Jardins botânicos da Universidade de Lisboa (I)
Das Estufas do Farrobo à Cerca do Palácio
Criado em 1906, durante o reinado de D. Carlos I (1893-1908), como dependência do Instituto de Agronomia e Veterinária, como objetivo de apoiar o ensino da Agronomia Tropical, o Jardim Botânico Tropical foi alvo de renovações de ordem geográfica e administrativa. Inicialmente denominado Jardim Colonial foi, em 1907, instalado nas antigas estufas, pertencentes ao conde de Farrobo, na Quinta das Laranjeiras, e respetivos terrenos anexos (onde atualmente se situa o Jardim Zoológico). Em 1914, foi transferido para a cerca do Palácio de Belém, localização que mantém até hoje.
Partilha uma centralidade que inclui outros importantes espaços culturais da capital, tais como a Praça do Império, o Museu Nacional dos Coches, o Centro Cultural de Belém, o MAC/CCB Museu de Arte Contemporânea, o Museu da Marinha, o Museu Nacional de Arqueologia, o Planetário Calouste Gulbenkian, o Museu da Presidência da República, o Museu Nacional de Etnologia, o MAAT – Museu de Arte, Arquitetura e Tecnologia e a Igreja da Memória, entre outros locais.
O jardim estende-se numa encosta, virada a sul, ao longo de 800 metros de comprimento. Do rio Tejo apenas o separa o Jardim da Praça Afonso de Albuquerque. Por ser rico em água e ser caracterizado por um microclima privilegiado na cidade, foi enriquecendo o seu espólio comum a grande diversidade de espécies tropicais e subtropicais oriundas das mais diversas regiões do globo, das quais sobressaem palmeiras, cicas, figueiras, gingkos, dragoeiros e muitas fruteiras.
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Ecos do passado, a influência das exposições no jardim
Em 1940, de 23 de junho a 2 de dezembro, por ocasião da Exposição do Mundo Português, este jardim acolheu a Secção de Etnografia Colonial, a cargo do capitão Henrique Galvão (1895-1970). Após este evento, o jardim esteve encerrado para obras de remodelação, reabrindo em 1949.
Em 1951, recebeu a designação de Jardim e Museu Agrícola do Ultramar e, em 1974, passa a estar integrado na Junta de Investigações do Ultramar, que viria a dar origem, em 1983, ao Instituto de Investigação Científica Tropical (IICT).
No final do século XX, com o encerramento da Exposição Internacional de Lisboa de 1998 (EXPO’98), algumas das estruturas que pertenciam ao Pavilhão de Portugal, como o pedestal e busto de Luís de Camões, posteriormente completado com uma réplica da Gruta dos Amores, o Pavilhão de Jardim e a vedação em ferro forjado a ladear o lago, foram colocadas no Jardim de Macau, um espaço de características muito particulares criado após a exposição do Mundo Português. Contornado por sebes de bambus, este jardim inicia-se no Arco de Macau, sendo o remate final assinalado pela Portada Lua, erigida em finais da década de 1990.
Diversidade botânica e património cultural
Atualmente, os sete hectares do jardim caracterizam-se pela diversidade botânica, pelo traçado dos caminhos, pelo seu património edificado e pela estatuária. Do edificado é de realçar os testemunhos do seu interessante passado, onde se inclui o Palácio dos Condes da Calheta (século XVII), a Estufa Principal em ferro (1914), vocacionada para acolher espécies africanas, asiáticas e americanas, e as duas estufas do chá e do café (1947), de menor dimensão. Para a Exposição do Mundo Português, e além do já mencionado Arco de Macau, foram edificadas construções, umas provisórias, entretanto demolidas, e outras que ainda hoje permanecem no jardim, tais como: a Casa do Chá, então chamada Restaurante Colonial, a Casa da Direção, antes denominada Casa Colonial, e a Casa do Leão, espaço que durante a referida exposição albergou um leão vivo.
Em relação à estatuária, distribuída pelo jardim, destacam-se as seguintes obras: Morte de Cleópatra, de Giuseppe Mazzuoli (século XVIII), Caridade Romana, de Bernardo Ludovici (século XVIII), e Éolo, Deus dos Ventos, da oficina de Machado de Castro, escultor da Casa Real. Além destas peças, é possível observar 14 bustos que representam povos das antigas colónias portuguesas em África e na Ásia, da autoria de Manuel de Oliveira, executados por ocasião de Exposição do Mundo Português.
O traçado orgânico do jardim integra alamedas com palmeiras, em que se destaca a Alameda das Washingtónias, estufas e lagos. A coleção de plantas tropicais e subtropicais recria os ambientes exóticos de onde são provenientes. A existência de plantas como o cafeeiro, a pimenteira e a caneleira faz sentir os aromas e cores de outros continentes.
O Jardim Botânico Tropical apresenta um elevado número de espécies (cerca de 600, distribuídas pelos espaços verdes e estufas), maioritariamente oriundas de regiões tropicais e subtropicais. Em resultado da sua ligação ao ensino agrícola tropical, o jardim integra uma importante coleção de plantas com interesse económico, como fruteiras: anoneira, bananeira, feijoeira, goiabeira, jujuba, macadâmia, nogueira-pecã, pitangueira, cafeeiro, baunilha, bem como especiarias e diversas espécies ornamentais.
Monumento Nacional, modernização e futuro
O Jardim Botânico Tropical foi classificado, em 2007, como Monumento Nacional pelo Ministério da Cultura. Tutelado, até 2015, pelo Instituto de Investigação Científica Tropical e instituições que o precederam, a gestão do Jardim Botânico Tropical é, atualmente, da responsabilidade do Museu Nacional de História Natural e da Ciência, da Universidade de Lisboa. Em 2019, o jardim foi alvo de um importante projeto de recuperação por parte da Reitoria da Universidade de Lisboa, com um projeto do atelier de arquitetura paisagista TOPIARIS, constituindo hoje um notável espaço científico, educativo, cultural e de lazer.
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Texto de Ana Luísa Soares e Ana Raquel Cunha, com a colaboração de Maria Cristina Duarte e César Augusto R. Garcia.
Referência bibliográfica
Soares, A. L. (Ed.). (2021). O arvoredo, os jardins e parques públicos de Lisboa (1755-1965) —Três séculos de património botânico, paisagístico e cultural (1ª Ed.). Lisboa: Câmara Municipal de Lisboa. ISBN 978-989-53143-8-6
Duarte, M. C. (coord.), Moura, I., Pinheiro, M., Nunes, M. C.& Palminha, A. (2016). Plantas do Jardim Botânico Tropical. Instituto de Investigação Científica Tropical, Universidadede Lisboa. 223 pp. ISBN 978-989-742-021-4