais importantes para o jardim?
No caso dos insetos, vamos identificar os principais e mais comuns auxiliares que surgem de forma espontânea num jardim ou horta.
Crisopas
São insetos delicados em que apenas as larvas são predadoras de vários tipos de pragas, desde afídeos, ácaros, cochonilhas, etc. Os adultos alimentam-se de néctar e pólen em flores, põem os ovos perto de colónias de presas e costumam voar de noite e são atraídos pelas luzes das casas.
Joaninhas
Existem muitas espécies, mas muitas têm como presa preferencial os afídeos. As joaninhas têm 4 estados: ovo, larva, pupa e adulto. As larvas são o estado mais útil dado que são elas que comem mais afídios.
Os adultos e as larvas são bastante diferentes, o que faz com que muitas vezes as larvas sejam mortas porque são confundidas com insetos prejudiciais.
Vespas parasitoides
Estas vespas são auxiliares muito pequenos que põem os seus ovos no interior do hospedeiro. A larva da vespa desenvolve-se no interior do hospedeiro e no final emerge uma vespa perfeitamente formada, pronta a atacar a próxima vítima. Raramente conseguimos ver a vespa em si, mas os afídios parasitados são fáceis de identificar. Estes incham e ficam dourados e a este estado chamamos múmia. Os parasitoides são muito eficazes no controlo de algumas pragas devido ao facto de num curto período de tempo conseguirem pôr muitos ovos.
Apesar das características particulares de cada um, os grupos de auxiliares apresentados beneficiam com a presença de pólen e néctar perto da sua fonte de alimento principal, a praga. As fêmeas que se alimentam de pólen e néctar conseguem pôr mais ovos e portanto originar maiores número de auxiliares.
Sirfídeos
Apesar de se parecerem com abelhas ou vespas, os sirfídeos são moscas. Têm um voo muito característico já que conseguem pairar em pleno ar. Os adultos alimentam-se de néctar e pólen e fazem as posturas nas colónias de afídeos.
Como atrair insetos auxiliares para o jardim e para a horta?
Num jardim, é fácil fornecer pólen e néctar aos auxiliares, bastando para isso plantar espécies produtoras.
Alisso – A Lobularia maritima é um excelente exemplo que, em plena floração, atrai grandes quantidades de insetos.
Margaridas ou malmequeres – A maioria das asteráceas (margaridas ou malmequeres) são também muito boas opções para este fim. O truque é criar zonas ou manchas de plantas que atraem os insetos auxiliares. Além disto é importante garantir a presença de flores durante todo ano, o que pode ser difícil se contarmos apenas com espécies anuais ou vivazes.
Importância das sebes
As sebes têm aqui um papel muito importante dado que nos permitem fornecer alimento na forma de pólen e néctar, ao mesmo tempo que fornecem abrigo aos auxiliares.
Durante o inverno, muito insetos hibernam em arbustos perto de fontes de alimento e o mesmo acontece no verão, quando alguns auxiliares se abrigam durante as horas mais quentes do dia.
As espécies autóctones são ideais para atrair auxiliares, uma vez que estes insetos estão perfeitamente adaptados às mesmas. Além disso, existem na flora portuguesa muitas espécies de grande qualidade estética e adaptadas ao nosso clima.
As sebes deverão sempre que possível ser variadas para fornecer vários tipos de alimento e em alturas diferentes do ano. Além de abrigo, pólen e néctar, algumas sebes fornecem presas alternativas aos auxiliares. Um exemplo é o loendro (Nerium oleander) que hospeda o afídeo Aphis nerii. Esta espécie apenas ataca o loendro e a dipladénia. Na primavera é frequente observar grandes populações de Aphis nerii nos rebentos jovens e nos botões florais. Estas colónias, por sua vez, atraem auxiliares que se alimentam dos afídios.
Plantas anuais ou hortícolas
Algo muito parecido pode conseguir se com espécies anuais ou hortícolas. Na agricultura biológica é frequente a utilização de favas com um objetivo muito parecido com o dos loendros. As favas são atacadas por um afídio específico, Aphis fabae, que prefere alimentar-se de leguminosas e por isso não constitui ameaça para as maioria das nossas ornamentais ou hortícolas.
Podem semear-se manchas de favas que, ao crescer, vão atrair Aphis fabae e este vai estabelecer colónias antes que haja colónias de afídios nas plantas que queremos proteger.
As colónias de afídios nas faveiras vão depois, atrair auxiliares cedo, que é o que realmente interessa. Esta técnica tem várias vantagens: a primeira é atrair os auxiliares para perto das plantas a proteger, as favas enriquecem o solo, uma vez que capturam o azoto atmosférico, e ainda produz favas!
Criação de pontos de água
Além das plantas atraentes, é muito importante contar com a água para atrair auxiliares. Criar pontos de água permite a presença de alguns insetos predadores como as libelinhas e libélulas, mas também de anfíbios, répteis e aves.
O essencial é criar um ecossistema que forneça as melhores condições possíveis aos seus habitantes para que estes cumpram as suas funções com eficácia. Um jardim com biodiversidade torna-se muito mais interessante e interativo, com maior dinâmica ao longo do ano e, no geral, mais apelativo.
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Foto: Joana Roque
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