Jardins & Viagens

Jardins do Vaticano: natureza e espiritualidade

O Vaticano é uma Cidade-Estado, soberana, “sacerdotal-monárquica”, que existe desde 1929 aquando do Tratado de Latrão.

É sede da Igreja Católica, ocupa um território murado, próximo da margem direita do rio Tibre, dentro da cidade de Roma, capital da Itália, com aproximadamente 44 hectares e com uma população de cerca de 800 habitantes.

O Vaticano é governado pelo bispo romano, o Papa, que aqui tem residência fixa, no Palácio Apostólico. Os jardins desenvolvem-se em metade desta área, ou seja, ocupam cerca 22 hectares.

Jardins e Cúpula da Basílica de S. Pedro.

Arte e paisagem

Estes jardins envolvidos por muralhas a norte, sul e oeste, integram o conjunto monumental do Vaticano e são, desde a Idade Média, o paraíso terrestre para os Papas e demais entidades eclesiásticas.

No seu interior incluem-se a Rádio Vaticano, uma estação ferroviária, o Convento Mater Ecclesiae, o Palácio do Governo, a medieval torre de S. João, construída sobre o antigo traçado da muralha leonina, entre outros edifícios e equipamentos.

Datando do século XIII, o jardim existe enquanto tal, quando as vinhas e os pomares se estendiam a norte do Palácio Apostólico (uma das residências papais); é referido que, em 1279, o Papa Nicolau III plantou um “simbólico” pomar e delineou um pequeno jardim.

A reformulação dos jardins teve, no entanto, um forte impulso na Renascença e no período Barroco, estando decorados desde essa época com uma profusão de fontes e estatuária diversa.

O traçado serpenteante e suave dos arruamentos ao longo da colina, as grutas e fontes que estão dispostas ao longo destes, relacionados com factos históricos da Igreja Católica, assim como a existência de vários jardins de época (jardim “à italiana”, “à francesa”, “à inglesa” e “à americana”), tornam convidativo e aprazível o passeio nestas “vias sagradas”.

Os bosques de carvalhos e azinheiras ocupam as zonas mais declivosas, numa área de cerca de três hectares, contribuindo para a infiltração da água no subsolo, para a fixação da vida selvagem e a subsequente criação de zonas ecologicamente significantes, aqui consideradas uma regra basilar.

A flora é oriunda do mundo inteiro, está perfeitamente adaptada e é considerada, segundo os especialistas, um biótopo.

Século XII – evolução histórica

“Os jardins existem desde que Nicolau III (papa entre 1277 e 1280) deixou o Palácio de Latrão, em 1279, para residir no Vaticano, começando por plantar um simbólico pomar.

Onde hoje existem o Pátio do Belvedere e os restantes pátios dos Museus do Vaticano, teve lugar o Circo de Nero, onde os primeiros cristãos, incluindo São Pedro, foram sacrificados.

Segundo a tradição, Santa Helena (mãe do imperador Constantino I) espalhou simbolicamente a terra trazida do Gólgota (monte do Calvário, Jerusalém) para unir o sangue de Cristo com aquele derramado por milhares de cristãos primitivos que morreram sob a perseguição de Nero.

Palácio do Governo da Cidade-Estado do Vaticano.

Século XVI-XVII

No século XVI, a colina a norte da Basílica de São Pedro (Património Mundial da Humanidade) é transformada em terraços e jardins, atualmente designados pelos jardins do Belvedere e classificados pelos Pátios do Belvedere, da Biblioteca e da Pinha, ao estilo da Renascença italiana (pátios dos Museus do Vaticano).

O traçado e a composição dos jardins foi evoluindo, sofrendo também grandes transformações no século XVII, sob orientação do Papa Júlio II (216.º Papa da Igreja Católica).

A zona a oeste da Basílica de S. Pedro é atualmente designada como “os grandes jardins do Vaticano” e acolhe o jardim “à inglesa”, “à francesa”, o jardim italiano e o jardim americano, sendo estes quatro últimos de traçado regular e formal.

Destacam-se as zonas verdes envolventes da Villa Pio IV, do Palácio do Governo e toda a encosta poente desde a estação ferroviária até à Rádio do Vaticano.

Século XXI

Atualmente os jardins incluem fortificações medievais, edifícios e monumentos desde o século XIII, no meio de zonas verdes e de jardins desenhados sob vários estilos.

Fontes monumentais (fonte da Caravela, fonte da Águia, fonte da Concha) marcam diferentes épocas históricas; grutas artifi ciais sugerem a adoração da Virgem, esculturas marcam diversos locais, além da presença de árvores “especiais”, que são ofertas de países estrangeiros (por exemplo, uma oliveira oferecida pelo Governo de Israel).

As jóias do Vaticano

Fontes

Fonte da Águia.

A construção do aqueduto Acqua Paola, que ficou completo em 1612 (no tempo do Papa Paulo V), recuperando em parte o antigo aqueduto de Trajano, que abastecia Roma, possibilitou a existência de toda esta ornamentação dos jardins com fontes, tanques, lagos e jogos de água.

Fonte da Águia 1611

Junto ao mosteiro Mater Ecclesiae e à Pontifícia Academia das Ciências (Villa Pio IV-Casa do Bosque), localiza-se a célebre fonte da Águia, comemorativa do Concílio Ecuménico Vaticano I.

O seu nome deriva da majestosa águia em mármore, que ocupa o topo desta fonte-cascata, constituída por rochas, revestida com musgos, que formam nichos e cavernas, com dragões e outras estátuas.

Fonte da Galera

O seu nome deriva da peça em metal, uma galera, que se localiza no centro de um grande tanque em pedra, que, por sua vez, está adoçado à fachada do Edifício do Belvedere a norte dos jardins.

É a fonte mais original e complexa, pois deste navio jorram inúmeros jatos e jogos de água, de grande efeito decorativo e simbólico, revelando também um grande conhecimento de hidráulica à época.

Fonte da Concha

Esta fonte em pedra, como o nome indica, tem a forma de uma concha e das suas cascatas emana uma impressiva música aquática. Localiza-se junto à Estação Ferroviária.

Segundo as crónicas, o Papa Pio XI 1857-1939, afirmava que esta estação era a mais bela do mundo, não pelo edifício em si, mas pelo som das cascatas de água desta fonte.

Monumentos, grutas e estátuas

Estátua de S.Pedro.

Torre de São João Localizada num ponto alto, junto ao heliporto, está inserida na primitiva muralha leonina. Foi “residência de verão” do Papa João XXIII 1881-1963.

Gruta da Nossa Sra. de Lourdes 1902-1905

Esta gruta artificial, réplica da gruta de Lourdes, em França, apresenta a imagem da Virgem e localiza-se na praça do mesmo nome, perto do jardim francês.

Um local de oração e de grande simbologia para os católicos franceses. A presença mariana é uma constante nestes jardins.

Estátua de S. Pedro

Sobre uma “colossal coluna monolítica de mármore africano”, eleva-se a figura em bronze do apóstolo São Pedro, a abençoar os visitantes.

Palácio do Governo

Na proximidade da Basílica de São Pedro, surge este imponente edifício, que alberga o poder executivo da Cidade-Estado do Vaticano.

No jardim fronteiro à escadaria, surge o brasão vegetal do Papa Francisco, as chaves de São Pedro, além dos símbolos de Jesus, Maria e São José, “desenhados” com Helicrysum, Iresine rosa e Viola sp.

Jardim “à italiana”

Localiza-se num terraço junto à Rádio do Vaticano e adota o traçado regular e simétrico dos jardins romanos. Possui dois corpos iguais e simétricos, com uma composição à base de sebes de buxo e canteiros. O centro é ocupado por fontes.

Edifício PIO IV (Villa Pia ou Casa do Bosque) – Academia Pontifícia das Ciências

Este conjunto é referido como a jóia dos jardins do Vaticano; data de Pio IV (Papa entre 1559 e 1565) , embora iniciado pelo Papa Paulo IV (Papa entre 1555 e 1559); possui uma arquitetura renascentista, inspirada nas antigas villas romanas.

Compõe-se de um edifício principal e de uma galeria coberta em frente, separados por um pátio de forma elíptica, enriquecido por uma fonte com golfinhos.

À simplicidade da arquitetura contrapõe-se uma riqueza de esculturas e ornamentação das fachadas, com mármores coloridos, estuques e revestimentos mosaicos.

Estão aqui profusamente representadas cenas da mitologia clássica.

Convento Mater Ecclesiae

Este convento localiza-se na proximidade da fonte da Águia e na sequência do conjunto edificado da administração da Rádio Vaticano. É um edifício em tijolo, de quatro andares, no qual viveram “irmãs” de várias ordens religiosas, tendo no seu interior 12 células monásticas. Na proximidade, temos uma horta biológica, que abastece os residentes deste convento. Presentemente, é a residência oficial do Papa emérito Bento XVI.

Jardim “à inglesa”

Delimitado pela Avenida do Bosque, Avenida do Jardim Quadrado e, a sul, pela fonte da Águia, este jardim de cariz naturalista, com caminhos de traçado irregular, serpenteando a colina, possui uma composição só aparentemente desordenada, com árvores, falsas ruínas, estátuas e fontes.

A fotografia ilustra o Troço da muralha leonina, Edifício Rádio do Vaticano e Fonte da Águia.

Jardim francês

Inclui a fonte dos Tritões no centro de um jardim formal, com sebes em buxo, delimitando canteiro de flores ou relva.

Jardim quadrado

Fonte da Águia: encimada por uma águia em mármore, esta fonte-cascata, tem nichos e cavernas, com dragões e outras estátuas.

Visitar

É possível fazer uma visita guiada aos jardins do Vaticano. Os preços começam nos 32€. Saiba mais aqui.

Fotos: Elsa Severino

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